Fábio Bispo, especial de Buenos Aires
Em papéis diferentes, Alberto Fernández e Cristina Kirchner voltarão à Casa Rosada, sede da Presidência argentina, no próximo dia 10 de dezembro, para mais quatro anos de governo. A vitória da chapa peronista em primeiro turno nas eleições desse domingo (27), por uma diferença de 8 pontos percentuais, é só um indicador do clima de polarização que o país viveu nesses últimos dias. E muito mais que buscar o pacto social para diminuir o racha —la grieta—, a nova gestão terá uma lista de outros desafios muito mais emergentes, como a questão cambial, tão presente no dia a dia dos argentinos, o desemprego e a alta inflação.
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Após uma longa noite de comemorações nas ruas de Buenos Aires, o dia seguinte foi marcado por um encontro entre Fernández e Macri, na Casa Rosada, onde conversaram por cerca de 50 minutos e acertaram os ponteiros para a transição. O novo presidente deixou o local sem conceder entrevistas, mas posou para foto apertando a mão do atual mandatário. Durante o encontro, Fernández entregou uma lista com 40 nomes que devem compor a transição.
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Ainda durante a noite festiva, por volta da meia-noite, o Banco Central da República Argentina (BCRA) impôs uma nova política para compra de dólares, com um limite máximo de US$ 200 por mês para cada cidadão que possua conta corrente. A medida, segundo informou o titular do BCRA, Guido Sandleris, tem como objetivo preservar as já parcas reservas da moeda americana que o país possui. Nem Fernández nem qualquer outro membro ligado ao novo governo falaram ainda sobre a medida, que tem validade até 31 de dezembro.
Em 2011, quatro dias após as a então presidente Cristina Kirchner ser reeleita, medida semelhante foi implantada e com maiores restrições que agora. O que indica uma forte tendência de que a restrição à moeda americana perdure por algum tempo após o prazo estabelecido para dezembro.
Segundo divulgou o diário La Nación, alguns bancos iniciaram as operações nesta segunda com a venda de dólares suspensas. Tal medida teria sido adotada para que os sistemas eletrônicos pudessem ser atualizados para atender as novas determinações do Banco Central.
Até o fim da manhã desta segunda, o clima nas casas de câmbio e a cotação da moeda americana se mantinham estáveis, na casa dos 65 pesos alcançados na sexta-feira pré eleição. Desde o início do ano, o dólar já acumula uma alta de 60%. As reservas do país nesse mesmo período sofreram uma redução de 40%.
Quem é Alberto Fernández
Fernández foi chefe de gabinete da Presidência entre 2003 a 2008, durante toda a presidência de Néstor Kirchner e parte da gestão de Cristina Fernández. Os dois romperam e ele deixou o governo em 2008. O presidente eleito também foi vereador de Buenos Aires de 1999 a 2003.
Filho de um juiz, Fernández é advogado, especialista em direito penal e professor titular da Universidade de Buenos Aires. Foi funcionário do Tribunal Federal de San Isidro, na década de 1980.
Após deixar o governo de Cristina Kirchner (2007-2015) em 2008, passou a ser um forte crítico do do que ficou conhecido como kirchnerismo. Sua escolha para encabeçar a chapa que levaria a sua ex-chefe como vice se deveu a uma série de fatores. Cristina Kirchner detinha parte do núcleo duro das alas do peronismo de esquerda, mas para enfrentar Macri nas eleições de 2019 precisava mais que isso. Além disso, Cristina enfrenta processos na Justiça em casos de corrupção, supostamente cometidos durante sua gestão. O mais conhecido é o caso dos cadernos, no qual o motorista Oscar Centeno teria registrado anotações de cobrança de propina de empresários por parte de membros do governo.
Foi aí que surgiu Fernández, que estava há pelo menos dois anos afastado da política ativa. Com a base garantida de Cristina, o advogado criminalista se encarregou de buscar os votos dos insatisfeitos com a gestão de Macri, que levou o país a recessão profunda que perdura desde abril de 2018.
Tido como de perfil moderado, um peronista progressista, como ele mesmo diz, Fernández se apresentou como candidato que tem capacidade de conversar com os setores mais liberais da economia e diferentes alas do partido, o que parecia não ser possível para Cristina.
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