O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu à declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o relatório apresentado ontem pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), com várias mudanças em relação ao texto original, “abortou” a reforma da Previdência. Em entrevista à GloboNews, Maia disse que não se sente traído por Guedes porque não tem compromisso com o governo. Segundo ele, a Câmara tem atuado como “bombeiro” para jogar água nas crises criadas pelo próprio Executivo.
“O governo é uma usina de crises, mas vamos criar uma blindagem. Pela primeira vez o bombeiro é a Câmara. A Casa sempre gerava mais atrito. O ministro da Economia era sempre aquele que gerava mais tranquilidade. Desta vez, não”, afirmou. “Tenho com os eleitores e o país. A reforma é passo fundamental para reduzir a pobreza e a miséria”, acrescentou.
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Minutos antes, em entrevista coletiva, também em São Paulo, Maia provocou o ministro, a quem chamou de amigo, ao questionar por que ele havia proposto uma regra de transição mais suave na reforma da Previdência dos militares e ressaltou que a reforma não é do ministro, tampouco do presidente da República.”Essa não é a reforma de Bolsonaro, é a reforma do Brasil”, afirmou.
Mais cedo, no Rio, Paulo Guedes disse que a Câmara cedeu ao lobby dos servidores públicos no relatório da comissão especial. “Eu acho que houve um recuo que pode abortar a nova Previdência. O recuo é que pelo menos pressões corporativas e de servidores do Legislativo forçaram o relator a abrir de R$ 30 bi para os servidores do Legislativo que já são favorecidos no sistema normal, então recuaram na regra de transição. E como isso ia ficar feio, recuar só nos servidores, estenderam também para o regime geral”, declarou.
Vice-presidente da comissão especial, o deputado Silvio Costa Filho (PRB-PE), disse ao Congresso em Foco que o comentário do ministro pode prejudicar o clima favorável existente hoje na Câmara em relação à reforma. O deputado cobrou equilíbrio e serenidade da parte de Guedes. “Ele é o ministro da Economia, ou Fazenda, que mais vezes foi ao Parlamento em apenas cinco meses. Mas essa foi uma declaração inoportuna. Neste momento, qualquer declaração assim tensiona o ambiente”, avaliou.
Segundo Silvio, a hora é de menos retórica e mais ação. “Não senti pressão de servidores. Eles tiveram seu papel como a sociedade civil teve. Em nenhum momento o relatório de Samuel foi construído na base da pressão. Foi feito na base do diálogo com a Casa. O governo, para ser ajudado, precisa querer ser ajudado. Algumas declarações não ajudam em nada o país”, considerou.
A comissão especial deve começar a debater o relatório de Samuel Moreira na próxima terça-feira caso seja atingido o quórum mínimo de 51 deputados na sessão de segunda. Hoje, pela primeira vez desde novembro de 2017, essa marca foi superada, abrindo caminho para o início das discussões ainda na próxima semana. De acordo com Silvio, o colegiado deverá se reunir na terça e na quarta-feira, tornando viável que a votação ocorra na semana seguinte, como quer Rodrigo Maia.
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