Debates à Casa Branca são laboratório de mídia
A disputa presidencial nos EUA é acompanhada há décadas com atenção por comunicólogos e analistas de mídia no mundo inteiro e serve como campo de estudo para tendências de comunicação. Os debates entre os dois principais candidatos são sempre uma ótima oportunidade para analisar sua performance de conteúdo e de forma, como também ocorre no Brasil durante a corrida presidencial.
Hillary foi melhor para 62% dos telespectadores, enquanto 27% preferiram Trump (pesquisa da TV CNN). O candidato republicano foi duro e interrompeu a fala da democrata dezena de vezes. Começou o debate melhor, em razão do seu indiscutível talento como comunicador. Mesmo ao mentir ou a defender teses questionáveis, se expressa com clareza, vai direto ao ponto, usa boas frases de efeito e sabe fazer gestos, caras e bocas. Não administrou muito bem, no entanto, o risco de soar arrogante e grosseiro, sobretudo num confronto com uma mulher.
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Com atitude mais formal e inicialmente mais contida, Hillary esperava a sua vez para falar. À medida em que o debate se desenrolava, ela crescia e encurralava Trump. Ganhou pontos ainda por demonstrar maior conhecimento sobre política externa e pelo tom apropriado que usou para abordar as questões de raça e gênero, áreas que representam pontos vulneráveis do adversário. Que, acusando o golpe durante o debate, disse que ela havia se preparado para o encontro, querendo atrair simpatia para seus supostos trunfos, intuição e espontaneidade. A resposta foi demolidora. Suave e firme, ela afirmou: “Claro que me preparei. Preparei-me para ser presidente”.
Tudo o que acontece nos debates para a Casa Branca é estrategicamente planejado – das regras do evento até a postura, o gestual, o tom de voz, os temas abordados, as cobranças, as ironias, as farpas, as acusações mais duras. Políticos e seus estrategistas sabem que pode ser a chance de conquistar o apoio de indecisos. Para o Wall Street Journal, mais conservador, o desempenho de Trump não foi suficiente para atrair eleitores que ainda não resolveram em quem votar. Para a imprensa norte-americana, a conclusão geral foi que Trump mentiu mais e se saiu pior.
A audiência televisiva do primeiro debate presidencial deste ano foi recorde: 84 milhões de espectadores, um número raro na TV da era digital. O recorde anterior foi em 1980, no debate entre Ronald Reagan e Jimmy Carter, com 80,6 milhões de espectadores. Os números do enfrentamento entre a democrata e o republicano não incluem milhões de pessoas que assistiram ao debate online pelo Twitter, Facebook e outras mídias sociais.
Cresce o papel das redes sociais na forma como os candidatos se comunicam com eleitores
Pesquisas do Pew Research Center, um think tank americano que analisa tendências e atitudes nos EUA, mostram que as redes sociais estão tendo papel cada vez maior na campanha norte-americana e na forma como os candidatos estão se conectando com os eleitores. Estudos mostraram que embora Donald Trump, Hillary Clinton e Bernie Sanders tenham publicado quantidades semelhantes de posts num período de três semanas, o candidato republicano teve índice maior de reações (incluindo os diversos tipos de manifestações aos posts como “like”, “angry”, “sad, “haha” e “wow”).
A influência das mídias sociais na comunicação é crescente e avassaladora, em todo o mundo. Por isso, é cada vez mais necessário conhecer seu funcionamento, dinâmica e a maneira como impactam os hábitos e o comportamento das pessoas. Exatamente pelo enorme poder que exercem, o uso das redes sociais deve ser estratégico para todos, não somente políticos, mas porta-vozes, gestores, executivos, agentes públicos e profissionais públicos e privados.
Esta semana vai ter mais “gafes” de ministros?
Imprensa e colunistas noticiaram que Michel Temer ficou muito irritado ao ser informado da atitude de seu ministro da Justiça, Alexandre Moraes, de antecipar nova fase da Lava Jato: “Esta semana vai ter mais”, disse o ministro a integrantes do movimento MBL, em vídeo que circulou em larga escala na internet.
O episódio por pouco não lhe custou o cargo, segundo os bastidores vazados. E serviu para tornar mais evidente que ministros do atual governo são autores contumazes de frases e declarações desastradas. As gafes exigiram intervenções do próprio Temer e dão combustível para a crise de comunicação governamental que não sai das páginas e telas da mídia.
Com esta afirmação do ministro da Justiça fica, também, mais difícil assegurar o caráter técnico da Lava Jato.
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