O dia 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. A data relembra a morte do líder Zumbi dos Palmares e é encampada pela maior parte do movimento negro como o verdadeiro dia de combate ao racismo, em detrimento do 13 de maio, data oficialesca da “libertação dos escravos” pela Princesa Isabel. Isso porque o 20 de novembro e a figura de Zumbi expressam melhor do que qualquer coisa que a luta do povo negro é a responsável pelo fim da escravidão, e não a benevolência do Império decadente.
A luta dos negros e negras pela sua verdadeira libertação, porém, não terminou aí. Findada a escravidão, a população negra foi marginalizada e estigmatizada pelo racismo. Cento e vinte cinco anos após o fim do regime de escravidão, a desigualdade entre negros e brancos é gritante e vergonhosa. Dados recentes provam isso. A população negra é alvo preferencial da violência policial nas periferias das grandes cidades. As mulheres negras são as que mais sofrem a violência machista, e a média salarial de negros e negras continua sendo muito inferior a dos demais trabalhadores.
Opressão e morte
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou, em 13 de novembro, um levantamento nas regiões metropolitanas mostrando que, embora representassem 48,2% dos trabalhadores nessas regiões entre 2011 e 2012, a média salarial do trabalhador negro chegava a ser 36,1% menor que a de não negros. Isso ocorre mesmo sendo analisados os salários da mesma região, do número de horas trabalhadas e da atividade econômica, provando que, no Brasil de hoje, um trabalhador ganha menos tão somente pela cor da sua pele.
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Mas nada é tão dramático quanto a situação da juventude nas periferias, classificado pelo movimento negro de “genocídio” sem nenhum exagero. Estudo recente divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (IPEA), “Segurança Pública e Racismo Institucional”, revela que o simples fato de ser negro aumenta em oito pontos percentuais as chances de ser uma vítima de homicídio. Nas grandes cidades, as chances de um jovem negro ser assassinado é 3,7 vezes maior que a de um branco. A taxa de homicídio é tamanha que retira 1,73 ano da expectativa de vida de um negro ao nascer.
Para que fique bastante claro que não estamos aqui falando apenas de violência de uma forma geral, mas de uma violência causada pelo racismo, basta dizer que, de 2002 a 2010, houve redução de 24,8% de homicídios de brancos, enquanto que as mortes entre os negros aumentaram 36%. Foram mortos no período 271.422 negros, uma guerra não declarada à juventude negra e pobre.
O assassinato do jovem Douglas, de apenas 16 anos, na Zona Norte de São Paulo é reflexo da violência policial que atinge essa parcela da juventude. De dentro de uma viatura, o policial efetuou um tiro à queima-roupa contra o peito do rapaz, que só teve tempo de questionar: “Por que o senhor fez isso comigo?”. O policial que assassinou o garoto foi autuado por “homicídio culposo” (quando não há a intenção de matar), passou poucos dias preso e foi solto, mas a revolta popular se espalhou pela região. Dois dias depois, outro jovem, Jean, foi assassinado pela polícia também na Zona Norte.
Essa escalada da violência policial contra os jovens das periferias provoca um rechaço cada vez maior à Polícia Militar. Fica cada vez mais claro o papel racista e elitista desta polícia, enquanto que a questão da desmilitarização e fim da PM ganha cada vez mais força.
Lutar contra a violência e o racismo
Neste dia 20 de novembro ocorrerão várias manifestações contra o racismo e em defesa dos direitos da população negra. Infelizmente, parcela significativa do movimento negro se encontra hoje atrelada aos governos, principalmente ao governo federal. No entanto, cresce uma alternativa independente de organização e mobilização do movimento. O Quilombo Raça e Classe, ligado à CSP-Conlutas, defende um movimento classista e independente dos governos e promove, em conjunto com outros movimentos e coletivos, a Marcha Nacional da Periferia. É uma experiência muito interessante que surgiu em São Luís (MA) e que agora está se nacionalizando.
Neste ano, o slogan da marcha é “Pelos nossos Amarildos, da Copa eu abro mão” que denuncia a violência policial cujo símbolo mais marcante foi o brutal assassinato do pedreiro Amarildo Souza, morador da favela da Rocinha.
A luta contra o racismo, ao contrário do que muitos podem pensar, não é uma tarefa apenas dos setores organizados no movimento negro. É uma questão não só de raça, mas também de classe, pois, se é verdade que todos os negros são vítimas de racismo nessa sociedade em que vivemos, os negros e pobres trabalhadores são os que mais sofrem. A batalha pela igualdade de direitos e condições para negros e brancos é responsabilidade de todos os trabalhadores e trabalhadoras organizadas no movimento sindical, nos movimentos sociais, nos partidos de esquerda, enfim, é uma tarefa colocada a toda a classe trabalhadora.
Como já dizia Marx: “O trabalhador branco não pode ser emancipado onde o negro é estigmatizado”. Nesse 20 de novembro, todos à Marcha Nacional da Periferia! Zumbi vive!