Dia desses li uma interessante matéria sobre dados brinquedos concebidos sob inspiração da máquina de propaganda nazista para doutrinar as crianças alemãs. O primeiro deles, sob a classificação de “diversão para a família”, tinha o nome de “Juden raus!” – “fora, judeus!”.
O jogo desenrolava-se da seguinte maneira: os jogadores encarnavam o papel de agentes do regime nazista patrulhando as ruas. Conforme tinham sucesso no lançar de dados poderiam invadir propriedades, confiscar bens e prender judeus – o primeiro jogador a prender seis deles seria o vencedor do jogo.
Até onde apurou-se, hoje existem apenas duas cópias deste à época popular brinquedo – estima-se que mais de um milhão deles foram comercializados naqueles sombrios tempos. Os demais tiveram como destino a lata de lixo da História.
Fiquei a meditar sobre o que aconteceria se alguma empresa decidisse relançar este brinquedo nos dias de hoje. Na mais amena das hipóteses seu proprietário seria imediatamente preso e processado. Notável, isso. Eis aí um bom sinal de evolução da humanidade. Que o mal nunca mais seja ensinado às nossas crianças.
Daí meu espanto: há poucos dias, visitando um centro comercial, vi anunciado um jogo eletrônico – o popular “videogame” – cujo objetivo era matar policiais. Fiquei horrorizado. Afinal, o que se está a ensinar às crianças? Angustiou-me imaginar como se sentiriam os órfãos de policiais que tombaram no cumprimento do dever diante de um brinquedo daqueles, abertamente comercializado.
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Acabrunhado, decidi realizar uma pequena pesquisa acerca do tema. Descobri, em poucos minutos, brinquedos cujo objetivo consiste no estupro de mulheres, no massacre de crianças, cristãos, muçulmanos, negros e latinos, no roubo de veículos, no atropelamento de pedestres e por tal caminho seguimos – até um que premiava o assassinato de judeus encontrei, em uma surpreendente volta ao passado! Aliás, lá ganhava o jogo quem os prendia e aqui quem os mata – estamos, assim, superando os mais empedernidos ideólogos nazistas.
Minha reflexão seguinte dirigiu-se ao tão orgulhoso e circunspecto “mundo das leis”: como explicar-se sua omissão? Como ele permite que produtos assim sejam oferecidos às nossas crianças pelo planeta afora? Eis aí uma bela pergunta para estes portais do Terceiro Milênio.