Aletheia Vieira *
O deputado federal Cláudio Puty (PT-PA) bem que tentou, mas não conseguiu convencer o partido a lançar sua candidatura própria ao governo do Pará. De forma semelhante ao protagonista do filme “Um Sonho de Liberdade”, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) foi cavando, nos últimos 15 anos, aos poucos, sua volta à disputa.
As acusações de desviar recursos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), divulgadas pela imprensa nacional, que culminaram na prisão relâmpago de Jader em 2002, causaram um grande prejuízo político ao PMDB no Pará e a ele próprio. Desde 1998, não disputa uma eleição para governador: preferiu ser deputado federal até 2010 e trabalhar nos bastidores – é um dos parlamentares mais faltosos do Congresso Nacional como foi revelado pela Revista Congresso em Foco – e conseguiu articular com o PT a candidatura do filho e ex-prefeito do município de Ananindeua Helder Barbalho ao governo em 2014.
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Durante muito tempo, acreditou-se, no Pará, que Jader nunca mais voltaria a dar a “cara para bater” em uma eleição majoritária, fato que foi desmentido por ele ter se candidatado ao Senado em 2010 e ficado em segundo lugar na briga pelas duas vagas. Durante um ano, ele não pode exercer o cargo, pois estava enquadrado na Lei da Ficha Limpa – por ter renunciado ao mandato em 2000 – mas após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a nova lei de inelegibilidade só valeria a partir das eleições de 2012, o cacique retornou à aldeia.
O mais interessante da trajetória de Jader é ele enfrentar quedas de popularidade e rejeição dos eleitores usando os meios de comunicação dos quais é proprietário para estabelecer suas disputas políticas, atacar adversários e assim, mesmo com a imagem de corrupto estabelecida em setores da opinião pública no estado, ganhar algum tipo de simpatia de parcelas da população quando os veículos assumem o papel de oposição ao governo, por exemplo.
A simpatia, em alguns momentos, não é diretamente a Jader, porém é um ganho político para o PMDB, que tem dado o tom das alianças partidárias no Pará principalmente depois que apoiou a candidatura da ex-governadora Ana Júlia Carepa (PT), no segundo turno das eleições de 2006, para garantir que o adversário Almir Gabriel (PSDB), não voltasse ao cargo. Almir foi governador de 1995 a 2003 e deixou um sucessor, Simão Jatene, que não se candidatou à reeleição para que Almir, que morreu em 2013, voltasse ao páreo.
Durante 12 anos, os veículos de comunicação destacaram denúncias graves contra o governo tucano e isso pode ter contribuído para que o PSDB perdesse as eleições de 2006. Além dos jornais e da TV, Jader é dono de rádios na capital e no interior do estado. Foi ele quem teria convencido Lula a lançar a então senadora Ana Júlia (PT) ao governo, naquele ano, já colocando o PMDB à disposição para a aliança.
Agora foi a vez do PT retribuir o favor.
A aliança já teria sido fechada desde o ano passado em uma reunião entre Lula, Dilma, Jader e Michel Temer no Planalto. Helder como candidato ao governo e o ex-deputado federal Paulo Rocha – recentemente absolvido no julgamento do mensalão – para o Senado. Mas aos primeiros indícios que o PT fecharia a coalizão, os representantes da tendência Democracia Socialista, da qual Puty e Ana Júlia fazem parte, iniciaram uma campanha interna pela candidatura própria ao governo. A DS representa cerca de 30% dos petistas filiados e não conseguiu a adesão durante o Encontro Estadual do PT, realizado em março. As tendências majoritárias fizeram até um abaixo-assinado pró-Helder.
O PT sabe que o PMDB é faca dois gumes no Pará e não foi fiel ao governo Ana Júlia. Como repórter de política em Belém, acompanhei esse processo. O aliado começou a se declarar insatisfeito pela falta de repasses das emendas parlamentares, por não ocupar cargos estratégicos e também de segundo escalão. Resultado: em 2009, apoiou o PSDB na escolha dos presidentes de comissão na Assembleia Legislativa. Na articulação, o PT perdeu a Comissão de Constituição e Justiça, que ficou com o PSDB e a de Finanças, assumida pelo próprio PMDB. Mas a amizade entre tucanos e peemedebistas começou já em 2008, durante a composição da Mesa Diretora da AL – o primeiro vice-presidente lançado era um deputado do PSDB, o que provocou a ira de Ana Júlia. Após muitas conversas de bastidores, o PPS ficou com o cargo.
Por isso, nas eleições de 2010, o apoio de Jader à candidatura de Simão Jatene não pegou ninguém de surpresa. Mas o jogo virou de novo, principalmente por causa da crise do PMDB com o PT na esfera federal que deve estar tirando o sono da presidente Dilma Rousseff.
No Pará, o PT perdeu a oportunidade de marcar posição diante de um cenário com poucas alternativas para os eleitores, além de trazer os Barbalhos de volta para derrotar o PSDB. E foi o próprio PT o responsável pela primeira grande derrota de Jader em 1996, quando sua ex-mulher, a deputada federal Elcione Barbalho, não chegou ao 2º turno nas eleições municipais em Belém, diante do crescimento de Edmilson Rodrigues, hoje do Psol, que venceu.
O mundo realmente dá voltas.
* Jornalista formada pela Universidade Federal do Pará-UFPA, especialista em jornalismo político pela Universidade Gama Filho e mestranda em Jornalismo e Sociedade pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou como repórter de política em Belém, na assessoria de imprensa do ex-senador José Nery (Psol) e hoje é assessora de comunicação do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (Sinait).
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