É difícil adjetivar um pedófilo. Chamá-lo de imoral, criminoso, bandido, canalha ou do que mais se queira, é pouco. Pouco porque não há um adjetivo condizente para esta desumanidade. Portanto, escrever um artigo criticando um criminoso, bandido, imoral, canalha e seja lá o que mais for, é tarefa difícil.
Quando li os comentários que foram feitos contra Valentina, uma criança de 12 anos, fiquei desconcertado, pensando sobre o que deveria fazer. O que deveria escrever. Só sei de uma coisa: se fosse o pai da Valentina, denunciaria todos os pedófilos e cobraria da polícia uma ação concreta de investigação e punição. Não ficaria quieto enquanto isso não ocorresse. Sou sincero: sei que me cansaria. Mas não daria paz aos que devem investigar.
Chegamos onde chegamos em termos de racismo e agressividade de gênero e de violência contra as crianças devido a um Estado inoperante. No caso da pedofilia e da violência contra a mulher, além de inoperante, é um Estado machista.
A nossa cultura é machista. Não bastasse o fato de todos (homens) sermos machistas, muitas mulheres também o são. Esse fermento machista construiu um Estado machista, por isso permissivo em relação à violência contra a mulher e “incapaz” de elaborar políticas públicas de promoção da igualdade de gênero e de prevenção da violência. Por mais vontade que tenha o governante, a máquina estatal machista não executa as políticas decididas.
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O machismo não está só na agressão física; está no assobio na rua, no passar de mão, no comentário com o amigo, no olhar de desejo, nas piadas, enfim, em todo ato desrespeitoso em relação a uma mulher. No caso da Valentina, por sua idade, além do machismo, está caracterizada a pedofilia.
Li várias matérias sobre a agressão de que Valentina foi vítima e, numa delas, está explicitado que “os pais da menina não foram autorizados pela emissora a comentar o assunto”. Deixar claro, a emissora é a Band. E o que a Band tem para nos dizer?
Abra-se a cortina: comentário rápido. A matéria também é machista ao afirmar que “os pais…”; ora, porque não explicitar que o pai e a mãe de Valentina foram persuadidos pela Band a nada fazerem? Fecha-se.
Nesse “MasterChef Júnior”, nome do programa que a emissora levou ao ar, participam crianças de 9 a 13 anos de idade. Certo que, para participarem, o pai e a mãe deram uma autorização.
O contrato de autorização assinado, se não tem, deveria ter cláusulas responsabilizando a emissora por qualquer dano à imagem da criança exposta. E que, se forem vítimas de qualquer agressão (Valentina é o exemplo), caberia à emissora a responsabilidade pela contratação de advogados para que os danos fossem reparados.
Valentina foi agredida. Seus agressores merecem punição e sua imagem deve ser reparada. Mas a situação vai além desse momento: como ter certeza de que, no futuro, Valentina não terá algum trauma psicológico? Aliás, como ter certeza de que, no futuro, algumas dessas crianças, seja por receberem críticas ou mesmo elogios, não sofrerão psicologicamente alguma consequência?
Em consequência da agressão sofrida por Valentina, centenas de mulheres, estimuladas por uma hashtag, decidiram contar a violência que sofreram na infância. A violência é mais corriqueira do que se imagina, e vem de onde menos se espera: de dentro da família e dos amigos.
A agressão a Valentina é um retrato do Brasil atual: violência contra jovens e crianças (pedofilia) e violência contra a mulher. Os que os cometem são os mesmo que criticaram o tema da redação do Enem: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Tema atual num país que assassina uma mulher a cada duas horas e violenta milhares a cada hora.
Os mesmos beócios criticaram também o Enem deste ano pela inclusão de uma questão na prova de Ciências Humanas. A prova trouxe uma pergunta usando uma frase de Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher; torna-se mulher”.
Sim, torna-se mulher. Se no dia-a-dia muitos têm que “matar um leão” por dia para se tornar alguém, a mulher, além de “matar um leão por dia”, tem que “matar um machista” por dia.
Valentina já aprendeu que essa frase de Simone de Beauvoir é para valer.
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queira, é pouco. Pouco porque não há um adjetivo condizente para esta desumanidade. Portanto
escrever um artigo criticando um criminoso, bandido, imoral, canalha e seja lá o que mais for, é tarefa difícil.
desconcertado
pensando o que deveria fazer. O que deveria escrever. Só sei de uma coisa, se fosse o pai da Valentina
denunciaria todos os pedófilos e cobraria da polícia
ação concreta de investigação e punição. Não ficaria quieto enquanto isso não ocorresse. Sou sincero: sei que me cansaria. Mas não daria paz aos que devem investigar.
de racismo e agressividade de gênero e de violência contra as crianças devido a um Estado inoperante
No caso da pedofilia e da violência contra a mulher, além de inoperante
é um Estado machista.
todos (homens) sermos machistas, muitas mulheres também são. Este fermento machista construiu um Estado machista, por isso permissivo em relação
violência contra a mulher e ‘incapaz’ de elaborar políticas públicas de promoção da igualdade de gênero e de prevenção da violência. Por mais vontade que tenha o governante, a m
quina estatal machista não executa as políticas decididas.
só na agressão física, est
no assobio na rua, no passar de mão, no comentário com o amigo, no olhar de desejo, nas piadas, enfim
em todo ato desrespeitoso em relação a uma mulher
o caso da Valentina, por sua idade, além d
machismo,
pedofilia.
numa delas
est
explicitado que “os pais da menina não foram autorizados pela emissora a comentar o assunto”. Deixar claro, a emissora é a Band. E o que a Band tem para nos dizer?
a cortina: comentário rápido. A matéria também é machista ao afirmar que “os pais…”, ora, porque não explicitar que o pai e a mãe de Valentina foram persuadidos pela Band a nada fazerem. Fecha
.
Júnior”, nome do programa que a emissora levou ao ar, participam crianças de 9 a 13 anos de idade. Certo que
para participarem
o pai e a mãe de
autorização.
imagem da criança exposta, e que
se forem vítimas de qualquer agressão (Valentina é o exemplo), cabe
emissora a responsabilidade pela contratação de advogados para que os danos
reparados.
. Mas a situação vai além deste momento: como ter certeza de que
no futuro
Valentina não terá algum trauma psicológico? Aliás, como ter certeza
que
no futuro
algumas dessa crianças, seja por receberem cr
ticas ou mesmo elogios, não sofrerão psicologicamente alguma consequência?
centenas de mulheres
estimuladas por uma
hashtag
decidiram contar a violência que sofreram na infância. A violência é mais corriqueira do que se imagina
e vem de onde menos se espera: de dentro da família e dos amigos.
: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Tema atual num país que assassina uma mulher a cada duas horas e violenta milhares a cada hora.
deste ano pela inclusão de uma questão na prova de
umanas. A prova trouxe uma pergunta usando uma frase de Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”.
para se tornar alguém, a mulher
além de “matar um leão por dia”
tem que “matar um machista” por dia.