Heitor Diniz*
Brasília, 19 de maio de 2010.
A data acima tem tudo para entrar para a história da jovem democracia brasileira. Nesse dia, o Senado, a exemplo da Câmara, foi obrigado a avalizar o chamado projeto ficha limpa. E por unanimidade, como mandava o absoluto princípio da vergonha na cara. Para sorte nossa, o voto foi aberto. Ufa!
Antes que algum parlamentar venha a torcer o nariz para o “obrigado a avalizar”, façamos um exercício de memória. Ou de informação. Em entrevista a Jô Soares, na última terça-feira, o relator da matéria na CCJ do Senado, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), afirmou que já havia apresentado um projeto similar ao ficha limpa, mas que o mesmo não passou de uma peça natimorta, relegada ao último plano das prioridades de suas excelências, por total falta de interesse político (ou pragmático).
Uma coisa é certa: não fosse a iniciativa de um movimento social muito bem organizado, não fosse a apropriação da ideia por fatias crescentes da opinião pública, não fosse a pressão popular, não apenas com as assinaturas, mas com a grande mobilização a partir das novas mídias eletrônicas (twitter, facebook, blogs etc), e a vitória da sociedade muito provavelmente não tivesse acontecido.
Agora, todos aguardam os desdobramentos naturais desse dia, repito, histórico, a começar pela sanção do presidente Lula, que não cometerá o suicídio de sua popularidade e o “projeto Dilma” com um veto mais do que impensável.
E por falar em desdobramentos, uma consequência mais do que desejada desses oito meses de pressão pela aprovação do ficha limpa é que a sociedade não baixe a guarda e os olhos observantes e atentos, hoje pairados sobre suas excelências. Que esses olhos, os nossos olhos, não se dispersem nessa árdua vigília.
E que o maior orgulho brasileiro (e do brasileiro) não continue sendo “apenas” o nosso cinco vezes consagrado futebol.
*Heitor Diniz é jornalista em Belo Horizonte. Seu trabalho pode ser acompanhado em www.uai.com.br/cronicapolitica
e em www.twitter.com/heitordiniz
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