Como diria Fiori Gigliotti, um conhecido locutor esportivo do passado, fecham-se as cortinas e termina o espetáculo.
Os que torceram desbragadamente para o réu ou para o julgador, agora querem saber o placar final. Quem piscou primeiro? Quem foi mais rápido no gatilho? Quem mordeu o pó da derrota?
A resposta é simples: nenhum deles. Pois tudo não passou de mais uma Batalha de Itararé.
Para as novas gerações, tão desconhecedoras e indiferentes ao que ocorreu antes de gloriosamente chegarem ao mundo, rememoro.
Corria o ano da graça de 1930. As tropas insurgentes de Getúlio Vargas vêm do Rio Grande do Sul para tentarem tomar a capital federal (Rio de Janeiro). Os efetivos leais ao presidente que elas querem depor, Washington Luiz, esperam-nas no município de Itararé, na divisa entre SP e PR. Canta-se em prosa e verso aquela que será a mais formidável e sangrenta das batalhas.
Mas, nem um único tiro chega a ser disparado; antes disso, o presidente bate em retirada, entregando o poder a uma junta governativa.
Ironizando, o grande humorista Aparício Torelly escreve que, como nada lhe reservaram no rateio de cargos governamentais entre os vencedores, ele próprio se outorgaria a recompensa:
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“O Bergamini pulou em cima da prefeitura do Rio, outro companheiro que nem revolucionário era ficou com os Correios e Telégrafos, outros patriotas menores foram exercer o seu patriotismo a tantos por mês em cargos de mando e desmando… e eu fiquei chupando o dedo.
Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão de Itararé, em homenagem à batalha que não houve“.
Até agora, nem o juiz Sérgio Moro nem o acusado Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República do Brasil, reivindicou o título de Barão de Curitiba.
E nem era de esperar-se que a oitiva do réu terminasse com um deles detonando o outro. Só ingênuos pouco familiarizados com a Justiça sonhavam com Moro forçando Lula a confessar que comeu nas mãos das empreiteiras, ou Lula provando que o verdadeiro objetivo de Moro é impedir sua candidatura a presidente em 2018…
Deu para notar-se um insistente empenho de Moro em arrancar algo mais de Lula, embora o fizesse sempre de forma educada e respeitosa. Podemos conjeturar que ele não alongaria tanto o interrogatório no caso de um réu que não equivalesse a um troféu, mas a coisa para por aí: ninguém pode recriminar um juiz por ser zeloso.
Quanto a Lula, a derrapada mais marcante foram suas hesitações ao tentar explicar o encontro que manteve com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o sócio da OAS Léo Pinheiro, articulado pelo então tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Pareceu estar pisando em ovos, o que pode ter algo a ver com as atuais negociações de Duque para fazer delação premiada. Dependendo do que vier pela frente, sua credibilidade poderá ficar bem arranhada.
Eu, particularmente, preferiria que ele não parecesse estar insinuando que Marisa Letícia teria alguma responsabilidade no imbróglio do triplex, mas sei que me atenho a valores morais do passado, hoje em desuso…
De resto, nada ocorreu com importância e/ou impacto suficientes para influir na sentença que Moro deverá anunciar lá pela metade do ano, nem para servir como um poderoso trunfo positivo ou negativo na próxima campanha eleitoral do Lula (caso ele não venha a estar impedido de disputar o pleito).
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