O Estado do Ceará ficou conhecido como “Terra da Luz” por ter sido a primeira província brasileira, ainda no século XIX, a abolir a escravidão.
No dia 25 de março de 1884, quatro anos antes da promulgação da Lei Áurea, a antiga província assegurava que “a liberdade abria as asas” sobre cerca de trinta mil escravos que por aqui ainda eram cativos.
Assim como o território do Ceará, outro pedaço de chão no globo também ganhou denominação “iluminada” por suas inspirações e passou a ser chamada de “Cidade Luz”, por atrair, durante séculos, as mentes mais iluminadas nas diversas vertentes das artes, da filosofia e das ideias.
Paris tornou-se berço de movimentos revolucionários como o Iluminismo.
E foi exatamente em Paris, no dia 17 de outubro de 1987 e em resposta a uma provocação do Padre Joseph Wresinski, que cem mil pessoas reuniram-se no Adro das Liberdades e dos Direitos Humanos, no Trocadéro, para render homenagem às vítimas da fome, da violência e da ignorância, condenando a miséria e apelando pela união da humanidade em torno do respeito aos Direitos Humanos.
Os cem mil cidadãos presentes eram pessoas de todas as origens, de todos os meios sociais e de todas as crenças.
Não por acaso, nesse mesmo pátio, em 1948, havia sido assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Cinco anos depois da manifestação dos cem mil, já no dia 22 de Dezembro de 1992, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou uma resolução que proclamava o dia 17 de outubro como a “Jornada Internacional para a Eliminação da Pobreza”, confirmando a contribuição das famílias mais pobres para a construção do mundo.
A partir desta decisão da ONU, o dia 17 de outubro passou a ser a data para refletir sobre os mais pobres e todos aqueles que com eles lutam contra a miséria e a exclusão, mobilizando o mundo em busca da solidariedade e do compromisso para que os mais pobres tenham os direitos fundamentais restituídos e assegurados.
No dia 17 de outubro de 1992, Javier Perez de Cuellar, então Secretário Geral das Nações Unidas e representando um grupo de personalidades internacionais, lançou o apelo para o reconhecimento da Jornada Mundial da Recusa da Miséria.
Nos dias atuais, essa luta contra a miséria torna-se ainda mais desafiadora. As mais nefastas ebulições ao redor do mundo já colocavam um contingente cada vez mais crescente longe de direitos básicos e, para aumentar o desalento, a solidariedade perde protagonismo e uma guerra fraticida ganha relevância movida por interesses mesquinhos.
Um cenário seriamente agravado pela pandemia do Covid-19.
Aqui no Brasil, durante a pandemia, a situação piorou muito, atingindo, principalmente, quem já vivia em situação de pobreza.
Segundo os dados do próprio Ministério da Cidadania, já são 39,9 milhões de pessoas que vivem na extrema pobreza no Brasil.
Este número supera a população inteira do Canadá, que que tem 38 milhões de habitantes.
Como os números do Ministério da Cidadania levam em consideração apenas as famílias que estão no CadÚnico, o Cadastro Único para programas sociais do governo federal, muito fácil projetar um contingente ainda maior desses nossos irmãos em situação degradante.
Pelo números do governo federal, são mais de 14 milhões de famílias cadastradas, com renda per capta de até R$ 89,00.
Esse número aumentou em cerca de 3 milhões de famílias, nos últimos cinco anos,
Oficialmente, o número de pessoas no Brasil em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, convivendo diariamente com a fome, chega a pelo menos a cerca de 10,3 milhões os brasileiros, mas sabemos que cerca de 41% da população brasileira, ou 84,9 milhões de pessoas, convivem com a fome ou algum grau de insegurança alimentar.
Esse quadro brasileiro da atualidade, remete ao depoimento do ex-secretário geral das Nações Unidas, quando em visita ao pátio da Trocadero, em 1989, disse que “vivemos num mundo onde a interdependência é a palavra-chave. Dependemos uns dos outros. Os pobres dependem dos ricos, os ricos dependem dos pobres. (…) No que me diz respeito, não tenho nem poder material nem tampouco político. A ONU depende do governo dos Estados membros. No entanto, tenho uma força moral. E essa força ponho-a ao serviço desta causa de que o padre Wresinski foi e continua a ser, mesmo depois da sua morte, o porta-voz.”
Hoje, temos que manter iluminadas as mentes dos que se rebelam contra essa situação de miséria. Seja no Brasil ou em outro canto do mundo.
O 17 de outubro requer de todos nós, humanos e fraternos, uma indignação permanente frente a esse quadro, instigando a que mentes e corações estejam engajados em defender um país que não tolere a fome e a miséria e seja, permanentemente, solidário à dor de sua gente. Que sejamos um farol contra a miséria!!!
Um farol contra a miséria
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