A inclusão de aposentadoria especial para policiais federais e rodoviários, a liberação de emendas parlamentares e a nomeação em cargos da estrutura da máquina federal travam a votação da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara. O Palácio do Planalto não consultou o chamado centrão, grupo de partidos independentes ao presidente Jair Bolsonaro, sobre as alterações acrescentadas no relatório final, o que gerou ruído no Congresso. Juntos, essas siglas compõem a maioria da Câmara.
Criticado por falta de habilidade no diálogo com os parlamentares, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, havia negociado a liberação de R$ 20 milhões por deputado que votar favorável ao relatório de Samuel Moreira (PSDB-SP), mas o recurso não foi empenhado. Dessa forma, alguns aliados aconselham segurar a votação.
“Essa é a nova política do presidente da República”, ironizou o deputado Carlos Veras (PT-PE) em conversa com o Congresso em Foco. Segundo ele, o Palácio do Planalto promete ajuda aos parlamentares, mas não cumpre. “É a política do toma-lá-dá-cá”, alfinetou.
Diante da falta de consenso, o presidente da comissão especial da reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PL-AM) adiou a sessão destinada à leitura do relatório. Dispensou os deputados enquanto há a discussão sobre a conclusão do parecer final.
Principal articulador da proposta no Congresso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se reúne com líderes dos partidos do centrão e com o relator Samuel Moreira numa tentativa de votar o texto ainda nesta semana, mas o clima de desconfiança é alto.
O vice-líder do governo na Câmara, o deputado Darcísio Perondi (DEM-RS), saiu para ver um neto que está de visita a Brasília. “Vou ver meu neto e volto daqui a uma hora”, disse a um grupo de aliados.
Ao Congresso em Foco, ele garantiu que o governo tem votos suficientes para votar a reforma, mas não descartou o adiamento. “Se quiserem, votamos nesta quarta. Mas não importa adiar uma ou duas semanas”, disse. “A população quer e precisa da reforma”, seguiu.
A oposição celebra a indefinição. “Nosso desejo é adiar ao máximo a votação”, afirmou Veras. Segundo ele, “o que é contra o povo não precisar ser votado”. Veras acredita que a votação ficará para depois do recesso do Congresso, que começa em 18 de julho.
Ramos avisou que tentará votar os cinco pedidos de adiamento de análise do relatório. Caberá ao governo e a partidos favoráveis à reforma se mobilizarem para derrubar esses requerimentos.
Além dessas confusões, o centrão descarta aprovar medidas que beneficiariam governadores e prefeitos que fazem campanha contra a reforma – em que pese a defesa de Maia em inclui-los na reforma.
Esses partidos querem que o desgaste político fique com os governadores e prefeitos, que teriam que aprovar projetos nas respectivas assembleias para endurecer regras de aposentadorias de servidores.