Terminei de ler “Conversas com jovens diplomatas”, livro de Celso Amorim, ex-ministro de Relações Exteriores do Brasil. Amorim não necessita de maiores apresentações, uma vez que qualquer apresentação corre o risco de deixá-lo menor do que realmente é e representa para o Brasil.
Durante a leitura do livro, por mais de uma vez, lembrei-me da jornalista Sandra Coutinho, da TV Globo (GloboNews). Em uma coletiva na Casa Branca, neste ano, por ocasião da visita da presidenta Dilma ao presidente Barack Obama, ela fez uma pergunta para nossa presidenta.
A pergunta efetuada pela jornalista explicitamente diminuía a importância do Brasil no cenário político mundial. A pergunta foi tão chocante, no sentido de desqualificar a política externa brasileira, que chocou inclusive Obama, que “cortou” a frente de Dilma e respondeu à jornalista. Vexame para ela e para a Globo.
Lembrei-me de Sandra Coutinho porque, se ela tivesse lido “Conversas com jovens diplomatas”, ou mesmo acompanhado a política exterior do Brasil nos últimos dez anos, não teria passado vergonha.
O texto simples e didático de Celso Amorim é facilmente compreensível, inclusive por jornalistas como Sandra. O livro é leitura imprescindível para quem quer conhecer um pouco da política externa brasileira e o protagonismo do Brasil, no último período.
Leia também
Permaneci na Câmara dos Deputados por 16 anos e, nos últimos 12, participei das comissões (Relações Exteriores e Mercosul) que debatem a política exterior brasileira. Mesmo me dedicando a leituras e tendo uma boa assessoria, agora, depois de terminado este livro, sinto o quanto me faltava e o quanto me falta de conhecimento para ter contribuído e continuar contribuindo para debates nessa área.
PublicidadeMas, infelizmente, não faltava só para mim, por tudo que ouvi, neste período, no Congresso Nacional. Faltava e falta para muita gente.
Se é possível fazer alguma recomendação para os parlamentares que participam dessas comissões (Relações Exteriores e Mercosul), tanto da Câmara como do Senado, é que leiam o “Conversas com jovens diplomatas”.
Mas o objetivo deste texto não é comentar o livro (qualquer comentário não ficaria à altura do conteúdo). É simplesmente recomendá-lo, além de comentar um curto trecho das páginas 491 e 492. Escreve Amorim: “Nos anos 1962 e 1963, o Brasil parecia descobrir a si mesmo. O golpe militar foi um choque. Mesmo aqueles que não foram presos, torturados, mas que tinham ideias mais avançadas, se sentiram atingidos – pelo menos psicologicamente. Mas vocês não vão viver isso, posso garantir. Se eu tenho uma certeza é essa. Vocês podem até gostar mais ou menos de um governo, é parte da vida democrática. O Brasil não vai mais sofrer algo parecido com o que ocorreu, graças a Deus. Não só o Brasil é outro; o mundo é outro também. Sobre esse aspecto podem ficar tranquilos”.
Não sei se todos que no dia 16 de novembro de 2010 ouviram Celso Amorim proferir essas palavras estão tranquilos com o que está ocorrendo em nosso país. Tampouco sei se o querido Celso também está tranquilo. Acredito que não. Poucos dos que viveram o período da ditadura devem estar tranquilos.
Estão tranquilos aqueles que dela se locupletaram, aqueles que se favoreceram e os que desumanamente torturaram e assassinaram. Os jovens que hoje vão para a rua pedir golpe militar ou qualquer outro tipo de golpe são desinformados, manipulados por uma mídia cheia de interesses, que não é a defesa do direito de cidadania da maioria do povo, sequer daqueles que vão aos protestos.
Grande parte dos que vão para as ruas são instrumentalizados por pessoas sem escrúpulos, como parte dos líderes de PSDB, PPS, DEM e SD.
A cada semana se revelam os interesses dos golpistas. Semana passada, o artigo de Helena Landau, a musa das privatizações de FHC, diz que a economia brasileira só será salva com privatizações.
Ora, Fernando Henrique Cardoso só fez privatizar e quebrou o Brasil duas vezes.
Armínio Fraga, ao criticar a política econômica de Dilma, expôs como seria a de Aécio, caso tivesse vencido. Não venceu, agora é um dos que no dia a dia pregam o golpe de Estado.
Fraga disse que a política do PSDB seria de destruição dos direitos sociais do povo brasileiro, inclusive de muitos que pedem o golpe.
Não sei se golpistas, de todos os naipes, além de ler Veja, ver Globo e ouvir CBN, leem algo mais.
Recomendo que leiam o “Conversas com jovens diplomatas”. Celso é um democrata e tenho certeza de que não ficará zangado com esta minha recomendação.