Heitor Scalambrini Costa*
Existe uma estratégia clara dos defensores da energia nuclear para produção de energia elétrica, de minimizar os acidentes que podem ocorrer nas indústrias envolvidas no chamado ciclo do combustível nuclear, em particular nas usinas núcleo-elétricas. Querem nos fazer crer que a segurança das centrais nucleares é infalível e que acidentes com a liberação de material radioativo não acontecem, e nem acontecerão. Além de tentarem desqualificar aqueles que são contrários à utilização desta fonte de energia.
O discurso da infalibilidade de usinas nucleares é recorrente, como se fosse possível risco zero de acontecer um acidente. O desastre de março de 2011 em Fukushima, Japão, mostrou ao mundo que, mesmo em um país de grande conhecimento e domínio tecnológico, a natureza está fora do domínio do homem. E que acidentes podem sim acontecer, e quando acontecem são catastróficos.
Acidentes em usinas nucleares acontecem com muita mais frequência do que os conhecidos e divulgados. Geralmente não chegam ao domínio público, não são revelados para a população. E diferentemente de um acidente, por exemplo, de avião, que atinge diretamente os passageiros, terminando no local e no instante em que ocorre, um acidente em uma usina nuclear com liberação de material radioativo começa no instante e no local, mas depois centenas e mesmo milhares de pessoas em territórios inteiros sofrerão as consequências provocadas pela radiação. E anos depois crianças nascerão com aberrações cromossômicas e vão desenvolver leucemia, alterações causadas pela absorção, por seus pais, de doses de radiação acima do tolerável.
Leia também
As agências envolvidas no controle e fiscalização também sofrem pressões dos “negócios nucleares” que implicam interesses econômicos-militares. Só para termos ideia dos recursos financeiros, a construção de uma usina nuclear de 1.300 MW chega a custar 5 bilhões de dólares. Sem levar em conta que depois de sua vida útil serão necessários em torno de 1 bilhão de dólares para seu descomissionamento, ou seja, sua desativação. As construtoras de equipamentos nucleares e as empreiteiras agradecem.
No Brasil, interesses contrários ao bem-estar da população e ao desenvolvimento sustentável insistem que a energia nuclear é importante para garantir a segurança energética. São usados argumentos falaciosos, mesmo mentirosos, quando não informações valiosas são subtraídas para formar opiniões, enganando a população que repele esse tipo de energia em nosso país.
Estudos têm mostrado que no Brasil as fontes energéticas renováveis, aquelas produzidas pela natureza (Sol, vento, biomassa e água), podem atender a demanda por energia de que precisamos e são mais factíveis tanto do ponto de vista econômico, quanto da segurança e do meio ambiente.
No Brasil, caso único no mundo, o que constitui um agravante, é que o órgão que exerce as atividades de promoção e fomento da energia nuclear é o mesmo responsável pela sua fiscalização e controle. É o que ocorre com a Comissão Nacional de Energia Nuclear, Cnen. É um absurdo que o mesmo órgão que desenvolve esta atividade de alto risco, inclusive à vida humana, seja o responsável pela fiscalização e regulação de suas próprias atividades.
A energia nuclear é suja, insegura e cara. O ciclo do nuclear – da mineração do urânio, ao problema insolúvel da destinação do lixo radioativo – é insustentável do ponto de vista social, ambiental e econômico. Daí precisamos a cada dia reafirmar: NÃO PRECISAMOS DE USINAS NUCLEARES EM NOSSO PAÍS.
*Bacharel em física pelo Instituto Gleb Wataghin-Unicamp, mestre em Ciência e Tecnologia Nuclear pela Universidade Federal de Pernambuco, e doutor em Energética pela Universidade de Aix-Marselha /Comissariado de Energia Atômica-Cadarache (França). Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco
A hora e a vez da bomba atômica tupiniquim?
Usinas Eólicas: a bola da vez é Bonito, em Pernambuco