Natália Bonavides, de 31 anos, é a deputada federal mais jovem do Partido dos Trabalhadores. Única mulher eleita no Rio Grande do Norte em 2018, a deputada conquistou 112.998 votos e foi a segunda candidata mais votada no estado.
A congressista iniciou sua trajetória política no movimento estudantil – quando cursava Direito. Já como advogada, trabalhou como voluntária de programas de direitos humanos e prestou assessoria jurídica a movimentos sociais. Dessa atuação veio a filiação ao PT: “Todo lugar que eu ia tinha petista”, brinca a deputada.
> Somos uma só: mulher é política
Nas eleições municipais de 2016, Natalia se lançou candidata pela primeira vez. “Eu não era conhecida, não tinha nem Instagram”, conta. Ainda assim, conquistou uma das oito vagas que foram preenchidas por mulheres na Câmara de Natal, que tem 29 vereadores. Aquele foi o recorde histórico que a Casa teve de representação feminina. Hoje a Câmara de Vereadores de Natal conta com apenas seis mulheres.
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“Um dos motivos que me levou a aceitar a me candidatar como vereadora, é porque se eu não fosse, quem iria no meu lugar não era outra mulher”, conta. Feminista, Natalia foi a primeira vereadora do PT de Natal e teve a maior votação na história do partido para o cargo na cidade, 6.202 votos.
Não basta ser mulher
“Quando eu digo que considero importante a presença das mulheres na política, eu não estou dizendo que basta ser mulher, eu não acredito nisso. Eu não acredito que basta ser mulher para representar uma pauta de defesa dos direitos das mulheres”, explica Bonavides.
PublicidadeEla ilustra sua análise citando um projeto de lei que está em tramitação na Câmara dos Deputados. extingue a cota de candidatura das mulheres. O PL foi apresentado da deputada Renata Abreu (Podemos-SP), que mantém a previsão de no máximo 70% de candidaturas de um mesmo sexo, mas sem a necessidade de preencher os 30% restantes com candidatas.
“Eu acho que a presença das mulheres transforma o ambiente político, mas eu gostaria de ver candidaturas e mandatos que não sejam apenas femininas, mas que defendam a pauta das mulheres. Que tenham nessa pauta a defesa dos direitos da classe trabalhadora, que tem uma maioria feminina. Não tem como dizer que defende o direito das mulheres e fechar os olhos para todo tipo de ataque que acabam com os direitos sociais, trabalhistas, de assistência no geral. Essa é a minha perspectiva de mulheres na política. Mulheres que atuem em defesa das mulheres”, declara Natália.
Do regional ao federal
Em 2018, a então vereadora resolveu disputar a eleição para deputada federal. “Tudo indicava que a conjuntura nacional era o que estava afetando mais a vida do povo e o Congresso Nacional estava sendo um grande palco da destruição dos direitos do povo. E foi por isso que eu achei que tinha que me candidatar a deputada federal”, explica.
Natália conquistou a segunda maior votação do Rio Grande do Norte e reforçou uma história que liga seu estado à participação das mulheres na política. Foi de Mossoró que saiu a primeira eleitora do Brasil, em 1928. Em Lajes, no mesmo ano, que a primeira mulher se elegeu para um cargo executivo no país. Em 2018, o Rio Grande do Norte foi o único estado do país a eleger uma governadora e, com três governadoras eleitas ao longo de sua história, o estado é a unidade federativa do país que mais elegeu mulheres para o cargo.
“Nosso estado tem um histórico importante de participação de mulheres na política (…), mas no espaço legislativo a gente nunca conseguiu uma presença muito forte”, declara.
Mulheres na política
Ao comentar a sub-representação feminina na política, a deputada ressalta que os espaços institucionais não foram feitos para as mulheres. “Quando surgiram os primeiros parlamentos no Brasil, quando surgiu o Judiciário brasileiro, quando surgiu o Legislativo brasileiro, quem é que poderia ser membro, ou melhor, quem eram os homens brancos proprietários de terra que podiam ser membros?”, questiona.
Natália diz sentir na pele a diferença de tratamento entre deputados homens e mulheres. “Sempre que vou entrar no Plenário pedem meu crachá, ou quando eu estou atrás de um deputado perguntam se eu estou com ele. Acham que eu não tenho cara de deputada, porque eu sou mulher, ainda mais jovem”, conta. “Nós, parlamentares jovens, sofremos um estranhamento de não reconhecerem na nossa imagem física que nós somos parte”, completa.
A deputada conta que frequentemente sofre preconceito de gênero durante a atividade parlamentar. “Nas comissões mesmo, é muito diferente o tratamento. Eu vejo deputado bater na mesa, espernear, gritar, conseguir implodir a sessão e nada acontecer. Quando uma deputada levanta a voz um pouquinho, normalmente levantando a voz para exigir não ser interrompida, escuta: ‘você está nervosa?'”, relata a deputada.
Outro ponto destacado pela parlamentar é a sexualização das mulheres, especialmente nas ofensa em redes sociais: “Puta, vadia, vagabunda, vai chupar não sei o que… É uma fixação com a objetificação que sempre com a gente, com mulheres na política, quando é pra ameaçar, não ameaça só de morte, ameaça de ser estuprada. Isso é uma tônica, várias outras deputadas passam pela mesma coisa”, conta.
A gestação é outro ponto que demonstra o quanto as mulheres disputam um espaço que não é adaptado a elas. A deputada Áurea Carolina (Psol-MG), por exemplo, acabou de ter um filho, porém, quando ela voltar da licença maternidade, não encontrará na Câmara nenhum local propício para amamentação próximo ao Plenário. “A estrutura física não é pensada para mulheres, que também são deputadas e que, muitas delas, estão em idade fértil”, reflete.