Ainda no governo Dilma foi lançado, em 2015, o Projeto Amazônia Conectada, hoje rebatizado de Programa Amazônia Integrada Sustentável. Sob responsabilidade do Exército e ao custo de mais de R$ 1 bilhão de reais, o ousado projeto pretendia levar internet aos municípios da calha do Rio Solimões no Amazonas, de Manaus até Tabatinga, na tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru. A opção técnica escolhida foi o lançamento de cabo de fibra ótica subaquático no leito do Rio Solimões.
Desde as audiências públicas, técnicos da área alertavam para a inviabilidade do modelo escolhido, sustentando que o leito do Rio Solimões é um leito em formação e que as dificuldades de lançamento, instalação e principalmente manutenção do cabo de fibra ótica seriam enormes e inviabilizariam o projeto.
Alertavam ainda que já havia experiência de lançamento de cabo de fibra ótica no leito do Rio Solimões pela Embratel para a travessia Careiro-Manaus, com constantes rupturas pela força das águas e com dificuldades de manutenção e custos tão altos que a opção é sempre lançar um novo cabo ao invés de reparar, solução que obviamente não seria razoável para uma distância tão longa como do Amazônia Conectada.
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A despeito de todos os alertas, o Exército Brasileiro insistiu no modelo, sustentando a conformidade dos testes de conceito realizados. Acontece, que os testes de conceito para lançamento do cabo no leito do Rio Solimões foram feitos no leito do Rio Negro e ambos têm características absolutamente diversas.
Assim, não há correlação técnica e aderência à realidade para os testes de conceito estarem sendo realizados num trecho do Rio Negro, rio de leito perene e sem grandes forças de arrasto, totalmente diferente da realidade do leito do Rio Solimões, rio de leite não perene e com grande força de arrasto e tantas outras características diferentes do Rio Negro. Coisas que todo cidadão deveria ter estudado e apreendido nas séries do curso primária.
PublicidadeO resultado óbvio foi que, passados mais de 5 anos, já foram enterrados 39,2 milhões de reais e a internet não chegou em nenhum município do Amazonas.
O Amazônia Conectada é uma aventura técnica e operacional ao custo de mais de R$ 1 bilhão de reais. Com milhões de reais já jogados no fundo do Rio sem nenhuma transparência e sem que ninguém seja responsabilizado pelo fracasso anunciado do projeto.
A imperícia, a teimosia e até mesmo motivos não republicanos fazem o Amazonas perder uma oportunidade histórica de levar internet e com ela comunicação, educação, medicina, cultura e informação para milhares de brasileiros moradores dos municípios da calha do Rio Solimões.
Todos os alertas foram feitos no sentido de demonstrar que o modelo ideal seria um cabo de fibra ótica posteado pela margem do rio, aproveitando a expertise do Programa Luz Para Todos, permitindo o acesso à internet aos ribeirinhos que não moram nas sedes das cidades e com custos e tempo de instalação e manutenção muito inferiores ao modelo escolhido.
No leito do rio, não tem moradores humanos, no leito do rio só tem peixes, tronco de arvores e bancos de barro e areia. Passar o cabo fibra óptica simplesmente pelo leito do rio é uma atitude de imperícia técnica, só quem atira com a pólvora alheia faz isso ou se propõe a fazer.
Sou entusiasta do projeto de chegarmos com cabo de fibra óptica em todos os municípios do nosso estado. Acredito que um projeto de tecnologia dessa magnitude pode mudar a realidade e queimar etapas de mudanças no processo econômica e social das pessoas nos municípios, nas comunidades e ao longo das margens dos rios, podendo-lhes proporcionar educação à distância, telemedicina de qualidade, maior transparência na gestão pública, com a interatividade, fiscalizações e denúncias de malversação do dinheiro público, através das mídias sociais e sistema de comunicações grátis.
O ministro Bruno Dantas, do TCU, apontou sérios problemas de governança no projeto e sugeriu reavaliar as próximas etapas, mas é hora também de responsabilizar aqueles que enterraram milhões de reais no Rio Solimões sem entregar até aqui internet em uma cidade sequer.