Há poucos dias descobriram um sinal de trânsito defeituoso lá no Japão, na cidade de Fukushima. O dito cujo funcionava (ou deveria funcionar) no cruzamento de Aizu-Wakamatsu. Porém, devido a um erro de programação, durante alguns segundos o semáforo indicava “luz verde” para todos que estivessem aguardando passagem.
Como seria de se esperar, acabou acontecendo um acidente – felizmente, uma colisão sem maiores consequências. A Polícia, após ouvir os dois motoristas envolvidos dizerem que o sinal estava “verde” quando entraram no cruzamento, imediatamente iniciou uma investigação, que acabou por descobrir a falha na programação.
Vamos aos resultados, que transcrevo do sério jornal The Japan Times: “A Polícia admitiu que o erro foi inteiramente devido à sua negligência. Ela pediu desculpas aos motoristas, compensando-os por todos os custos dos danos causados”.
O chefe da Seção de Controle de Tráfego, Masato Motoyoshi, assim declarou aos jornais: “Eu instruí todas as estações para que inspecionem os semáforos sob suas jurisdições. Nós tomaremos os cuidados para assegurar que nada assim volte a ocorrer”.
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Desse episódio extraímos notável lição de respeito à cidadania: abriu-se uma investigação e, uma vez constatado o erro, pediram-se desculpas publicamente e providenciou-se o completo ressarcimento dos danos. Não houve necessidade de processos judiciais, execuções, penhoras ou seja lá o que for.
Esse exemplo ganha especial importância se considerarmos as características do Japão, um país pequeno, exposto a terremotos frequentes e carente de riquezas minerais.
Mas vamos a um outro caso, acontecido nas Ilhas Maldivas e noticiado pelo jornal Haveeru Daily. Lá, sete motocicletas estacionadas uma ao lado da outra foram abalroadas por um veículo do governo, e quatro delas acabaram completamente destruídas. Apurou-se que o veículo oficial vinha em excesso de velocidade quando seu condutor perdeu o controle da direção.
Imediatamente, o governo apresentou desculpas públicas, recolheu as motocicletas danificadas e convocou os seus proprietários a fim de que fossem indenizados. Também lá não houve necessidade de longos processos judiciais.
Enquanto isso, não faz muito tempo li que buracos causaram, em um trecho de apenas 200 km de uma rodovia brasileira, 118 acidentes dos quais resultaram 97 feridos e dez mortos. Até onde sei, a administração pública ainda não se preocupou em indenizar estes infelizes motoristas ou suas pobres famílias. Aliás, li que a única atitude concreta adotada foi a de colocar naquele trecho as tristes, mas tão comuns, placas de “Cuidado! Buracos na pista!”.
Diante desses exemplos, paremos para pensar. Nosso país é um dos mais ricos do mundo. Temos também uma das maiores cargas tributárias da humanidade. Em resumo, não faltam recursos. Assim, é difícil de entender o motivo de somente restarem às vítimas dos já seculares desrespeito e descaso da administração duas opções: o abandono ou uma ida a um Poder Judiciário não por acaso sobrecarregado.
Segundo Dante Alighieri, em seu livro A divina comédia, na porta do inferno há uma placa com os dizeres: “Deixai toda esperança, vós que entrais”. Talvez, ao lado das placas que alertam sobre a existência de buracos, devesse ser colocado também o mesmo aviso, endereçado aos contribuintes brasileiros que por lá passassem.
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