O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodrígues, disse que as diversas mudanças na Pasta são de cunho administrativo, e não político, e rejeitou as acusações de influência do pensador Olavo de Carvalho nas demissões e nomeações nos três primeiros meses de governo. Ele participou de audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Durante cinco horas, Vélez respondeu a questionamentos de cerca de 50 deputados.
“Tenho optado por critérios administrativos, não políticos”, afirmou Vélez Rodrígues. “Valorizo as ideias gerais do professor Olavo Carvalho; a ideia, que não é exclusiva dele, de formação humanística através da leitura de grandes obras literárias, só isso”, completou. “As análises políticas, as brigas políticas do professor, são outros quinhentos, não tomo conhecimento.”
Um dos parlamentares que pediu o debate, o deputado Aliel Machado (PSB-PR) disse que a impressão é que o ministro não tem controle do ministério. “Em menos de três meses houve mais de 15 exonerações em cargos estratégicos e importantes e seis recuos no MEC”, citou. Para ele, “pessoas com influência no governo, de fora do País, controlam interesses dentro do ministério”.
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Aliel Machado citou a exoneração do presidente do Inep, de Marcus Vinicius Rodrigues, nesta semana, após publicação de portaria suspendo a avaliação da alfabetização no País. Posteriormente, a portaria foi revogada.
Em relação a essa demissão, Vélez Rodriguez afirmou que o diretor do Inep “puxou o tapete”: “Ele mudou de forma abrupta o entendimento que já tinha sido feito para preservação da Base Nacional Curricular e fazer as avaliações em comum acordo com as secretarias de Educação estaduais e municipais”, destacou. “Realmente considerei isso um ato grave, ele não consultou o ministro”, completou.
Paralisia
Na audiência, diversos deputados, como Marcelo Calero (PPS-RJ), acusaram o ministério de paralisia. “Onde encontro os projetos do ministério? Quando serão entregues?”, questionou a deputada Tabata Amaral (PDT-SP). Para ela, o ministro apresentou apenas carta de intenções.
Já deputados governistas, como Filipe Barros (PSL-PR) e Professora Dayane Pimentel (PSL-BA), afirmaram que a oposição tenta atribuir ao governo que começou há menos de três meses os problemas da educação brasileira.
O ministro compareceu com sua equipe e passou a resposta de algumas perguntas para eles, causando protestos dos parlamentares. Citando declaração do ex-presidente do Inep, que acusou Vélez Rodríguez de incompetência gerencial, o líder do Psol, Ivan Valente, chegou a pedir a renúncia do ministro durante a audiência. “Não vou sair”, disse o ministro. “É um abacaxi do tamanho de um bonde, mas quero retribuir ao País onde fui professor por 30 anos.”
Prioridades
Durante a audiência, o ministro Vélez Rodríguez citou como prioridade da Pasta a política nacional de alfabetização. Segundo ele, hoje ensino superior tem procedência orçamentária sobre a educação básica, e é preciso inverter isso.
Vélez Rodríguez também destacou como prioridade da Pasta o fomento às escolas cívicos-militares. De acordo com ele, já há experiências exitosas em andamento no Brasil, e essas escolas ajudariam inclusive a promover a segurança nas escolas. Ele propõe inclusive transformar em escola cívico-militar a Escola Estadual Professor Raul Brasil no município de Suzano (SP), onde ocorreu massacre neste mês, mas, segundo ele, ainda não recebeu resposta do governo estadual.
Para ele, a presença de profissionais de segurança pública nas escolas afasta traficantes. O ministro ligou a violência nas escolas ao consumo de crack no País. “O que se passou na Colômbia há 30 anos é o que se está passando no Brasil”, disse o ministro, causando protestos de alguns presentes.
O deputado Bira do Pindaré (PSB-MA) questionou por que a escola integral não está entre as prioridades do ministério. “Escolas integrais ajudam a diminuir a violência. O Brasil não precisa de armas, precisa de escolas públicas de qualidade”, ressaltou. O ministro concordou que as escolas integrais são o ideal.“Se tivéssemos recursos suficientes, faríamos, mas os recursos são limitados”, respondeu.
*Com Agência Câmara
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