A reforma do Código Florestal tem sido feita a partir de uma teoria da conspiração “bizarra”. A avaliação é do conselheiro da Suíça Consulting Group, sediada no Rio de Janeiro, Johannes van de Ven. Em artigo publicado nesta semana em seu blog, Johannes defende que o lobby do agronegócio no Brasil “está se escondendo por trás da teoria da conspiração da interferência estrangeira nos assuntos internos”.
O conselheiro afirma isso baseado em discursos adotados por parlamentares da bancada ruralista e pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O comunista – que relatou a polêmica proposta de mudanças no Código Florestal, aprovada em comissão especial – tem defendido que ONGs ambientalistas no Brasil atuam em conluio com estrangeiros interessados em impedir o desenvolvimento do país.
No artigo, Johannes critica que para “Rebelo e seus colegas de Partido Comunista, o conceito de proteção das florestas ou a conservação é uma conspiração inventada pelos Estados Unidos e a União Européia para restringir o desenvolvimento econômico do Brasil”. O conselheiro define a teoria de Aldo como “falaciosa e enganadora”, além de ser “ruim para a economia global”.
Os argumentos de Johannes foram parar em um blog norte-americano que projetou o ocorrido como “A Conspiração para abocanhar a Amazônia”. Em seu blog, chamado Visionshare, o norte-americano Lou Gold afirma que “a velha política brasileira à espera dessa conspiração estrangeira teve um papel importante na construção de apoio para a revisão do Código Florestal”.
Lou Gold começa seu artigo dizendo que desde que o botânico inglês Henry Wickham contrabandeou cerca de 70 mil sementes de seringueiras da Amazônia (na região de Santarém, no Pará, em 1876) para o Reino Britânico, os brasileiros ficaram suscetíveis a teses conspiratórias sobre tentativas estrangeiras de roubar o vasto tesouro da Bacia Amazônica.
“Tão focados eles estão no ‘roubo estrangeiro’ que teria sido difícil antecipar a crescente aliança da extrema esquerda com a extrema direita para abocanhar terra e florestas. Mas isso é o que exatamente aconteceu quando o Partido Comunista se combinou com a extrema direita ‘ruralista’ e o agronegócio para rever o Código Florestal brasileiro”, analisa Lou Gold.
Enquanto Johannes conclui que as mudanças no Código Florestal não podem ser rebaixadas a teorias da conspiração, nem a relatórios como Farms Here, Forests There (Fazendas aqui, Floresta lá), Lou Gold encerra seu pensamento afirmando que “na verdade, a verdadeira conspiração para acabar com o tesouro da Amazônia não é encontrada em roubo de estrangeiros, mas na comum recusa da China e dos Estados Unidos para reduzir seus níveis absurdos de emissões”.
Argumentar que ambientalistas brasileiros se limitam a defender interesses estrangeiros é reduzir o debate ambiental do país a um conluio vazio e de terceira categoria. Mas, por outro lado, dizer que não há espertos estrangeiros utilizando-se das mais baixas estratégias de mercado para aumentar a proteção daqui e ampliar a produção dali sem limites ambientais seria cegueira e até burrice.
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