Sem assunto e sem ideia, fui ao Google e digitei a palavra ‘praga’. Não foi uma coisa aleatória, mas sim pensando que na cadeia da vida o que é praga para uns não é para outros. Depende do lado que você está. Para os animais que estão em extinção pela ação do homem, a praga a ser combatida é aquela que causa sua extinção, ou seja, o homem.
O veneno que os homens despejam, sem dó e sem complacência, sobre a natureza é a praga que destrói os ecossistemas. Veneno que alguns chamam de agrotóxico e outros, com um palavreado pior, eufemístico, de defensivos agrícolas.
Em minha pesquisa, o primeiro endereço eletrônico que apareceu no Google foi o de uma dedetizadora que enaltece sua alta capacidade de matar pragas: cupins, baratas, ratos, percevejos e pombos. Veja só, pombo é praga. Tenho um casal de pombos como vizinhos. O escritório e a sala aqui de casa dão para o telhado de um edifício. Já há algum tempo vejo o casal construindo seu ninho e todo o cuidado com a reprodução e a criação do filhote. Com o olhar enaltecido, observo-os e não posso dizer que esse casal cuidadoso e apaixonado seja uma praga.
O segundo endereço apresenta uma lista de hotéis em Praga, cidade histórica e antiga, antes capital da Checoslováquia, ou Tchecoslováquia (segundo aprendi, tanto faz uma forma como outra), hoje capital da República Tcheca.
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O quinto endereço me dá a lista das dez pragas do Egito. São aquelas que Deus (Javé) enviou (por maldade!?) pelas mãos de Moisés sobre o faraó e sobre o povo do Egito. Estão registradas na Bíblia, no livro do Êxodo, capítulos 7-12. Fui lê-las.
As pragas foram enviadas para que o povo de Israel fosse libertado daquelas terras, um após a outra, até que surtiram efeito e o faraó permitiu a partida do povo judeu para a Terra Prometida. Li-as e achei-as terríveis, tanto que vou recordá-las: 1) As águas do Nilo se transformaram em sangue. Significa que a água tornou-se impossível de ser consumida, submetendo o povo à sede; 2) O território (inclusive as casas do povo) egípcio foi infestado de rãs; 3) O pó transformou-se em mosquitos que atacaram os homens e os animais; 4) Houve uma infestação de moscas sobre todo o território do Egito; 5) Uma peste atingiu e matou todo o rebanho de cavalos, jumentos, camelos, bois e ovelhas. No entanto, foi feita a distinção entre os rebanhos dos egípcios e dos israelenses; 6) Todos os homens e animais (creio que os animais que sobreviveram à praga anterior, se é que algum tenha sobrevivido) foram atingidos por chagas e tumores sobre suas peles; 7) Uma violenta chuva de pedra se abateu sobre o Egito. O povo egípcio perdeu toda a colheita de linho e de cevada; 8) Uma nuvem de gafanhotos foi enviada para comer tudo o que havia sido salvo da chuva de pedras. Destruiu tudo e sobre o território do Egito ‘não ficou nada verde nas árvores, nem na vegetação do campo’, ou seja, primeiro a peste que matou os animais, depois a chuva de pedra que destruiu as plantações e por último os gafanhotos foram pragas para matar o povo de fome, algo terrível; 9) Por três dias fez-se escuridão sobre o Egito. Ninguém conseguia enxergar ninguém; e 10) A morte de todos os primogênitos, desde o do faraó até os das escravas. Muita praga para um povo só.
Na infância e adolescência, quando participava da missa, algumas vezes era o responsável pela leitura dos textos bíblicos. Dessa leitura, nada ou pouco entendia, a referência para a compreensão era o sermão do padre. Só entendia, e olhe lá, o que o padre explicava. E entendia por poucos dias, pois o que se sobrepunha era o medo do pecado e não o aprendizado.
Volto ao texto bíblico. No próprio Êxodo dá para interpretar que o faraó não era maldoso, tanto que Javé disse a Moisés: “Apresente-se ao Faraó, pois eu endureci o coração dele e de seus ministros, para realizar entre eles os meus sinais, a fim de que você conte ao seu filho e ao seu neto, de que modo eu caçoei dos egípcios, e quantos sinais eu realizei no meio deles. Assim, vocês saberão que eu sou Javé” (capítulo 10, versículos 1 e 2). Javé, para provar que era Deus, precisava endurecer o coração do faraó e causar tanta desgraça a um povo?
Fico imaginando se na época já existissem agrotóxicos. Não seriam necessárias dez pragas, uma só borrifada com alta concentração de qualquer um desses venenos resolveria o problema de Moisés. Só que a aplicação precisaria ser seletiva, o que não acontece hoje.