O presidente Jair Bolsonaro completou um semestre no comando do Palácio do Planalto, cargo de maior envergadura política do Brasil. No período de janeiro a junho, ergueu sob o chão do seu governo uma “usina de crises”, conforme definiu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Apesar das polêmicas na área política, os aliados definem o semestre como positivo, com destaque para a área econômica: o sucesso no acordo entre o Mercosul e a União Europeia são considerados o triunfo do governo. Após vinte anos de negociação, os dois blocos selaram um acordo de livre comércio. Mercosul e União Europeia representam, juntos, cerca de 25% do PIB mundial e um mercado de 780 milhões de pessoas.
O deputado Abou Anni (PSL-SP) garante que a economia brasileira volta aos trilhos do desenvolvimento. Ele anota a grande marca do governo Bolsonaro nos primeiros seis meses: “Estabilizar a economia do país”.
Na Câmara, a reforma da Previdência é a menina de ouro do ministro da Economia, Paulo Guedes. A proposta, segundo o líder do governo no Senado Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), contribuirá para a melhoria do cenário econômico, com a redução do alto índice de desemprego do Brasil. Hoje, as taxas de desemprego estão em 12,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que representa 13,4 milhões de brasileiros fora do mercado de trabalho.
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“A reforma da Previdência vai contribuir ainda mais para o sucesso da política de leilões, transmitindo confiança aos investidores estrangeiros”, prevê. “O Congresso está fazendo a sua parte, avançando na agenda econômica neste novo ciclo político inaugurado pelo presidente Jair Bolsonaro”, completou.
No cenário macroeconômico, a economia ficou estagnada no primeiro semestre, com uma queda de 0,2% – embora as projeções indiquem alta de 0,4% para o segundo semestre. Por outro lado, juros e inflação mostram um cenário menos pessimista. Em junho, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve a taxa básica de juros (Selic) em 6,5% ao ano.
PublicidadeJá o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo 15), considerado uma prévia da inflação oficial (IPCA), desacelerou para 0,06% em junho, após ter sido de 0,35% em maio. A taxa é a menor para um mês de junho em 13 anos, desde 2006, quando houve deflação de 0,15%. O acumulado no ano ficou em 2,33% e, em 12 meses, em 3,84%.
Reforma da Previdência fica para agosto
Mesmo com a articulação política do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que queria concluir a votação da reforma da Previdência antes do recesso parlamentar, os deputados aprovaram apenas o primeiro turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 06/2019) que altera as regras do sistema de aposentadoria. Maia já marcou o segundo turno para 6 de agosto, pouco depois do retorno das atividades do Congresso. Ainda assim, a expressiva votação no primeiro turno (379 votos favoráveis contra 131), em que pese a aprovação de destaques com regras mais brandas para algumas categorias, animou o mercado financeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo, mais importante indicador do desempenho médio das cotações das ações negociadas no Brasil, atingiu a expressiva marca de 104 mil pontos.
Usina de crises
Na indústria governista, funciona a máquina de polêmicas com ataques da ala orquestrada pelo escritor Olavo de Carvalho a militares do Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional, ao Supremo Tribunal Federal, entre outros. Olavo influencia um time de ministros: o do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o da Educação, Abraham Weintraub, e o das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Os apóstolos do escritor já estiveram no centro de, pelo menos, uma polêmica cada. Salles foi acusado por servidores de promover o desmantelamento da política ambiental, Weintraub promove corte bilionário de universidades públicas acusadas por ele de balbúrdia, o que motivou algumas manifestações neste primeiro semestre.
Nas redes sociais, o vereador eleito pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, filho de Bolsonaro responsável pela comunicação do pai com o universo virtual, criou uma rede de desafetos, incluindo críticas ao Movimento Brasil Livre (MBL), ao governador de São Paulo, João Dória (PSDB) e ao general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
A influência ideológica resultou na demissão do primeiro ministro do governo, o ex-secretário de Governo Gustavo Bebianno – acusado de comandar um esquema de candidaturas laranjas do PSL, partido de Bolsonaro, nas eleições de 2018. Outro exonerado, dessa vez da ala militar, foi o general Santos Cruz, que sucedeu Bebianno na Secretaria de Governo.
