No último dia 3, a imprensa divulgou que polícias civis e militares mataram no ano passado (2014), no Brasil, 3.022 pessoas, uma média de 8,5 pessoas por dia, ou seja, uma pessoa a cada oito horas. Esses números significam que para parte (pobres e pretos) da população brasileira, estar próximo de um policial é muito perigoso.
Esses números foram tornados públicos pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo a ONG, a violência policial representa um crescimento de 37% em relação a 2013. É muita violência e há quem pergunte: “O que tenho com isso”?
Em maio passado foi divulgado que 42.416 pessoas foram mortas por armas de fogo em 2012 no Brasil, uma média de 116 pessoas por dia. É a média de 4,8 mortes por hora. E a maioria das vítimas é de jovens e negros entre 15 e 29 anos de idade. Mesmo assim, há os que perguntam: “O que tenho com isso?”
A violência, infelizmente, não esta só presente no cotidiano do povo brasileiro, mas também campeia mundo afora.
Este mês começou com mais um massacre nos Estados Unidos. Um homem de 20 anos “abriu fogo” no campus de uma universidade e nove pessoas morreram. Segundo a imprensa, nos últimos 10 anos o número de pessoas mortas por armas de fogo nos EUA é 40 vezes maior do que o número de mortos em ataques terroristas. Dados do Departamento de Justiça dos Estados Unidos mostram que 130.347 pessoas morreram por armas de fogo entre 2001 e 2011. Por ser nos EUA, há quem pergunte: “O que tenho com isso”?
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Nos EUA, não há controle: qualquer um, inclusive os psicopatas, podem ter armas. Ou não é psicopata quem tem uma arma e entra numa escola, universidade, parque ou qualquer outro lugar atirando, ferindo e matando?
Nos EUA, a violência não é só interna, entre a população civil. Há também a violência de Estado: sistematicamente os EUA promovem a guerra e cometem crimes contra a Humanidade.
Semana passada, um hospital da ONG Médicos Sem Fronteiras, no Afeganistão, foi bombardeado. O ataque deixou 19 mortos, sendo que 12 são trabalhadores da ONG, sete pacientes, sete deles crianças, além de 37 feridos. Segundo a ONU, o ataque pode ser considerado um crime de guerra. E sempre há alguém a perguntar: “O que tenho com isso”?
Tenho ou temos tudo a ver com isso, afinal essas mortes representam o fracasso da nossa civilização. O fracasso da Humanidade. Não conseguir viver em paz com os vizinhos, com os que pensam diferente, é a clara demonstração do fracasso.
Cada vez que os Estados Unidos da América do Norte cometem um crime, como esse (no Afeganistão) contra a população civil, eles dizem que “são danos colaterais”. E, de dano colateral em dano colateral, milhares de civis já foram assassinados e o máximo que o Tio Sam faz é pedir desculpas. Nenhuma nação reage à altura que deveria reagir.
Eu, cidadão comum, não desculpo, porque tenho muito a ver com isso. Eu não aceito as desculpas e tampouco consinto calado.
No Brasil ou em qualquer lugar do mundo, a cada chacina e a cada assassinato policial, calar significa consentir. Portanto, eu, você, nós temos muito a ver com isso. Há que se, no mínimo, indignar e, no máximo, tendo conhecimento, denunciar.
Mas, no Brasil, infelizmente tem gente que quer mais violência, mais mortes, mais assassinatos. São vários os exemplos, mas ficarei só com dois. No Congresso Nacional temos a chamada “bancada da bala”. Este grupo de parlamentares quer a liberação da venda de armas no Brasil. Tal liberação significará muitas armas nas mãos de psicopatas e criminosos em potencial.
Para fazer esta pregação, espelham-se nos EUA. Tanto na sua violência interna, ao pedir a liberação do uso de armas no Brasil, como também são defensores da política externa norte-americana, pois não condenam as guerras promovidas pelos EUA e tampouco condenam os crimes de lesa humanidade cometidos pelo Tio Sam.
O segundo exemplo é o ódio propagado pela internet, pelas redes de TV e rádios e por muitos jornais. Pregar o ódio é pregar a violência. É pregar o assassinato. Portanto, tenho muito que ver com isso.