O ministério da Saúde realizou, nesta terça-feira (4), uma audiência pública destinada a debater a aplicação de vacinas contra a covid-19 em crianças entre 5 e 11 anos. A consulta pública, onde qualquer pessoa poderia apresentar “contribuições fundamentadas” sobre o tema, foi encerrada no último domingo (2).
Especialistas e representantes de entidades ligadas a imunização de crianças debateram a inclusão deste público no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19. Os telespectadores puderam participar da audiência ao enviar perguntas para o WhatsApp criado para o evento.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que não enviaria representantes para o evento, pois o seu posicionamento já é público e não teria o que contribuir para o debate. A Agência autorizou a utilização do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos no dia 16 de dezembro.
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Na fala de abertura, foram levantadas “inseguranças científicas” em relação a produção dos imunizantes em um curto espaço de tempo, especialmente sobre as vacinas de tecnologia RNA mensageiro. Segundo a secretária de enfrentamento à covid-19 do ministério da Saúde, Rosana Leite de Melo, foram feitas 99.309 contribuições na consulta pública. A maioria dos participantes que responderam ao questionário se manifestou contra a obrigatoriedade da prescrição médica para a aplicação do imunizante em crianças.
Em suas falas, os representantes da Pfizer reforçaram que as vacinas aprovadas emergencialmente não são experimentais, e atendem a todos os requisitos para a aplicação após as diversas fases de testes realizadas.
PublicidadeO médico Roberto Zeballos falou como representante da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), que também esteve presente. Zeballos questionou a eficácias das vacinas contra a variante Ômicron e afirmou que a nova cepa causa maior imunidade do que as anteriores.
O médico é conhecido por defender tratamentos sem eficácia comprovada. Em agosto de 2021, Zeballos publicou nas redes sociais um vídeo que afirmava que a variante Delta era menos agressiva do que a anterior, e que, portanto, daria para “tratar todo mundo em casa”.
Também representando a CCJ, a médica Roberta Lacerda apresentou gráficos com a informação de que houveram mais mortes nos períodos de maior isolamento social. Em agosto, a médica afirmou que as crianças teriam o tempo de vida reduzido em 30 anos por causa de câncer e doenças auto-imunes causadas pelas aplicações de vacinas.
Eu postulo que o tempo de vida dessas pequenas vítimas que sobrevivem será reduzido em 30 anos por causa do câncer e doenças auto-imunes.
As crianças sobrevivem cobiçosas em quase 100% sem tratamento.
ESTE É O PIOR CRIME DA HISTÓRIA HUMANA.— Dra. Roberta Lacerda (@DRobertaLacerda) August 21, 2021
O terceiro médico representando a CCJ, Augusto Nasser, afirmou que vacinar as pessoas no meio de uma pandemia seria “um erro científico”, já que impediria a formação de uma imunidade natural. Assim como os outros dois médicos, Nasser se manifestou contra a aplicação de vacinas em crianças.
Ao final do evento, foram respondidas perguntas feitas pelos telespectadores. Os questionamentos se concentraram em como a imunidade vacinal se compara com a adquirida após a infecção, os efeitos da covid-19 no desenvolvimento das crianças e os estudos realizados para a criação de um imunizante.
A deputada Bia Kicis comentou que, assim como ela, muitos médicos estavam sendo “demonizados” pela mídia. A deputada afirmou que não estava lá para fazer nenhuma “apologia a não vacinação”, e sim promover um debate que garanta o direito dos pais de decidirem sobre a imunização dos filhos. Bia Kicis, no entanto, tem se aliado desde o primeiro momento como aliada à postura de Jair Bolsonaro na pandemia de covid-19, e foi indiciada pela CPI da Covid por incitação ao crime.
Mais cedo, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, conversou com jornalistas na frente do ministério. Segundo Queiroga, o evento de hoje será “uma audiência como uma outra qualquer. Não tem novidade nenhuma”.
Questionado se seria possível vacinar as crianças antes do começo do ano letivo, o ministro considerou o tema como “espuma” em relação a questões que são secundárias em relação ao enfrentamento da pandemia da covid-19 e afirmou que “vacinação não tem relação com aula”. Queiroga não participou da audiência pública.
O ministro afirmou que amanhã (5) o ministério deverá divulgar o calendário para a imunização das crianças. A doses dos imunizantes devem começar a chegar a partir da próxima segunda-feira (10).
Desde que a Anvisa autorizou a aplicação das vacinas no público infantil, a imunização dessa parcela da população tem sido atacada e criticada por defensores do atual governo.
Deputados bolsonaristas compartilharam conteúdos falsos, com afirmações de que as vacinas seriam capazes de causar danos permanentes no corpo, como problemas de fertilidade e câncer.