O comentário de Beth Veloso veiculado originalmente no Papo de Futuro, da Rádio Câmara, com Eugênio de Sá:
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Viver num país violento, em cidades cada vez mais violentas, já é uma rotina para pais com filhos adolescentes. Até na volta da escola, o celular nos torna alvos fáceis de bandidos. Mas a tônica do suicídio levou o perigo para dentro da internet, e muitos pais se perguntam o que fazer diante da repercussão que brincadeiras perigosas adquirem em escala mundial, e eu volto neste comentário ao tema do jogo online Baleia Azul.
O que se recomenda não é nem a visão romântica das séries de TV, nem uma atitude alarmista de banir a internet como uma ameaça real. Me chamou a atenção como algumas escolas resolveram assumir o tema abertamente, enviando comunicados para os pais e, especialmente, dicas sobre como se portar. Se é difícil para nós enfrentar os perigos da vida real, imagine para um adolescente que passa direto da ingenuidade para a impulsividade e a sensação de que pode ter o controle de tudo.
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Quando se trata de televisão, a vulnerabilidade de crianças e adolescentes com relação a filmes e outros conteúdos audiovisuais e de comunicação, inclusive conteúdo muitas vezes pseudo infantil, é muito maior do que a do adulto. Sem capacidade crítica, o jovem muitas vezes não consegue distinguir entre ficção e realidade.
A escola do meu filho lançou um comunicado abrangente, com dicas de como agir:
1) a primeira delas é monitorar o que o seu filho faz na rede. Veja no Facebook, passeie pelos amigos da rede social, pesquise no histórico de navegação, insira mecanismos de controle parental, deixe claro para ele que está sob vigilância. É, com certeza, melhor que apagar incêndios. Não entre na onda de privacidade, que não deve ser confundida com a autoridade do pai de atuar de maneira preventiva nos perigos da infância e da adolescência. E se for chantageado, demonstre que age por afeto, não para coagir.
2) Mesmo que seu filho discorde ou conteste tudo que diz, não abra mão do diálogo, do olho no olho, da regra clara e do combinado. Mas, para isso, é preciso ter uma programação alternativa à TV ou à internet, nada substituiu a atividade física e lúdica, e, se possível, tome parte em algumas delas.
3) Restrinja seu horário no computador ou telefone, para dar o exemplo, que vale mais do que mil palavras. Coerência e persistência são qualidades que faltam na adolescência, que deve ser aprendida através do exemplo.4) Fazer um mapa de atividades, ou um calendário da semana, tipo duas horas por dia para TV-jogo-internet, ajuda a estabelecer hábitos de mídia saudável.
5) Outra dia uma mãe do grupo da escola admitiu: celular à noite não rola. O acesso noturno não ajuda a embalar o sono e dificulta o controle dos pais, além de aumentar o risco de um contato indesejado.
6) Por mais estranho que pareça, tirar o celular ou a mídia do quarto ajuda, pois a madrugada, enquanto você dorme, para eles pode parecer longa.
7) Na liberalidade das redes sociais, inimigo pode virar amigo e, portanto, adicionar estranhos nas redes sociais é mico desnecessário, assim como passar informações que facilitem a sua identificação ou localização. O exibicionista compulsivo é ainda mais vulnerável, e, por mais que a gente saiba que está tudo na rede e no mundo, é importante conversar sobre o uso da internet e suas brincadeiras de mau gosto, como o jogo Baleia Azul.
8) Assim como a televisão, a internet pode influenciar nas crenças e valores da sua família, é importante saber com que youtubers e outros formadores de opinião seu filho anda, ou melhor, quem ele está seguindo.
9) Nunca é demais lembrar que não deve haver segredos entre pais, mães e filhos e que o celular ou o Ipad são os dispositivos mais utilizados hoje pelas crianças para acessar pornografia na internet, porque geralmente eles não tem filtro. Por isso, controle o acesso a conteúdo impróprios, respeite a faixa etária indicada para filmes, séries e desenhos, peça a seus filhos para não abrirem pop-ups e para pedirem sua autorização antes de baixarem ou atualizarem jogos e aderirem a grupos diversos ou propostas. O Ipad hoje é a porta de entrada de mais crianças bem novas para uma precoce e distorcida iniciação sexual.
10) Por fim, não subestimem os sítios infantis como o próprio Cartoon Network, cuja abordagem quase sempre adulta demais para o que se propõe. Violência e terror também podem estar na categoria dos conteúdos impróprios, assim como sexo explícito.
O debate sobre a influência da mídia no comportamento de crianças e adolescentes sempre foi interminável no sentido da dificuldade de se colocar limites. No dilema da liberdade de expressão, da discricionariedade de ação e do direito à privacidade, entram questões como autonomia do indivíduo e até mesmo o livre arbítrio.
Esse juízo não pode ser feito a não ser dentro dos valores e crenças de cada família, em que entram dados sensíveis que não são quantificáveis. E uma dessas medidas é a do bem-estar e do bom humor, simples assim. Uma criança saudável parecerá uma criança saudável, e vice-versa. Não tem regra nova quando se cuida da saúde de nossos filhos. A receita é cuidado, diálogo e acampamento. O resto é tempo para amadurecer, pois o caminho da liberdade é feito de muitos nãos.
Em meio à tanta facilidade tecnológica, impor limite ainda é a melhor forma de amar.
Mande suas dúvidas, críticas e sugestões para papodefuturo@camara.leg.br.
Coluna produzida originalmente para o programa Papo de Futuro, da Rádio Câmara. Pode haver diferença entre o áudio e o texto.