Eduardo Militão
A Polícia Legislativa da Câmara investiga a existência de um esquema de venda de vagas de garçom e copeiros terceirizados. Para se conseguir um trabalho na Casa, mesmo com salários pouco superiores a R$ 1.000, seria necessário pagar uma espécie de “pedágio” ou “contrapartida”, que variava de R$ 1.000 a R$ 3.500.
Os policiais também apuram se funcionárias terceirizadas – que deveriam estar a serviço da Câmara – foram trabalhar na residência da encarregada geral da prestadora de serviços, enquanto o ponto delas no Legislativo era assinado por outras pessoas.
Nos últimos dias, o Congresso em Foco entrevistou e conversou com vários funcionários informados sobre o caso e ainda teve acesso a depoimentos que integram um inquérito policial. Segundo eles, participam do esquema a encarregada geral da Unirio Manutenção e Serviços Ltda, Patrícia Guedes Silva, o encarregado da empresa José Vanilson e o garçom Antônio Gonçalves de Abrantes. Patrícia foi indiciada por estelionato.
Procurada, a encarregada geral disse preferir o silêncio, enquanto Vanilson e Abrantes negaram as acusações. A Unirio afirma que aguarda as investigações da polícia e que, se forem comprovados os fatos, vai desligar os funcionários. A assessoria de imprensa da Câmara garante que não houve prejuízo aos cofres públicos.
Em depoimento à polícia em 11 de maio deste ano, Fabiana Soares de Sousa, afirmou ter presenciado Patrícia, Vanilson e Abrantes combinando contratar serviços terceirizados de garçom e copeira, “sendo que (sic) cobrariam uma contrapartida pelas vagas que conseguissem”.
De acordo com Fabiana, Patrícia exigia o pagamento sempre em espécie. Ela chega a afirmar que um garçom pagou R$ 3.500 por sua vaga, mas foi demitido oito meses depois. Fabiana lista o nome de mais dez pessoas que, ao que sabe, foram contratados por meio do “esquema”.
Fabiana teve uma relação homossexual com Patrícia. As duas moraram juntas por quatro anos e, após desentendimento, se separaram. De acordo com ela, após a separação, a encarregada geral passou a ter atitudes de “ciúme”. Tempos depois, Fabiana foi demitida da Unirio. Hoje, trabalha em outra empresa terceirizada pela Câmara.
“Entre chefes”
A faxineira e ex-copeira do plenário da Câmara Nelza Cândida Rodrigues, 43 anos, confirma a venda de vagas. Ela participou de um encontro em setembro de 2008. Na época, a empresa que prestava o serviço para a Câmara era a Capital Empresa de Serviços Gerais Ltda. Mas, à época, já era Patrícia a encarregada dos trabalhos.
Nelza diz ter presenciado quando uma vaga de garçom foi oferecida a seu então namorado, o ajudante de limpeza José Augusto dos Santos. Ele teria que pagar R$ 1.500 para obter a vaga, em parcelas, usando o tíquete-alimentação pago pela terceirizada. “Tinha certas vagas que chegava a até R$ 2 mil, e esse dinheiro era dividido entre chefes”, contou ela ao Congresso em Foco.
Quem fez a oferta, diz Nelza, foi um garçom identificado apenas como Enéas, afirmando que o rateio seria “entre os chefes”. “Uma das chefes era ela, a Patrícia, porque ela já tava lá fazendo cambalacho há muito tempo”, conta. A reportagem não localizou Santos e o suposto garçom de nome Enéas.
A ex-copeira conta que, em janeiro de 2009, depositou, por ordem de Patrícia, dinheiro na conta particular da encarregada geral. O valor era R$ 1.500, a mesma quantia oferecida a seu namorado para que conseguisse o emprego de garçom. “Eu desconfiei que aquele dinheiro era vaga. Foi ela que me deu [o dinheiro]”, diz Nelza.
Um dos motivos da desconfiança da ex-copeira foi uma conversa que teve com um garçom identificado apenas como “seu Raimundinho”, pai de um segurança e marido de uma copeira. O funcionário terceirizado reclamou com Nelza que estavam tentando demiti-lo. Entretanto, afirmou que isso não iria acontecer porque ele “entrou lá através de negócio”. A reportagem não localizou o alegado funcionário.
Nelza afirma que, se for chamada a depor, vai contar tudo o que sabe à polícia. A faxineira foi demitida em junho de 2009, segundo ela por perseguição de Patrícia. Diz que ocultou os fatos desde então porque tinha a esperança de voltar a trabalhar em uma outra empresa terceirizada pela Câmara, para quem prestou serviços de 1991 até o ano passado.
Um dia depois do depoimento de Fabiana, depuseram também o garçom Fernando Rodrigues Sousa e a copeira Poliana Tavares de Lima. O garçom disse ter pago R$ 1.000 por sua vaga. E a copeira afirmou ter desembolsado R$ 1.500.
Leia também:
Copeiras eram desviadas da função, diz denunciante
Encarregada prefere silêncio e outros acusados negam denúncias
Unirio se diz “preocupada” e aguarda fim das investigações
Assessoria de imprensa da Câmara garante que não houve prejuízo
Leia também