Clique abaixo para ouvir o comentário de Beth Veloso veiculado originalmente no programa “Com a palavra”, apresentado por Elisabel Ferriche e Lincoln Macário na Rádio Câmara:
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4.500 metros. Um orçamento de R$ 150 milhões. Um navio que já deixou Xangai, na China, com toneladas da fundação de uma nova era nas pesquisas no Brasil. São as bases da nova estação brasileira na Antártica, o remoto continente de gelo que é o menos explorado do planeta. Estar ali, reconstruindo em alto estilo os contêineres que queimaram no acidente de 2013, tem um sentido profundamente simbólico: a Antártica é o Brasil que deu certo. Em meio a montanhas de até 6 km de altura de gelo, existe ali uma divisão geopolítica que vai determinar quem irá tomar decisões e assumir posição ativa sobre o continente que é o ventilador do planeta.
É mais que um imenso ar-condicionado, que ocupa um território até mesmo maior que o Brasil. A Antártica é o modelo de governança geopolítica que deu certo, e, a despeito das enormes reservas não exploradas de recursos minerais e de combustível fóssil, entre outras riquezas, a Antártica é onde tremula a bandeira global e colaborativa da paz mundial, onde o uso de armas, inclusive nucleares, está vetado, onde o território é um espaço de compartilhamento, e não um depósito residual de lixo, e onde pesquisadores passam a maior parte do ano tentando fugir de um frio com sensação térmica de menos 25 graus centígrados e ventos que superam mais de 300 km por hora.
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Ali, há 30 anos, o Brasil mostra que sabe fazer pesquisa, com projetos que investigam as condições extremas de sobrevivência, num ecossistema de superlativos: é preciso pedir licença para colocar os pés na Antártica para o senhor tempo, o soberano de todas decisões de quando o grande avião militar Hércules poderá pousar e quando você poderá regressar da parte mais inóspita do planeta.
A pequena base brasileira, fincada num terreno de menos de 4.500 m, abrigava nesta semana uma equipe integrada por um grupo de cineastas que gravam documentário sobre os 15 militares brasileiros que passaram o último ano ali; dois psicólogos que investigaram o efeito do isolamento nestes bravos desbravadores; e a pesquisadora paranaense Franciene, que observa o comportamento das algas utilizadas na indústria cosmética e de fármacos.
Um grupo de autoridades brasileiras sob o comando da Marinha do Brasil tentou chegar à pequena, porém, simbólica estação brasileira, mas teve de mudar seus planos porque não se sabia quando seria a próxima janela de tempo para voar de volta para casa, porque na Antártica é assim: estar ali é essencial para o Brasil, por meio do Proantar, mas é o continente quem escolhe seus visitantes e acolhe as suas pesquisas, fazendo, de todos nós, sobreviventes e testemunhas de um mundo desconhecido de gelo, que representa, para toda a humanidade, simplesmente uma nova fronteira de conhecimento.
Se você quiser comentar, escreva para nós: papodefuturo@camara.leg.br.
Coluna produzida originalmente para o programa Papo de Futuro, da Rádio Câmara. Pode haver diferença entre o áudio e o texto.