A declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o Ato Institucional 5 (AI-5) gerou um festival de críticas a ele no Congresso. A oposição não perdoou e atacou o ministro. Mas parlamentares autodeclarados independentes ouvidos pelo Congresso em Foco acreditam que a polêmica não vai afetar as votações.
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Para esses deputados, a fala de Guedes pode até causar apreensão ao mercado, mas não muda o “espírito reformista” do atual Congresso. Na avaliação de três deputados ouvidos pela reportagem, quem tem feito a agenda econômica avançar não é o ministro, mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e, em um segundo plano, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Um dos parlamentares ouvidos pelo Congresso em Foco sob condição de anonimato chamou Guedes de irresponsável e reclamou das sucessivas polêmicas em que o ministro tem se metido. “Ele disse para os jornalistas que estava falando sobre o AI-5 como pessoa física. Ora, ele é o ministro da Economia. Tudo que fala tem efeito no mercado”, criticou esse deputado.
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Relator da reforma da Previdência, o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) acredita que o ministro cometeu um “ato falho” e tentou se corrigir posteriormente. Mesmo assim, segundo ele, não conseguiu apagar o erro. “Qualquer discurso sobre a possibilidade de um AI-5 é no mínimo uma irresponsabilidade. O desgoverno do PT se combate com resultados e um bom governo, não com ataques à democracia”, declarou o tucano.
Para o deputado Raul Henry (MDB-PE), Paulo Guedes sofre de “verborragia compulsiva”. “Um pecado dele é a visão ultraliberal de que o mercado resolve tudo, inclusive as assimetrias sociais. O outro é a verborragia compulsiva. Creio até que ele seja bem-intencionado, mas comete excessos ao falar”, afirma o deputado.
PublicidadeVice-governador de Pernambuco até o fim do ano passado, Henry entende que esse tipo de comentário por parte do ministro fortalece o presidente da Câmara. “A figura central do país hoje é Rodrigo Maia. Sem ele, a Previdência não tinha passado. Ele tem uma capacidade de articulação e de diálogo com todo mundo impressionante, mas o presidente da República também não ajuda”, observou. “O grande erro de Bolsonaro é tensionar a relação com as instituições democráticas e os erros políticos cometidos na política ambiental, de educação e relações exteriores”, acrescentou.
Após afirmar na segunda-feira em Washington que as pessoas não deveriam reclamar “se alguém pedir o AI-5”, em alusão a uma declaração do ex-presidente Lula de que os brasileiros deveriam seguir o exemplo do Chile e da Bolívia, de “lutar, resistir”, Guedes voltou atrás na declaração. Depois de saber que a entrevista coletiva era transmitida em tempo real, ele voltou a falar do AI-5, mas disse ser contrário ao ato mais duro da ditadura, que resultou em torturas, mortes, censura e outras violações dos direitos individuais.
Guedes defendeu o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, que sugeriu o AI-5 caso “a esquerda radicalizasse”. De acordo com o ministro da Economia, o líder do PSL reagiu ao que chamou de convocações feitas pela esquerda, endossadas pelo ex-presidente Lula.
O dólar fechou hoje em R$ 4,24, novo recorde, pelo segundo dia consecutivo. Ainda ontem Guedes afirmou que não está preocupado com nível atual da moeda americana. Especialistas entendem que as duas declarações tiveram, em maior ou menor medida, algum efeito sobre a cotação final da moeda norte-americana. Na avaliação de analistas, outros possíveis estimuladores dessa alta foram a frustração do megaleilão do pré-sal, no dia 6, que atraiu menos dólares que o esperado, e a instabilidade na América do Sul, que tem afetado o mercado da região.
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