Os incêndios no Pantanal de Mato Grosso se alastraram no último mês por uma área equivalente a nove vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Segundo a bióloga e professora do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Cátia Nunes da Cunha, a área atingida pelas queimadas pode aumentar ainda mais, já que o clima permanece seco e o contingente para combater o fogo é pequeno.
Entre os grupos que têm atuado no combate aos incêndios há cerca de dois meses estão o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Corpo de Bombeiros, associações ligadas ao turismo e fazendeiros. De acordo com a professora, as queimadas ocorrem em lugares de difícil acesso, o que dificulta o trabalho das equipes, que atuam com equipamentos provenientes de doação e de campanhas de arrecadação. Para Cátia Nunes, faltam mão de obra e estrutura especializada para combater incêndios dessas proporções. Por isso, ela defende que as estruturas do Ibama de combate ao fogo sejam fortalecidas.
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Clima
Segundo a professora da UFMT, o clima seco e os ventos têm contribuído para que o fogo continue se alastrando. “A alta do rio Paraguai este ano foi de 2,1 metros, diferentemente dos quatro metros que a gente estava habituado. Isso é semelhante ao que aconteceu entre os anos de 1963 e 1973”, explica.
A temporada mais úmida, diz a bióloga, vinha contribuindo para a recuperação da fauna e da flora locais. Com o novo incêndio, esse processo foi interrompido. “É difícil a gente avaliar quantos anos levará para recuperar. A gente sabe que foram 46 anos de 1974 para cá, a gente viu esse saldo positivo na recuperação, mas ainda tinham muitas áreas que ficavam pobres em termos de diversidade”, explica.
Além da seca, ela afirma que perícias comprovam que houve focos de incêndio causados por acidentes, mas também por ação criminosa. “Quando tem uma seca muito forte, incêndios acontecem a qualquer hora. Não dá para a gente especificar se é de ordem natural, se é acaso, se é descuido ou se é intencional. Por isso, são importantes as perícias. Neste incêndio ocorreu de tudo”, aponta.
Segundo Cátia Nunes, o fogo traz perdas incalculáveis para diversos setores, como a produção agrícola, a diversidade da fauna e da flora e também para o turismo da região. “É muito desastroso. Você tem árvores que desaparecem totalmente e você só vê a marca no chão do contorno do tronco. É uma situação que eu nunca vi”, explica.
Outra preocupação é com as espécies raras que habitam a região, como as orquídeas que têm no Pantanal. “Essa população vinha se recuperando e agora queimaram de novo. Isso tem um tempo que a gente não consegue ainda estimar. Estamos numa situação de caos mesmo. Caos ambiental e social”.
Outra espécie rara que habita a região é a arara azul. “As atividades de conservação sempre tiveram uma preocupação com a arara, tínhamos um progresso na recuperação dessas populações e hoje a gente viu que está todo comprometido”. A bióloga explica que uma das fazendas onde havia uma área voltada para a recuperação da espécie foi acometida pela queimada, destruindo as árvores com ninhos.
Cátia explica que existem equipes estudando a mortalidade dos animais neste incêndio, mas que ainda não é possível ter uma noção real da proporção da perda na fauna local.
Para a professora da UFMT, o país precisa entender a questão ambiental como prioridade. “Não temos mais espaço para ignorar a questão ambiental, nós precisamos ser mais lúcidos e pensar que isso [os incêndios] pode ser o início de um cenário de mudanças climáticas. A falta de água é um problema seríssimo porque não temos como produzir água. O cenário vai ficando cada vez mais rigoroso, nós temos que ter um plano B”, defende.
Segundo a professora, está em curso no Brasil um desmonte da política ambiental. “Tinha algumas falhas, mas o desmonte que começou com o governo Temer se fortaleceu agora”, afirma.
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