O Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), órgão vinculado ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, apontou que agentes de forças-tarefas de intervenção federal em presídios do Ceará estavam machucando e até mesmo quebrando dedos de presos, como forma de impedir que agentes fossem agredidos por detentos. O relatório que traz essas informações é de 5 de abril deste ano.
> Bolsonaro classifica como “besteira” a denúncia de tortura generalizada no Pará
Assinado por quatro peritos do órgão, o documento do MNPCT descreve agressões “sistemáticas” a dedos de presos, com a intenção de diminuir a movimentação das mãos. De acordo com o relatório, “a violência cometida de golpear os dedos com tonfas (cacetetes), chegando muitas vezes a quebrar, foi praticada sistematicamente”. As informações são do jornal O Globo.
“Um expressivo número de pessoas, em diferentes celas e alas, mostrava as mãos denunciando que seus dedos haviam sido quebrados e machucados pelos agentes da FTIP (força-tarefa de intervenção penitenciária)”, descrevem.
Leia também
Os peritos indicam que já haviam se deparado com esse “modus operandi” em outras unidades sob intervenção federal. Segundo eles, isso torna “bastante evidente e robusto o argumento de que essa prática vem sendo utilizada por agentes dessa força-tarefa”.
O documento cita ainda que o secretário de Administração Penitenciária do Ceará, Luís Albuquerque Araújo, comentou numa audiência pública “a utilização desse método para diminuir a capacidade do preso em realizar movimento de pinça, isto é, de segurar objetos, e assim impossibilitar que possam agredir os agentes prisionais”.
PublicidadeDenúncias no Pará
Também nesta semana, outra denúncia de maus-tratos em presídios sob intervenção federal foi divulgada. Segundo investigações do Ministério Público Federal (MPF), há indícios de atos generalizados de tortura contra homens e mulheres. Como consequência da ação dos procuradores, o o comandante da força-tarefa, Maycon Cesar Rottava, foi afastado da operação por improbidade administrativa no dia 2 deste mês.
> Depen nega torturas e diz que “defende humanização e repudia maus tratos”
Em resposta ao caso do Pará, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou que as denúncias de tortura em presídios do Pará serão apuradas e eventuais responsáveis serão punidos. O ex-juiz, porém, disse não confiar totalmente nos relatos e afirmou que alguns relatos de presos já foram provados falsos.
Depen responde
Em resposta à reportagem do jornal, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) afirmou que “repudia veementemente” as informações “infundadas e sem provas”. “Não foi identificada qualquer prática de tortura nas atuações dos servidores da força-tarefa”, disse. O Depen informou ainda que a Corregedoria do órgão esteve no Ceará para uma inspeção e apura as denúncias.
Já a Secretaria de Administração Penitenciária do governo do Ceará disse que a presença do Estado para “estabelecer o controle” dos presídios levou a “reações dos presos” em algumas situações, com motins e agressões contra servidores, e que os presos feridos nesses confrontos foram medicados. E que não há indícios de tortura.
Sobre as declarações dadas pelo secretário numa audiência pública, a secretaria afirmou que o MP do Rio Grande do Norte entendeu que as falas “não sugerem a prática de tortura ou omissão na apuração de tal delito”. O caso referente à declaração foi arquivado, segundo a pasta.