Eleito com 86 mil votos para o seu primeiro mandato político, o general Eliéser Girão Monteiro Filho (PSL-RN), de 63 anos, começou a fazer barulho dez dias após conquistar uma cadeira na Câmara, quando defendeu no Twitter o impeachment e a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que libertam políticos acusados de corrupção, o que foi interpretado como uma ameaça a Gilmar Mendes.
O oficial serviu ao Exército por 36 anos. Passou para a reserva em 2009 em protesto à retirada dos fazendeiros da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Depois disso, foi secretário estadual de Segurança Pública em Rondônia e no Rio Grande do Norte. Agora chega a Brasília em meio à onda militarista que elegeu Jair Bolsonaro e quadruplicou o número de militares eleitos para o Legislativo em todo o país, entre 2014 e 2018. Mais de 70 candidatos que declararam ser militares à Justiça eleitoral se elegeram na Câmara e nas assembleias.
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Contemporâneo de Bolsonaro e de seu vice, o também general Hamilton Mourão, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), no Rio de Janeiro, Girão atribui a chegada de sua geração ao poder à percepção da sociedade de que o Brasil não melhorou desde a redemocratização. “Já tem 30 anos que entregamos o governo aos civis, e nós tivemos democracia ou anarquia? O Brasil vive dentro de uma anarquia quase”, critica, em entrevista à Revista Congresso em Foco, cuja nova edição começa a circular e já está disponível para os assinantes digitais.
Para Girão, o brasileiro não suporta mais a maneira de se fazer política no país. O deputado eleito defende uma “limpeza” nos cargos de comando da Câmara e do Senado e a extinção de partidos cujos dirigentes estejam envolvidos em crimes como corrupção e caixa dois. “Partido que se mete com crime tem de ser julgado para ser extinto. Está na lei eleitoral. Daqui a pouco vamos aceitar que o PCC [Primeiro Comando da Capital] ou o Comando Vermelho tenha um partido. O bandido que promete uma coisa e não faz está roubando os sonhos das pessoas”, considera.
Bullying
Na avaliação dele, o fato de o governo Bolsonaro começar com o maior número de militares no ministério desde o fim da ditadura militar, em 1985, não deve ser motivo de preocupação entre os civis, assim como a grande presença de policiais e oficiais no novo Congresso.
PublicidadeSegundo o general, não há uma pauta em comum entre os parlamentares fardados, muito menos uma onda de autoritarismo em curso no Brasil. “Nos governos anteriores ninguém nunca reparou quantos médicos ou advogados estavam na equipe de governo. Nós sofremos bullying como se fôssemos um corpo estranho na sociedade. Não vejo motivo para esse tipo de discriminação”, diz.
De acordo com o deputado eleito, parte da sociedade é injusta, por exemplo, ao criticar as aposentadorias militares, consideradas mais generosas e inatacáveis nas discussões da reforma da Previdência. Capitão reformado do Exército, Bolsonaro assumiu o compromisso de não mexer nos benefícios da categoria. Uma medida acertada, de acordo com Girão, que lembra que os militares não têm direito a Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), hora extra ou férias remuneradas. “Não somos iguais aos demais trabalhadores. Não paramos nem para dormir. O que nos move é o espírito de cumprimento de missão”, afirma.
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