O meu texto é longo, perdoe-me o leitor. Mas já perdemos tempo demais com coisas rápidas neste país.
A tristeza com o incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro só não pode ser menor que o desejo coletivo de compreensão equilibrada que precisamos ter sobre as razões que o levaram ao fogo e à destruição.
Perderam-se memória, história e farta documentação. Coleções de perda irreparável.
Tudo isso foi consumido pelo fogo. É o fato que não tem volta. Uma tragédia.
Faltou vontade ou política para preservar? Dinheiro? Gente preparada ou estratégia?
Tudo isso parece ter faltado. Mais ou menos faltou tudo isso. Mas isso não é tudo nem para explicar tragédias culturais, como o incêndio do Museu Nacional, nem pra qualquer outra coisa neste país.
Haverá o simplismo de se criticar o orçamento, a responsabilidade fiscal que encurta, por necessidade, a alocação de recursos.
Mas saiba de algo inexorável pra entender a situação.
PublicidadeNão há dinheiro que feche a conta no Brasil pela simples razão de que não existe dinheiro solitário de governo em qualquer lugar do mundo que seja suficiente.
Óbvio que apertos fiscais dificultam a situação. Mas o aperto que talvez tenha feito faltar dinheiro ao museu é o que acomete outras áreas fundamentais no país, sempre com o olhar de culpa para o orçamento insuficiente.
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Impossível dizer que sobrará algum recurso aqui ou ali nos próximos anos. O cobertor curto do orçamento público é uma realidade nacional pelos desmandos que nos levaram a uma recessão imensa em 2015 e 2016, só minimizada no ano passado.
Há problemas de orçamento, leis vinculantes, gastos obrigatórios, folhas de pagamentos com privilégios sob a lei – e o mantra de direitos adquiridos, mesmo que absurdos -, e uma complexa legislação que impede recursos de chegarem rápida e eficientemente aos locais onde precisam chegar.
O receio justificado de possíveis desvios e casos reais e bilionários de malversação de dinheiro público fazem a burocracia piorar ainda mais a situação.
Colocado tudo isso, temos uma lacuna de evidente falta de eficiência nacional pra estruturar este país. Falta-nos competência. E não só a técnica!
Se o governo tem atualmente pouco dinheiro para bancar museus, e, quando tem, a burocracia ou a ineficiência de seus órgãos impede a agilidade, tampouco a lei ajuda a inserção da iniciativa privada que poderia trazer dinheiro novo e fresco a diversos setores.
Lei e preconceito
Há gente boa no mundo privado já investindo em áreas de interesse público porque governos não conseguem fazer tudo nem aqui nem em nenhum lugar do mundo.
A estes, não raro, a lei dificulta ou os expõe de forma injusta, demeritória.
O preconceito contra dinheiro privado no Brasil é dotado de bestialidade gigantesca. Há casos de profunda repulsa a parcerias com empresas em áreas de pesquisa, sob a lógica não de preservação de autonomia do interesse universitário ou público, mas, sim, do corporativismo ideológico interno das instituições que não rende um vintém à sociedade.
Partidarizadas, elas têm tomado um partido, um lado que não é o do público. No caso das universidades públicas, especificamente, não raro seus comandos têm confundido autonomia universitária com independência em relação à sociedade. Como pode uma instituição receber dinheiro público e se apartar de seu país? Com que direito, doutrina ou filosofia?
Alto lá com esta aberração semântico-sociológica de o que é público não ser voltado ao público!
A autonomia do pensamento, legítima e necessária, passa ao largo de administrações desastrosas, nem é artifício para não se prestar contas.
Por outro lado, há a leniência social nacional, também conhecida como “esperar pra ver” que se alimenta da falta de sensação de pertencimento.
Os ricos brasileiros, em sua grande parte, tem pouco ou nenhum espírito de apreço público, de desejo de doar, de construir o país, de abraçar o Brasil, de devolver, de criar, de ser benemérito. Porque uma grande parte dos brasileiros, ricos ou não, também não tem.
Dinheiro, por incrível que possa parecer, tem grande chance de ser um problema menor para nós.
Faltam-nos brasileiros dedicados ao Brasil porque a maioria se acha credora do país, acha que este país lhes deve. Daí, fazem nada. Ficam esperando tudo.
Na pior das hipóteses, quando têm algo à mão, uma oportunidade, tomam de assalto para si e seus partidos a coisa pública. Incompetentes, produzem tragédias e fazem museus serem dizimados pelo fogo.
Queimam o passado.
E tornam o presente e o futuro mais árido para os que estão no sentido contrário e a favor do Brasil.
Em tempo: voltei ao interior de Minas Gerais anos atrás, depois que conheci a Minas histórica aos 11 anos de idade, obra de meus pais a bordo de uma Brasília, o carro que tínhamos à época. Os museus por lá estavam em condições terríveis. Que as fagulhas fiquem longe.
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