É difícil imaginar uma criança de hoje em dia que nunca tenha interagido com uma tela – seja tablet, smartphone ou televisão. Equilibrar o tempo frente aos aparelhos digitais se tornou um dos maiores desafios dos adultos cuidadores, enquanto nós próprios ainda tentamos encontrar uma forma saudável de lidar com tamanho volume de tecnologia em nossas vidas. O desenvolvimento infantil é fortemente influenciado pelas experiências a que somos expostos enquanto nossos cérebros ainda estão em formação, fazendo do excesso de tecnologia uma tendência preocupante por várias razões.
Está em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo a Lei 293/2024, conhecida como PL de Telas. Minha proposta foi pensada com base em pesquisas e dados muito impactantes sobre o uso excessivo de dispositivos digitais por crianças e adolescentes. Com exceção de atividades educativas, o PL acaba com a presença dos aparelhos no ambiente escolar, mesmo no horário do recreio. Sua urgência na Casa reforça a percepção de que o desenvolvimento infantil é uma pauta para toda a sociedade, e a presença de telas um problema global.
A escola tem grande importância no processo de socialização das crianças. Ela é o lugar onde elas ensaiam se distanciar do núcleo familiar para explorar o mundo e novas relações. É por isso que a escola deve se preservar como um espaço de exploração segura, cheia de possibilidades de descobrir, brincar livre e desenvolver habilidades criativas. Um lugar sem telas.
Há uma série de indícios científicos sobre os efeitos negativos da tecnologia sobre a neuroplasticidade infantil, afetando áreas do cérebro responsáveis pelo raciocínio, memória e linguagem. O consumo excessivo de telas também interfere no desenvolvimento, capacidade de aprendizagem, qualidade do sono e níveis de ansiedade. A tecnologia desses aparelhos envolve um alto investimento de recursos para incentivar seu uso prolongado. Características como o tamanho do dispositivo, as cores da tela e as bordas arredondadas são projetadas para manter os usuários engajados por mais tempo. Isso é ainda mais preocupante para crianças, cujos cérebros em formação são particularmente moldáveis.
No entanto, é irrealista pensar em eliminar completamente o uso de dispositivos eletrônicos. Em vez disso, é crucial encontrar um equilíbrio para melhorar a relação com as telas. Medidas como limitar o tempo de uso, monitorar o conteúdo consumido e priorizar outras atividades podem ajudar. Uma relação saudável com as telas deve ser estabelecida em casa, com regras acordadas por todos, para garantir que o uso seja recreativo e não prioritário. Como adultos, precisamos dar o exemplo.
O mundo digital não vai desaparecer. E ele pode ser uma ferramenta fantástica para o aprendizado e o desenvolvimento das crianças. Educadores já estão explorando a realidade aumentada e outras ferramentas digitais para enriquecer o aprendizado das crianças. E quem não gosta de um bom jogo para aprender matemática enquanto faz a criança se sentir uma verdadeira aventureira? A chave é encontrar um equilíbrio saudável e garantir que a tecnologia complemente, e não substitua, as experiências enriquecedoras que a vida real tem a oferecer.
PublicidadeO texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário