O que você acharia se soubesse que a Câmara de Vereadores de Munique entregaria uma condecoração ao setor local da Gestapo (Polícia de Estado na Alemanha Nazista) por ter perseguido o movimento A Rosa Branca, que tentou, bravamente, acabar com o governo de Hitler?
Pensaríamos que é brincadeira da mídia ou que a crise europeia é total e estamos na beira de uma nova Guerra Mundial.
Pois acabo de ler na internet algo estritamente paralelo. A diferença é que acontece no Brasil, e que, por enquanto, parece ter produzido espanto em poucas pessoas, todas elas militantes de esquerda. Vejam:
Câmara paulistana homenageará Rota por atuação na ditadura
A Câmara de São Paulo aprovou a concessão da Salva de Prata — homenagem da Casa cedida em sessão solene pelos relevantes serviços prestados a sociedade – ao batalhão das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota).
O Projeto de Decreto Legislativo 02-00006/2013, de autoria do vereador Coronel Telhada (PSDB), justifica a homenagem, dentre outras coisas, pelas “campanhas de guerra”, como os feitos da companhia chamada Boinas Negras que atuou durante a ditadura militar perseguindo guerrilheiros da esquerda como Carlos Lamarca e Carlos Marighella.
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Na justificativa, Telhada diz que a Rota se destacou no que a Polícia Militar chama de campanha do Vale do Rio Ribeira do Iguape, em 1970, “para sufocar a guerrilha rural instituída por Carlos Lamarca”.
O texto de Telhada aprovado pelos vereadores, retirado do portal da PM, também conta a história da origem dos Boinas Negras.
A sessão em que será feita a homenagem ainda não tem data marcada.
Há porém um erro nessa nota, e é que a proposta ainda foi aprovada até este momento e há possibilidade de impedi-la se a cidadania atuar com um mínimo de espírito civilizado.
Se na América Latina o respeito pelos direitos humanos (que já eram obrigatórios em alguns países há mais de 200 anos) ainda não se praticam, no caso do estado de São Paulo, incluindo sua capital, isto é ainda mais alarmante. Não preciso lembrar novamente todas as atrocidades que devemos esse governo, à maioria parlamentar e, especialmente, ao tribunal, deste estado que representa uma das grandes estrelas do ressurgimento do fascismo pela via eleitoral: um santuário para os masoquistas doentes do Opus Dei, os assassinos de Pinheirinho, e os psicopatas que reproduzem contra os estudantes uma repressão vesânica.
A Rota é apenas um instrumento da polícia estadual, umas das maiores do mundo. Segundo o censo de 2010, SP têm um policial por cada 340 habitantes (vide), enquanto a média ideal aconselhada pelos organismos internacionais de segurança é de 1 cada 1000 habitantes. Essa saturação da polícia se faz sentir em suas campanhas de extermínio de negros, pobres, e quaisquer outros que a sociedade previamente marginalizou para depois assassinar.
Mas a Rota é também um símbolo, como o é o Bope no Rio, daquele setor policial que é uma verdadeira máquina de extermínio e que serve às políticas das elites brasileiras de reduzir a sua mínima expressão aqueles setores que, exatamente nos mesmos termos que o fascismo utilizava em 1938, elas acham que não têm direito de existir.
Agora, uma homenagem à sua colaboração com a ditadura e com o extermínio de setores que pretendiam voltar à democracia, é um absurdo! É uma grave provocação!
Não podemos dizer que a culpa é só dos grupos fascistoides e confessionais que estão aninhados nos poderes públicos. O silêncio das organizações de direitos humanos e, sobretudo, a falta de coragem dos organismos oficiais dessa área são os principais fatores que permitem essas aberrações.
Só para ter uma ideia, na Suécia, qualquer político que faça propaganda do nazismo poderia ser alvo imediato de impeachment, e, eventualmente, julgado criminalmente. Desde que existe essa lei (há 60 anos) ninguém ainda tentou fazer uma homenagem desse tipo. Mas no estado de São Paulo…
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