Clique abaixo para ouvir o comentário de Beth Veloso veiculado originalmente no programa “Com a palavra”, apresentado por Lincoln Macário e Elizabel Ferriche, na Rádio Câmara:
Já é sabido que a internet está se tornando a vilã da infância brasileira. E essa tirania toda não é privilégio nacional. A blasfêmia é geral.
Admito que fico horrorizada quando vejo meninas com dois anos de idade com esmalte! E com um tablet na mão! Fuzilo as mães com o olhar! A verdade é que a infância não é mais a mesma. Mães conectadas no grupo da escola lembravam com uma enxurrada de chuva as fazia felizes! Duvido que meu filho trocaria umas férias no sítio pelas viagens que já fez pelo mundo. Em apenas 15 anos de vida! O mundo, para ele, virou uma fazenda! Ele sabe os nomes das capitais mundiais melhor do que dos rios brasileiros.
O problema da internet não é a robotização da infância ou o distanciamento do homem do seu habitat natural. Plantar árvores não faz ninguém mais ou menos feliz, mas o que destrói a infância é o excesso! O não ter limites é o que faz dos jovens uma geração triste e cansada. A vida adulta, frenética e chata, veio cedo demais. E a depressão é apenas o reflexo do cansaço do excesso de estímulos. Estamos assinando a carteira de trabalho dos nossos filhos. Colocamos o ensino como emprego e o aprendizado, como obrigação.
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A internet tem lá sua parcela de culpa, afinal, o acesso ilimitado a smartphones, redes sociais, videogames e youtubes faz parte da nossa culpa por exigir demais e não saber dizer NÃO aos filhos. Cada vez mais os jovens passam mais tempo na escola, sobre os livros, para dar conta da competitividade do mundo atual, e dedicam menos tempo ao ato de brincar, a verdadeira ESCOLA da vida, dizem os psicólogos .
Acredita-se que hoje o filho passa no vestibular com 5 anos de idade, ou seja, a “neura” pela aprovação começa cedo.
Eu não compactuo com a ideia de que a internet está arruinando as mentes superocupadas das crianças de hoje. Concordo que a síndrome do pensamento acelerado, termo cunhado por psicólogos modernos, como Augusto Cury , é uma ameaça à saúde mental e ao desenvolvimento socioemocional das crianças. Mas a internet pode ser também veneno e antídoto para essa geração Y e Z, que usa as redes como a droga viciante dos tempos modernos.
Antídoto porque na rede encontramos hoje toda sorte de informação para que possamos ter uma visão crítica e uma atitude altruísta sobre o momento alucinante que vivemos. Na rede, podemos ter os ensinamentos de especialistas como Augusto Cury a um clique, não como uma filosofia barata, mas genuinamente gratuita, como uma espécie de manual virtual da maternidade ou da infância saudável. Temos acesso a conteúdos filosóficos, educativos, sociais e ativistas de grande valia para nos mantermos informados e buscarmos uma atitude pensante perante os dramas da adolescência.
A internet, na verdade, é um grande ímã onde podemos atrair mais ensinamentos e sabedoria para nossa vida, desde que possamos usar essa energia para atrair aquilo que merecemos e desejamos. É compreensível que uma criança seja imatura para dialogar numa rede simultânea com 20 amigos, mas um pai ou mãe atentos consegue levar esse filho a crescer dentro dessa janela sociovirtual, desenvolvendo atitudes de conciliação, altruísmo, resolução de conflitos e gestos e palavras de generosidade.
O fundamental não é cortar ou eliminar a internet de mãos ainda pequenas, mas sim dosar este conteúdo e não abrir mão da maternidade, em nome de uma pseudo privacidade! Mãe que não confere o WhatsApp do filho é omissa! E ponto! Pai que não dialoga com seus filhos é ausente, e delega para as redes sociais a missão de fazer seu filho criar laços com o mundo.
O problema da internet não é o seu conteúdo, mas o seu uso indevido, e a incapacidade de processar a informação que se dissipa e a comunicação que se banaliza antes mesmo de ser digerida. O mundo pede pausas e respostas pensadas, e não piadas prontas.
Para mim, a internet responde a uma grande lei da atração, trazendo para si aquilo que seu magnetismo atrai. Quantos livros gratuitos podem ser lidos por pais e filhos antes de apagarem a luz do abajour?
Diante das inúmeras noticias não oficiais na NET de aumento de suicídio de jovens, me deparo também com uma experiência inacreditável de SOS vida online. Um site nos Estados Unidos está usando a análise de dados como ferramenta para salvar vidas. O sítio recebe mensagens de texto via telefone de pessoas que pedem socorro. E, a partir de palavras chaves, desvenda um comportamento padrão e dá respostas efetivas e rápidas contra uma ameaça real de morte. Em poucos minutos, a ambulância está na porta da casa do adolescente em crise.
Em menos de dois anos, o canal de mensagens chamado “Crisis Text Line” recebeu mais de 6,5 milhões de mensagens com pedidos de socorro. E a resposta é imediata. É assim que o mundo de dados pode salvar vidas. Muitas crianças e adolescentes não postam selfies, mas pedidos de socorro! Resta saber se os pais estão dispostos a deixar de lado o seu smartphone para ouvi-los. A internet é apenas o veículo. Se ele veio para nos salvar ou condenar, você é que decide!
Mande suas críticas, dúvidas e sugestões para papodefuturo@camara.leg.br.
Texto produzido originalmente para o programa Papo de Futuro, da Rádio Câmara.
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