Quando alguém resolve prestar concurso público, precisa decidir se vai realmente se dedicar à empreitada ou apenas jogar com a sorte. Posso garantir que a primeira hipótese dá certo. Os exemplos estão por aí, nos milhares de aprovados que estudaram durante meses, eàs vezes até durante anos, para alcançar esse objetivo.
Conheço dezenas de histórias de sucesso que ilustram o que acabo de afirmar. Hoje vou contar uma delas, para dar a você que me lê o caminho das pedras de alguém que foi aprovado em primeiro lugar num dos concursos mais difíceis do país. Garanto que, depois desconhecer a história de Kaique Knothe de Andrade, você não vai mais sofrer com falta de motivação, porque o caso dele é um exemplo de como as coisas podem dar certo para absolutamente qualquer concurseiro que se preze.
Kaique foi o primeiro colocado em um concurso da Receita Federal. Ele concorreu com 68,5 mil candidatos para o cargo de auditor fiscal, cujo salário inicial é de R$ 14,9 mil. Eram apenas 278 vagas, o que significava concorrência de 249,5 candidatos por vaga. Para se ter uma ideia do que é isso, imagine uma fila com 250 pessoas para entrar, por exemplo, em uma sala de cinema onde só há um lugar disponível. Os outros 249 que aguardam na fila terão de voltar para casa, frustrados e irritados, lamentando a falta de sorte, enquanto só um felizardo, o primeiro da fila, poderá assistir ao filme.
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Voltemos ao nosso personagem. Kaique tem apenas 25 anos de idade. Terá, portanto, uma longa e brilhante carreira na Receita Federal, se assim quiser, pelas próximas três décadas e meia. Graças ao esforço de hoje, contará com um bom salário, estabilidade no emprego, uma aposentadoria tranquila, um futuro seguro para ele e a família. O detalhe é que o rapaz é engenheiro por formação, mas não gostou da carreira e optou pelo emprego público, no caso um dos mais cobiçados no mundo dos concursos.
Como é um sujeito inteligente, mas não um gênio com QI fora do comum, Kaique tomou uma medida radical quando decidiu se inscrever para o concurso: parou de trabalhar e passou dez meses apenas estudando, sem exercer nenhuma outra atividade que pudesse desviar seu foco do objetivo final, a aprovação entre as 278 vagas. Achava que tinha chances de passar, mas, como afirmou certa vez numa entrevista, estaria mentindo se dissesse que esperava ser o primeiro colocado. “Apenas saí com a impressão de que tinha feito uma boa prova”, resumiu.
A aparente modéstia de Kaique demonstra que ele é um cara realista e bem centrado. A aprovação em primeiro lugar num concurso como o que ele prestou resulta da soma de muitos fatores favoráveis e não costuma ser o objetivo do candidato. Conforme Kaique mesmo avalia, sua decisão de parar tudo e apenas estudar para o concurso foi corajosa, mas nem todos – na verdade nem a maioria dos que se preparam para concurso –, pode fazer isso. Há, porém, outras formas de se preparar. Cada um tem de descobrir a que é mais eficaz para si. Afinal, segundo a sabedoria popular, cada caso é um caso. Entretanto, notam-se algumas particularidades da experiência de Kaique que podem servir para todos. Na verdade, são detalhes sobre os quais já comentei muitas vezes em meus artigos, mas vamos a eles.
PublicidadePor exemplo, Kaique não prestou apenas o concurso da Receita Federal. Fez outros nove, em cinco dos quais foi aprovado. Nosso amigo queria garantir um emprego público que lhe permitisse continuar estudando. Além disso, a prática também o ajudaria a pegar ritmo de prova. Resultado: ele aguarda a convocação de três desses concursos e já está trabalhando como engenheiro no Ministério da Fazenda, concurso em que foi aprovado em segundo lugar, para vaga em São Paulo. A aprovação foi em agosto de 2013, e Kaique assumiu o cargo há pouco mais de três meses, enquanto o esperado telegrama da Receita Federal não vem. Um detalhe: a aprovação para o emprego no Ministério da Fazenda veio apenas um mês depois de Kaique ter largado o emprego na iniciativa privada e começado a estudar para concurso.
Agora, veja como o nosso campeão encarou a preparação para o concurso – nada muito diferente dos demais concurseiros: “No começo estava bem perdido. Busquei um cursinho e comprei apostilas específicas para algumas disciplinas. Procurava ouvir o professor e já ler o conteúdo das disciplinas para acompanhar a aula”. Ele ia para o curso de manhã e ainda estudava em casa por mais 10 horas, assistindo a vídeos e lendo apostilas, com foco nas disciplinas da Receita. As matérias específicas de outros concursos, como Agência Nacional de Cinema (Ancine) e Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), foram contempladas somente poucos dias antes das provas.
E assim se passaram oito meses de estudo, até a Receita divulgar o edital do concurso. Depois, foram mais dois meses,até as provas. A partir do lançamento do edital, Kaique passou a se dedicar mais às legislações específicas e a fazer questões de provas anteriores. Era uma guerra contra o tempo, em que não havia descanso nem nos fins de semana. Ele conta que teve de aprender contabilidade, matéria que nunca havia estudado e “é bem complicada”, mas acabou acertando 90% da prova.
O nosso campeão reconhece que a estratégia de resolver provas de outros concursos foi importante para o sucesso no da Receita Federal. E resume em três os principais pontos da sua preparação: boa base de exatas, bom método de estudo e controle emocional na hora da prova. Além disso, ele recomenda que o candidato avalie permanentemente a evolução do estudo e mude o que não estiver funcionando; trabalhe o controle emocional para a hora da prova; e persista, mantendo o foco e a motivação.
Por fim, Kaique aconselha: a primeira providência é trabalhar para perder o medo de concurso. O concurseiro deve ter em mente que ele pode levar quatro anos para alcançar as primeiras aprovações, mas também pode se sair bem muito antes do que imagina. É difícil, não é a regra, e exatamente por isso é importante manter o foco e a motivação, diz nosso amigo, com muita propriedade, afinal está falando por experiência própria.
Creio que essas são as dicas mais importantes desse bem-sucedido jovem. Quem seguir os seus conselhos e se espelhar no seu exemplosem dúvida alguma em breve estará comemorando a posse em seu feliz cargo novo!