Resquício da ditadura militar na capital da República, a ponte Costa e Silva é alvo constante de protestos, que acabam alterando o nome da placa do monumento que liga dois bairros nobres de Brasília, a Asa Sul ao Lago Sul. Com sua exuberante paisagem e privilegiada vista para o Lago Paranoá, a Costa e Silva amanheceu nesta quinta-feira (24) adesivada com o nome da vereadora Marielle Franco – morta a tiros no Rio de Janeiro em março do ano passado.
O ato foi organizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, que publicou fotos nas redes sociais mostrando a ação. No texto, a direção do movimento cita a homenagem ao dia 25 de julho, em que é lembrado o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
Mas não foi a primeira vez que a ponte passou por mudanças de nome. No governo Rodrigo Rollemberg, a Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou um projeto que rebatizou a obra com o nome do líder estudantil Honestino Guimarães, retirando assim o do presidente militar Costa e Silva. Antes, houve outras três tentativas, em 1999, 2003 e 2012, em renomeá-la. As propostas, no entanto, não avançaram.
Em novembro do ano passado, a Justiça do Distrito Federal considerou a lei inconstitucional e ordenou que a obra voltasse a homenagear o ex-presidente. Foi uma resposta a uma ação de impetrada pela deputada federal Bia Kicis (PSL-DF). Segundo ela, a lei que rebatizou a ponte era “inconstitucional e autoritária”. Com a decisão, a obra voltou a se chamar Costa e Silva.
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Projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, a ponte foi inaugurada em 1976. Na ocasião, foi batizada de “Ponte Monumental”, em referência à grandeza da obra naquela época. Seu nome original foi modificado pelo ex-presidente Ernesto Geisel, em homenagem ao seu antecessor, segundo a ocupar a cadeira no período militar.
Apologia a fato criminoso
O grupo feminista colocou ainda um cartaz na parte de baixo da estrutura, que menciona o artigo 287 do Código Penal. O normativo prevê prisão a quem fizer “apologia de fato criminoso ou de autor de crime”. Na internet, as mulheres criticam a “falta de respostas” sobre o mandante do crime. “Mulher negra, lésbica, periférica e política eleita foi brutalmente assassinada e, há exatos 498 dias, o Brasil e o mundo inteiro ainda não têm respostas sobre quem mandou matá-la”, afirmou o grupo.