Assim como o irmão mais novo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) opina diretamente nas decisões do presidente da República. Ele conseguiu a demissão de dois diretores da Apex-Brasil, a agência brasileira de fomento à exportação, Alex Carreiro e o embaixador Mario Villalva.
Nas redes sociais nasceram ainda a polêmica sobre a exaltação explícita do período militar, quando Bolsonaro determinou a celebração do golpe de 1964, e os ataques ao vice-presidente Hamilton Mourão, chamado de “idiota” e “estúpido” por Olavo.
Carlos defendeu a maneira como o pai interage na internet. “As pessoas que querem Bolsonaro longe das redes sociais sabem que é isso que o conecta com o povo, já que não tem mídia a seu favor”, escreveu no Twitter. “Foi isso que garantiu sua eleição, inclusive. Em outras palavras, o querem fraco e sem apoio popular pois assim conseguiriam chantageá-lo”, seguiu.
O líder do Cidadania, deputado Daniel Coelho (PE), alerta para a falta de prioridade nas ações do Palácio do Planalto. “Muita confusão com assuntos que não deveriam ser prioridade, principalmente nas redes sociais. Uma forçada de barra em decretos inconstitucionais que deveriam ser discutidos de forma mais ampla pela sociedade. Agenda de conflito no campo comportamental que não ajuda”, disse ao Congresso em Foco.
Pacote anticrime
Principal bandeira do governo para a área de segurança, o pacote anticrime desenhado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, decola lentamente, por tramitar concomitantemente com a reforma da Previdência. O pacote tem como o objetivo mais efetividade no combate a três frentes principais: corrupção, crime organizado e crimes violentos. O relator do grupo de trabalho sobre o pacote anticrime, deputado Capitão Augusto (PL-SP), apresentou o relatório na quarta-feira (3) passada.
Na visão da deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), Bolsonaro põe em prática suas promessas eleitorais, o que significa um importante legado. “Penso que ele está sendo fiel ao que prometeu na campanha. Isso é bastante raro”, relatou. O combate à violência e à corrupção e a melhoria do cenário econômico foram bandeiras do candidato Bolsonaro, em 2018.
Votações sem negociatas
Outro progresso, na avaliação do deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), foi a inovação na relação política do governo com o Congresso, pondo fim às votações com base na troca de favores. “O principal legado é votar várias matérias do governo sem a distribuição de cargos e outras benesses. Isso mostra a responsabilidade que o Congresso tem com o país”, disse.
Áudios complicam Moro
Um dos principais auxiliares de Bolsonaro, o ministro da Justiça, Sergio Moro, se depara com a necessidade de esclarecer as mensagens postas à luz pelas revelações do site The Intercept Brasil, que levantam suspeita sobre a atuação do ex-juiz no âmbito da Operação Lava Jato.
Mensagens reveladas pelo Intercept indicam troca de colaboração entre Moro, então juiz federal, e Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato. Segundo a lei, o magistrado não pode auxiliar ou aconselhar nenhuma das partes de um processo.
Povo na rua
Favoráveis ao governo foram as manifestações populares realizadas em dois domingos (26 de maio e 30 de junho), que mostraram que a usina de crises não atingiu o ânimo do brasileiro em relação ao presidente Bolsonaro, em que pese a pesquisa Ibope encomendada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) apontar oscilação negativa da aprovação do governo Bolsonaro. Os números mostram que 32% dos brasileiros avaliam o governo como ótimo ou bom, enquanto 32% o consideram ruim ou péssimo.
Já o Datafolha divulgou, em 08 de julho, mais uma pesquisa sobre os índices de aprovação ao governo Bolsonaro. Entre os entrevistados, 33% responderam que o presidente da República está fazendo um governo ótimo/bom. Aqueles que avaliam o governo como regular são 31% e 33% classificam a gestão como ruim/péssima.
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