Eduardo Militão
Em meio à apuração de um esquema de venda de vagas de funcionários terceirizados na Câmara, a Polícia Legislativa chegou a ouvir uma confissão de uma funcionária que admitiu que sua folha de ponto na Casa foi assinada por outras pessoas. Em vez de dar expediente no Legislativo, a servidora terceirizada trabalhava na residência da encarregada geral da Unirio Manutenção e Serviços Ltda, Patrícia Guedes Silva. Outras duas copeiras são acusadas da mesma prática por duas denunciantes.
Procurada, a encarregada geral disse preferir o silêncio. A Unirio afirma que aguarda as investigações da polícia e que, se forem comprovados os fatos, vai desligar os funcionários . A assessoria de imprensa da Câmara garante que não houve prejuízo aos cofres públicos.
O inquérito policial indiciou Patrícia por estelionato. Na investigação, a polícia qualificou a Câmara dos Deputados como “vítima”.
Segundo a ex-companheira de Patrícia, Fabiana Sousa Soares, a copeira Tânia Márcia Borba esteve fora da Câmara durante dois anos, mesmo estando lotada na Unirio como prestadora de serviços para o Legislativo. Em seu depoimento datado de 11 de maio, Fabiana diz que Patrícia assinava o ponto da funcionária terceirizada, assim como da colega Edivânia Firmino de Lima – que hoje é auxiliar de cozinha na residência oficial da Câmara. E afirma que a encarregada geral ficava com parte do salário de Tânia Márcia.
A reportagem deixou recados na última residência em que Tânia morou, em Taguatinga. À polícia, ela negou as acusações e disse que ficou afastada da Câmara porque teve problemas familiares.
Fabiana morou com Patrícia durante quatro anos. Afirma que a copeira Edivânia, servidora terceirizada a serviço da Câmara, não deu expediente no órgão público. Diz que, ao menos por certo período, trabalhou na casa de Patrícia como faxineira dia sim, dia não.
Num primeiro momento, Edivânia confessou que não aparecia na Câmara. Ainda apontou assinaturas em sua folha de ponto que não eram suas. Em outro depoimento, quando veio acompanhada de um advogado, negou tudo o que dissera. Edivânia afirmou que as assinaturas eram dela e que esteve, sim, fora da Câmara, mas foi substituída por uma outra copeira.
Edivânia conta que não é mais copeira na residência oficial da Câmara. Agora, trabalha como auxiliar de cozinha no local. E mantém a negativa das acusações e diz que as assinaturas são mesmo suas. Ela disse ao Congresso em Foco por que primeiro confirmou que realmente estava ausente e que as assinaturas não eram dela: “Nervoso, fui muito pressionada, fiquei com muito medo de perder meu emprego, me senti muito ameaçada”.
Edivânia assim respondeu por que, com medo de perder o emprego, confessou cometer uma irregularidade: “Ah, eu não sei nem te responder isso.” A auxiliar de cozinha afirmou que “todos” a pressionaram. A auxiliar de cozinha disse que trabalha, sim, para Patrícia, mas apenas aos finais de semana.
No meio da conversa, a ligação foi interrompida e a reportagem não conseguiu conversar com Edivânia. Dois dias depois, a auxiliar de cozinha disse que não queria mais comentar o assunto.
Terceira copeira
Em entrevista ao site, a ex-funcionária da Unirio Nelza Cândida Rodrigues, confirma o depoimento de Fabiana. E acrescenta que uma mulher identificada como Luana também foi desviada de sua função. Ela não soube precisar o sobrenome da terceira copeira. Mas afirma que prestava serviços para Patrícia em sua casa e na rua. O salário, afirma Nelza, era pago pela Câmara, via Unirio.
Ex-copeira no plenário da Câmara, Nelza diz que as faltas de Edivânia aconteceram no período em que ela deveria estar na residência oficial. “Essa Tânia nunca trabalhou. Ficava recebendo o dinheiro em casa. Ia fazer serviço na casa da Patrícia direto.”
De acordo com Nelza, as folhas de ponto das três copeiras eram transportadas da Câmara para a residência de Patrícia, em Taguatinga, e em outra casa para a qual se mudou. Existiriam rapazes de confiança para fazer esse serviço. A ex-copeira afirma que um deles é José Vanilson, “braço direito” de Patrícia. Segundo Fabiana, Vanilson é uma das pessoas que participava da cobrança de “contrapartidas” para se obter uma vaga na Unirio.
A reportagem não localizou a copeira identificada como Luana.
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