Em artigo recente (Não às “reformas”), fiz referência ao livro América Latina y el capitalismo global: una perspectiva crítica de la globalización (Ed. Siglo XXI, México, 2005), de William I. Robinson.
Na introdução, Robinson caracteriza a crise econômica por seis aspectos: (1) Ecológico; (2) As desigualdades globais sem precedente; (3) A magnitude dos meios de violência; (4) O limite da expansão extensiva e intensiva do sistema capitalista; (5) O aumento das filas dos marginalizados; e (6) A destruição da autoridade baseada em um Estado-Nação.
Desses seis aspectos, no artigo anterior comentei a questão das desigualdades. Neste, abordarei a questão ambiental.
Robinson chama a atenção para o fato de que temos a verdadeira possibilidade de um colapso da sociedade humana. No planeta Terra, já há degradação irreversível, como, por exemplo, a perda da diversidade tanto da flora como da fauna. Há espécies que já foram extintas e, mantido o atual modelo de desenvolvimento, possivelmente chegaremos a um ponto sem retorno.
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Toda a destruição ambiental, seja na derrubada das florestas, na extração do petróleo e de minérios, na exploração da terra através da agricultura intensiva e da monocultura (com uso de venenos) e no uso da água, tem um único objetivo, o lucro.
O capitalista olha para tudo e para todos calculando como pode explorar aquela relação e dela obter o maior lucro possível. Não pensam no futuro e, quando falam sobre, ele dizem que o “futuro a Deus pertence” ou “no futuro já estarei morto”. Para o capitalismo e o capitalista, não há outras gerações, não há vida além e ao redor da dele. Ele é único no universo. Para o capitalismo e o capitalista, a vida vegetal e animal, com exceção da dele, não faz parte do sistema de preservação da vida.
Neste mundo de hegemonia capitalista, os Estados atuam defendendo-o, relaxam na execução das leis, não fiscalizam, e, pior, autorizam ações de exploração/destruição da natureza.
Governantes e empresários fazem discursos de defesa da natureza, porém não agem para mudar o modelo de desenvolvimento econômico, que polui a atmosfera e leva ao aquecimento da Terra. Estudos científicos mostram que, principalmente pela queima de combustíveis fósseis, incêndios florestais e pela derrubada de florestas tropicais, está aumentando a concentração de gases na atmosfera. O CO2 passou de 280 partes por milhão (ppm) para cerca de 400 ppm em 200 anos. Isso significa um aumento sem precedentes na história, tanto em escala quanto em velocidade.
Na busca do lucro, florestas ricas em espécies estão sendo destruídas, muitas vezes para criação de gado ou a monocultura, como a soja, com o uso intensivo de veneno.
As florestas tropicais, que cobriam cerca de 15% da área terrestre do planeta, atualmente cobrem de 6% a 7%. Grande parte do que sobrou foi degradado pela derrubada de árvores ou queimadas.
A busca do lucro com a exploração intensiva da terra tem levado à degradação do solo. De acordo com estimativas de ONU, cerca de 12 milhões de hectares de terras agrícolas são degradadas cada ano.
Recentemente, estudo publicado pela GAHP (sigla em inglês para Aliança Global de Saúde e Poluição) mostra que a poluição é uma das maiores ameaças à humanidade. Ela mata três vezes mais que a Aids, tuberculose e malária juntas. Em 2015, cerca de 9 milhões de pessoas tiveram a morte relacionada à poluição. Uma de cada seis mortes ocorridas no mundo em 2015 foi provocada pela poluição ambiental.
Os capitalistas, para manter seu patrimônio e modelo de exploração da natureza, matam e mandam matar as pessoas que sonham com outro mundo e outro modelo de vida. Em 2016, por questões ambientais ou rurais, segundo Global Witness, 49 pessoas foram assassinadas no Brasil, o que faz com que o Brasil seja o país mais perigoso do mundo quando se trata de questões agrárias.
Na ânsia do lucro fácil e da riqueza a qualquer custo, os capitalistas estão saqueando a natureza e tornando os homens e o mundo cada vez mais pobres.
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