Alguns dias antes da realização do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018 afirmei publicamente que votaria em qualquer dos candidatos que fosse para o segundo turno como alternativa ao senhor Jair Messias Bolsonaro. Não obstante minhas convicções políticas, votaria em Haddad, Cabo Dacíolo, Alckmin, Álvaro Dias ou Meirelles. Contribuir para que o senhor Bolsonaro não chegasse à Presidência da República era muito mais relevante no contexto vivenciado e diante das perspectivas desenhadas.
Sustentei, e sustento, que o “salvador da Pátria” antes de tudo é um bárbaro, um indivíduo que não compreende e não sustenta os valores mais elementares do convívio humano minimamente civilizado.
O inacreditável está presente diariamente no Brasil atual. A imprensa, organizações da sociedade civil e personalidades dos mais variados campos de atuação social gastam uma enorme energia para invocar os contornos civilizatórios mais elementares da vida em sociedade diante das contínuas presepadas palacianas.
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Esses são três trechos de um texto, denominado de PROFETA DA BARBÁRIE, que escrevi no dia 20 de junho de 2020.
Tudo indica que a barbárie instalada no poder central do Brasil não vê limites para as loucuras e desprezos, de todas as ordens, à inafastável dignidade do ser humano, de todos os seres humanos, de cada ser humano.
Com efeito, assisti estarrecido ao senhor Jair Bolsonaro rejeitar antecipadamente uma possível vacina contra o covid-19 (a “vacina do Brasil”, segundo o Ministro da Saúde), fruto da parceria entre o Instituto Butantan e a empresa chinesa Sinovac. A postura é adotada durante uma grave pandemia que contabiliza, no Brasil e no mundo, milhões de doentes e milhares de mortes. É imenso, indiscutivelmente imenso, o sofrimento humano decorrente da disseminação do novo coronavírus.
A conduta do senhor Bolsonaro, conforme uma multidão de análises políticas convergentes, está baseada na conjugação de dois elementos. Primeiro, numa disputa política com o Governador de São Paulo, João Dória (por quem não nutro a menor simpatia). Em segundo lugar, por um ranço, também de natureza política, com a China, o maior parceiro comercial do Brasil.
Curiosamente, o maior fornecedor estrangeiro de antibióticos para o Brasil é justamente a China . Ademais, “Anvisa concedeu certificações de boas práticas à farmacêutica chinesa Sinovac/A empresa está à frente da produção de uma das possíveis vacinas contra a Covid-19 em fase de testes no Brasil”. As referidas certificações foram concedidas em julho de 2020.
Merece destaque a fala do Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, acerca do fornecedor do que ele mesmo denominou de “a vacina do Brasil”: “O Butantan já é o grande fabricante de vacinas para o Ministério da Saúde, produz 75% das vacinas que nós compramos”, disse à Folha de S. Paulo.
Obviamente, a Anvisa terá que atestar a segurança, qualidade e eficiência de toda e qualquer vacina a ser utilizada segundo critérios técnicos consagrados. Não faz o menor sentido, sob os ângulos jurídicos, científicos, éticos e humanitários, interditar, por antecipação, pelas mais vis razões, uma potencial arma de peso contra o novo coronavírus e todos as angústias por ele causadas.
Não consigo qualificar adequadamente esse novo patamar alçado pela barbárie no Brasil. Vidas e sofrimentos de milhões de pessoas são submetidos de forma irresponsável aos desejos eleitorais e delírios políticos de alguém visivelmente incapaz do mínimo de empatia para com o próximo.
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