Um dia após ser atacado pelo presidente Jair Bolsonaro ao chamar o chefe do Executivo de “tchutchuca do Centrão”, o youtuber Wilker Leão prometeu voltar ao cercadinho nesta manhã sem medo algum de retaliação. O homem, que mantém um canal no Youtube, e que quase teve seu celular tomado pelo presidente da República, promete transmitir a nova interação ao vivo.
Crítico das ações do presidente, Wilker Leão também chamou Bolsonaro de “covarde” e “safado”. O youtuber estava misturado aos apoiadores do presidente, que o aguardavam na saída do Alvorada. Wilker é conhecido no seu canal, que somava 34,6 mil inscritos até o início da manhã desta sexta-feira (19), por fazer provocações tanto a bolsonaristas quanto a esquerdistas.
“Acho que ele ficou ofendidinho, mas não tenho medo nenhum de ser preso porque não cometi nenhum crime. E se tentarem me prender vai ficar feio para ele. Não é ele que defende a liberdade de expressão? Eu quero perguntar qual é o plano de governo dele. Ninguém sabe o nome do plano, quantas páginas tem, o que ele propõe”, conta Leão, de 26 anos, em conversa ao telefone com o Congresso em Foco. “Minha intenção é demonstrar a hipocrisia do bolsonarismo. Ontem eu pude questionar o líder da seita.”
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Wilker, que diz se alinhar à direita e se apresenta como “entusiasta do militarismo”, revela que não votou nas eleições de 2018 por estar, à época, com seus direitos políticos suspensos. O youtuber afirma, porém, que mesmo que pudesse não teria votado em Jair Bolsonaro para presidente da República.
“Não fez nada para cabos e soldados”
“Eu não votaria porque eu sabia da história dele, que era capitão do Exército e que em 28 anos como deputado não fez nada para cabos e soldados. Eu já tinha o pé atrás com ele. Torci para que desse certo quando ele foi eleito, mas eu sabia que daria errado. Já tinha esse pressentimento”, explica Wilker, que revela que vai votar nulo nas eleições de 2022. “Votaria se Sérgio Moro fosse candidato.”
Formado em direito em 2019, Wilker Leão era cabo do Exército Brasileiro. Foi militar temporário entre março de 2014 e fevereiro deste ano. Segundo o Exército, sua dispensa ocorreu por tempo máximo de permanência, que é de oito anos para quem entra pelo Serviço Militar Obrigatório. Em maio, publicou fotos em frente à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Distrito Federal, em que comemorava a obtenção do seu registro profissional.
Em seus vídeos, Wilker aparece provocando manifestantes de esquerda durante atos políticos, como um protesto contra o projeto da mineração em terras indígenas. Também provoca bolsonaristas ao questioná-los sobre temas como corrupção, acordos políticos com o Centrão e vacinas. Em várias gravações, ele se envolve em confusão e é xingado por seus entrevistados.
Em abril, o youtuber já havia discutido com Bolsonaro, quando questionou uma declaração do presidente de que os praças (soldados e cabos) “deveriam apenas fazer faxina”. Irritado, Bolsonaro respondeu que ele deveria ter reclamado antes, enquanto fazia parte das Forças Armadas.
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As ações do youtuber brasiliense lembram as de dois políticos alinhados ao bolsonarismo que tiveram seus mandatos cassados nos últimos meses. Assim como ele, o ex-deputado estadual paulista Arthur do Val (União Brasil), cassado por falas sexistas sobre refugiadas ucranianas, surgiu fazendo vídeos com provocações a manifestantes de esquerda. Outro que ganhou visibilidade com discurso semelhante foi o vereador carioca Gabriel Monteiro (PL), que teve seu mandato cassado nessa quinta-feira, acusado de assédio e importunação sexual. Ele também é acusado de encenar vídeos e “vendê-los” como reais.
Na quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro tentou tomar o celular de Wilker que estava no cercadinho do Palácio da Alvorada. O youtuber alega que foi empurrado por seguranças do presidente. Após a agressão, ele intensificou os xingamentos contra Bolsonaro, que, naquele momento, já havia entrado no carro oficial. O presidente desceu do veículo e segurou o homem pela gola da blusa e pelo braço, na tentativa de tirar o celular da mão dele. Bolsonaro diz, ainda, que quer falar com Wilker, que se desvencilha do presidente e dos seguranças. Segundo relatos, depois do episódio, o presidente conversou rapidamente com o manifestante.
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