Em debate na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (14), o economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga afirmou que está muito claro que haverá uma recessão profunda no país. “Já se delineia uma queda bastante grande do PIB, 8% pode ser um número”, avaliou, ponderando que as estimativas ainda são especulativas.
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Segundo Fraga, a pandemia criou a “tempestade perfeita” em um momento em que o país estava saindo de uma crise econômica. O deficit primário, segundo ele, deverá ficar em dois dígitos e a dívida pública caminha para 100% do PIB. “Se não chegar a 100% este ano, chega no ano que vem”. Ele defendeu a insistência nas reformas – administrativa e tributária – e até mesmo uma revisão da reforma da Previdência aprovada em 2019.
Na visão do economista, o país perdeu a chance de interromper o processo de crescimento da curva, mas ainda há tempo para uma ação coordenada e científica do governo federal. “Ainda há tempo e necessidade para traçar uma estratégia nacional”, disse ele.
Fraga elogiou a destinação de recursos aos mais vulneráveis, por meio do CadÚnico e do Bolsa Família, por exemplo, mas reiterou que ainda há dificuldade para que o crédito chegue na ponta. Ele também elogiou o agronegócio, que vem mantendo sua produtividade em meio à pandemia.
O seminário virtual foi moderado pelo economista e contou com a participação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de outros deputados. Entre os debatedores estavam a socióloga e presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade Lima, a estatística e pesquisadora da Universidade de Harvard Marcia Castro e o médico e diretor-geral do hospital Sírio, Libanês Paulo Chapchap.
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“Novo normal”
Segundo a presidente da Fiocruz, haverá um novo normal após a pandemia. “Não voltaremos à dinâmica social que tínhamos antes”, disse ela. Segundo Nísia, salvar vidas vai abrir espaço para que se pense na retomada econômica. Armínio Fraga também disse que muita coisa vai mudar nas relações de trabalho e que alguns ganhos vêm para ficar, sobretudo no desenho da assistência social do Brasil.
Por sua vez, a pesquisadora de Harvard afirmou que o Brasil tem a chance de dar uma das melhores respostas à pandemia, com o Sistema Único de Saúde e o histórico de resposta a epidemias. “Não precisa inventar nada, é só utilizar o que já tem”, disse Marcia, ponderando, porém, que essas ferramentas estão subutilizadas.
O diretor-geral do hospital Sírio Libanês chamou atenção para a vulnerabilidade em presídios e comunidades e defendeu monitoramento constante, retomada inteligente e ampliação da capacidade de tratamento. “Nós não vamos sair desta pandemia tendo um alto grau de imunidade da população, a chamada imunidade de rebanho. Isso vai demorar muito”, disse ele, frisando que o país ainda está em curva de aceleração de infecção.
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