Rapazes e moças estão assumindo postos no governo logo depois de concluírem o curso superior. Em uma década, a idade média dos servidores diminuiu dez anos. Nesse período, o perfil dos servidores públicos mudou, sobretudo porque houve uma considerável procura por parte dos profissionais com menos de 30 anos no setor. É a Geração Y assumindo as carreiras estratégicas e típicas de Estado pela aprovação prévia em concurso público.
Ainda assim o quadro de servidores públicos federais está envelhecido e os órgãos públicos não têm empossado muitos jovens na última década. Vejamos esses dados:
Idade média dos servidores públicos FEDERAIS
2003………………………………..46 anos
2013…………………………………56 anos
Idade média dos servidores públicos DISTRITAIS
2015………………………………….62% entre 35 e 55 anos de idade
(no GDF, há menos de 2.000 servidores com idade abaixo de 25 anos)
Disponho de alguns dados sobre a evolução do preenchimento de postos no serviço público federal: segundo meus registros, na última década, 40% das pessoas que ingressaram no serviço público tinham entre 18 e 30 anos; 40%, entre 30 e 50 anos; 20%, entre 30 e 50 anos. Portanto, há equilíbrio entre as faixas etárias. Há aqui a combinação dos fatores da juventude – o “sangue novo” – com a maturidade. Quem ganha com isso? O cidadão-cliente.
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Vale ressaltar que a origem desse fenômeno está na Constituição de 1988, que veio consolidar o processo de redemocratização do país, após 21 anos de severo regime militar. Ao instituir o concurso de provas ou de provas e títulos como regra para o preenchimento dos cargos e empregos públicos em todos os Poderes da República, a Constituição Cidadã abriu as portas do serviço público aos jovens prestes a ingressar em um curso superior ou recém-egressos dele.
Além disso, a afirmação de “especialistas” de que a excessiva juventude dos novos servidores é prejudicial à qualidade do serviço público não corresponde à realidade. Ao contrário, o que se observa é um funcionalismo cada vez mais bempreparado para exercer as suas funções. Basta lembrar que esses jovens servidores, quando optaram pelo concurso público, submeteram-se a estudos intensivos e específicos para a carreira que escolheram. Toda essa preparação garante que os concursados já ingressem nos quadros públicos com uma base teórica que eles levariam muito tempo para adquirir se não tivessem passado pelos bancos das escolas preparatórias.
Por um lado, reconheço que seria desejável, em algumas áreas que exigem maior embasamento cultural e experiência profissional, que se definisse idade mínima para o ingresso na carreira. É o caso da magistratura, do Ministério Público e até mesmo da carreira de delegado de polícia, seja federal, seja estadual. Essas funções, dada a responsabilidade e a gravidade das decisões que seus titulares devem tomar, certamente exigem um tipo de amadurecimento que só vem com o tempo. Nesses casos, concordo com quem defende a idade mínima de 35 anos para ingresso na carreira, compatível com o cargo a ser ocupado.
Por outro lado, não vejo como um sério problema para o serviço público, de modo geral, o fato de pessoas cada vez mais jovens ingressarem nas carreiras do setor. Pelo contrário, considero essa renovação salutar. Mais uma vez graças ao texto da Constituição de 1988, a substituição de servidores aposentados, falecidos ou que deixaram o cargo por outros motivos é feita com vantagem para a Administração. Afinal, os jovens que vêm ocupar essas vagas terão tempo para estudar e participar de inúmeros cursos de aperfeiçoamento. Tudo leva a crer que o tempo em atividade desses jovens servidores será mais produtivo do que o de muitos dos antigos.
É preciso, ainda, considerar que não se pode impedir alguém, sobretudo um jovem que deseje progredir na vida, de ascender a um cargo público, que lhe proporcionará uma carreira segura, estável e, na maioria das vezes, bem-remunerada. Isso sem contar as oportunidades de ascensão profissional, melhores do que as encontradas na iniciativa privada. Em média, a carreira pública paga 2,5 vezes o que paga a carreira privada e não faz discriminação de gênero ou de idade nem exige – em regra – experiência ou boa aparência. Por tudo isso, acho razoável a opção que os jovens vêm fazendo pelos concursos públicos, um mercado que hoje, em todo o país, movimenta milhões de pessoas que se preparam para concorrer às vagas nas diversas áreas das carreiras estatais. São talentos que querem servir ao seu país e ao seu povo.
Realmente, acredito que a opção pelo serviço público é uma das melhores decisões que um rapaz ou uma moça podem tomar, diante do que talvez seja a garantia de um futuro melhor para si e para a família. Não é uma decisão fácil: “O TEMPO de dificuldade e angústia que está à nossa frente EXIGIRÁ uma FÉ que possa suportar o cansaço, a demora, as reprovações, a falta de recursos financeiros, o desânimo e a vontade de desistir. Uma fé que não desanime, ainda que severamente testada, DEVEREI PRESERVAR. A VITÓRIA – a aprovação e a desejada classificação – virá, porque EU MEREÇO e fiz o melhor de MIM.” Estudar para concurso público é, sem dúvida, uma opção de vida, uma escolha que será recompensada quando chegar a hora de TOMAR POSSE e entrar em exercício no CARGO PÚBLICO, tendo o GOVERNO COMO PATRÃO e a desejada ESTABILIDADE FINANCEIRA!
De uma visão puramente individual, para aqueles que não dispõem de alguma coragem para encarar o mercado como empreendedores, sim, ter o governo como patrão vale muito a pena! Mas de uma visão macro, de uma visão desenvolvimentista do país, essa procura crescente de jovens pelo serviço público decerto é algo preocupante. Tem gente que faria um bem muito maior à coletividade se pudesse se ativar naquilo que realmente sabe fazer, ou do que gosta. Infelizmente, neste ponto, o mercado brasileiro tb não ajuda. Tenho colegas tão competentes, com uma forte formação acadêmica e profissional, mas que por não encontrarem empregos minimamente razoáveis, acabam por seguir os caminhos do serviço público, em função do maior salário e da estabilidade. Neste caso, o SP se torna uma falta de opção e não exatamente uma opção.
Por outro lado, sobre essa injeção de juventude nos quadros da administração, ainda demoro em ver os pontos positivos por algo que já explico. Como já disse, tem mta gente competentíssima e cm sólida formação ingressando no SP (e, em alguns casos, com boa experiência de mercado tb). Todavia, ainda vejo como gargalo o fato de a administração pública não saber aproveitar essas “cabecinhas”. Muitas vezes, o indivíduo tem um excelente know how, passa num concurso dificílimo, mas na prática é alocado em tarefas de média a baixa complexidade (o mais comum). Então, enquanto não houver mecanismos de tornar o serviço público mais eficiente na prática, com algumas experiências de gestão por desempenho ou por competências, o Estado ainda patinará, ainda que admita as melhores cabeças.
Com esta realidade seremos um Pais desenvolvido plenamente.