Em eventos como a Copa do Mundo que está sendo realizada no Brasil, somos levados a pensar nas lições que podemos extrair dos acontecimentos que testemunhamos nos esportes, tanto dentro dos campos como fora deles. Essas reflexões são importantes sobretudo para quem está disputando a “Copa dos concursos públicos”, competição intelectual que guarda semelhanças com a do futebol mundial a que estamos assistindo, pelas imensas dificuldades que enfrenta quem deseja alcançar uma vitória consagradora.
Começo por um exemplo positivo, que vi num jogo de pouca repercussão, entre Suíça e Equador. Foi “ao apagar das luzes”, como costumavam dizer os jornalistas esportivos num passado recente: aos 46 minutos do segundo tempo, o Equador vai à frente, e Arroyo, dentro da grande área, se prepara para o chute, que poderia ser decisivo, se não aparecesse Berami, que havia falhado e permitido o contra-ataque, para desarmá-lo no último instante.
Até aí, tudo normal, em se tratando de uma partida de futebol. Mas o que vem depois é que traz uma lição fundamental para quem deseja realmente vencer uma batalha qualquer, seja num jogo de futebol, seja ao prestar concurso público: Berami sai da área com a bola e dispara em direção ao lado adversário. Já quase no meio do campo, leva uma trombada de um jogador equatoriano, mas, em vez de ficar no chão reclamando e pedindo a marcação da falta ao juiz, como provavelmente fariam outros jogadores em situação idêntica, levanta-se e segue com a bola, já que o árbitro deu a chamada “lei da vantagem” do futebol. Faz o passe para o atacante mais próximo, que, por sua vez, lança a um companheiro pela esquerda do campo. Este avança, cruza e o mesmo jogador que recebera a bola de Berami faz o gol da vitória suíça.
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Para os concurseiros, esse lance contém lições fundamentais. Trata-se do que costumo repetir, em minhas palestras e artigos, sobre nunca desistir, sobre manter força e garra para conquistar o sucesso, sobre não permanecer apenas reclamando da sorte, como ficou o jogador equatoriano, sobre não responsabilizar apenas os outros – o juiz, por exemplo –, a exemplo do jogador suíço. Em síntese, não existe vitória sem luta e muita dedicação.
Outras situações vistas na Copa que podem servir de espelho para todo mundo nas grandes disputas da vida foram protagonizadas por dois dos maiores craques do campeonato até agora: Neymar e Messi – note que estou escrevendo isto na quinta-feira 26 de junho, antes, portanto, das partidas das oitavas de final do Brasil contra o Chile e da Argentina contra a Suíça, cujo resultado será a eliminação da seleção que perder. Por tudo que esses dois jogadores já fizeram em campo, não posso deixar de mencionar a importância do papel que ambos exercem para o sucesso de suas equipes, superando marcações cerradas, às vezes até violentes e desleais, para marcar gols decisivos.
Neymar e Messi são a personificação de quem nunca desiste nem se dá por derrotado numa partida de futebol. Devemos nos inspirar no exemplo deles, de luta diária pela superação das dificuldades e pela vitória nas grandes decisões, como é o caso de um concurso público. É muito comum, durante uma partida, esses dois jogadores não serem unanimidade, no que diz respeito à atuação deles. Mesmo assim, nunca se pode criticá-los por falta de espírito de luta, de determinação, de garra e de coragem diante das adversidades. É exatamente o mesmo que se espera de um candidato que deseje alcançar objetivo análogo a um gol de Neymar ou de Messi: a vitória sobre os concorrentes, com a aprovação e a conquista do sonhado cargo público.
PublicidadeA Copa tem outras facetas muito positivas, como a beleza das torcidas nos estádios, com as cores dos respectivos países nas roupas e no rosto, e, claro, o emocionante – e emocionado – hino brasileiro cantado à capela. É uma linda prova de patriotismo e de amor à terra natal que sempre devemos cultivar. Cabe aos jogadores reproduzir esses sentimentos em campo, pois futebol não pode ser reduzido a dinheiro e fonte de riqueza para quem vive dele. É preciso ter amor pelo que se faz. Aliás, isso vale também – e muito – para quem deseja ingressar no serviço público por concurso. Não basta ganhar bem para se considerar realizado na vida. Precisamos ter amor à causa que abraçamos e à fonte do nosso sustento e do bem-estar de nossa família. Por isso, na hora de escolher o concurso que pode definir o rumo de nossa vida, devemos saber decidir por aquele em que nos empenharemos em servir bem. Afinal, na carreira pública, servimos muito mais do que somos servidos.
Mas nem só de nobreza vive a Copa. Um dos episódios negativos dela envolveu a seleção de Gana e mostra justamente a inversão que pode ocorrer quando damos muito mais importância ao dinheiro do que a valores morais que devem balizar nossas atitudes. É o caso do comportamento dos jogadores que cheiraram o dinheiro enviado pelo governo do seu país para quitar as dívidas que tinha com eles. O episódio repercutiu negativamente até no governo brasileiro, pois a entrada desses US$ 3 milhões no país, com escolta da Polícia Federal, cheira mal e terá de ser explicada pelas autoridades.
O lado negativo da Copa fica por conta, ainda, de outro acontecimento inusitado: a mordida de Luís Suarez no ombro do zagueiro italiano Chiellini, durante a partida entre Uruguai e Itália. Do episódio também é possível extrair lições para todos, inclusive concurseiras e concurseiros. Falo do comportamento que se deve ter quando se está sob pressão, seja numa partida de futebol, seja, no nosso contexto, disputando um concurso público. Apelar para golpes baixos, como faltas desleais e, pior ainda, atitudes indignas, como morder um colega de profissão dentro do campo, ou, no caso de concurseiros, recorrer à cola ou a outras artimanhas ilegais, merece punição severa que sirva de exemplo para o resto da vida. Foi o que aconteceu com Suarez, que foi eliminado da Copa, com nove jogos de suspensão, além de multado em 100 mil francos suíços e proibido de exercer qualquer atividade no futebol durante quatro meses. Mais do que tudo, o principal castigo foi de ordem moral, que ele terá de carregar pelo resto da vida.
Estamos entrando na terceira semana da Copa do Mundo, e dentro de mais alguns dias, em 13 de julho, teremos a definição do campeão. É fato que quem vai levar para casa a taça é aquele que melhor tiver se preparado para esta duríssima competição esportiva, assim como, num concurso público, os campeões sempre são aqueles que se preparam melhor para o momento decisivo. Estes, tal como o time campeão da Copa, que desfrutará durante quatro anos do prazer de carregar esse título, terão o prazer de desfrutar por muitos anos do seu feliz cargo novo!
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