Clique abaixo para ouvir o comentário de Beth Veloso veiculado originalmente no programa “Com a palavra”, apresentado por Elisabel Ferriche e Marco Sardi na Rádio Câmara:
O quanto a internet melhorou em nossas vidas? Muita gente pode pensar: mas eu me sinto hoje muito mais aprisionado do que antes. O meu estresse é total. Antes, eu trabalhava 8 horas por dia. Hoje, são 24. Ninguém mais se desliga da tomada. A internet virou uma grande gaiola global. Os profissionais liberais agora dão expediente até na cama. E o que falar dos médicos, com as intermináveis mensagens instantâneas? E se o paciente passar mal?
Tudo pode acontecer na hora que a gente desliga o celular. Até mesmo a demissão porque você não postou mais uma notícia. Coitados dos jornalistas, que hoje trabalham dupla, tripla, quatro vezes a mesma jornada. A nova geração nem cresceu e já é incansável na construção de suas relações pessoais. É uma mensagem atrás da outra. Pena mesmo eu tenho das pobres mães, nos grupos de escola. Outro dia havia 100 mensagens do dia às 8h manhã, reclamou uma mãe. Eu me demito!
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A ligação entre o homem e máquina não pode ser a mesma do nosso corpo com o ar que respiramos. É preciso tomar fôlego para aguentar esse impulso digital, em que maior vertente é mesmo a social: o que a gente mais faz na internet é se relacionar com os outros. Outras formas mais sofisticadas de valorização da rede de computadores estão a procura de uma evolução no Brasil. Eu falo das políticas de governo digital. Ontem, encontrei uma página com um histórico bastante detalhado do que são as ações de governo eletrônico, ou seja, como os ministérios conseguem prestar serviços ao cidadão, de maneira bastante simples.
Da longa lista de decretos, portarias, resoluções, eu cheguei a uma conclusão: o governo ainda interage pouco com o cidadão. A isso chamamos interatividade, que, numa matriz desenvolvida por pesquisadores da comunicação, pode se dar nos seguintes níveis: informar, consultar, envolver, colaborar e empoderar.
PublicidadePara uma análise mais aprofundada do estágio em que o Brasil está na sua política de governo eletrônico, precisaríamos de aplicar essa matriz nas mais diversas iniciativas já adotadas, entre elas, a interoperabilidade de sistemas, o incentivo ao software livre e a interconexão de prédios e repartições públicas. Mas a cidadania digital vai muito além. De acordo com uma associação internacional para participação pública, manter sites na internet é apenas o primeiro nível de participação popular, isto é, informação. Nada mais que isso.
O segundo nível é o da consulta, em que o internauta pode comentar as ações de governo, participar de pesquisas de opinião, enquetes, grupos direcionados ou mesmo encontros públicos. No terceiro nível, o do envolvimento, o cidadão interage por meio, por exemplo, de workshops, partindo para um nível então mais sofisticado de colaboração com o poder público por meio, também, das tecnologias digitais de rede, na forma de comitês de aconselhamento, ou conselhos formados por cidadãos, membros da comunidade, para debate de temas específicos.
No cenário perfeito do uso cidadão da Internet temos o empoderamento, quando os próprios cidadãos decidem sobre as políticas de governo ou as decisões do parlamento. Uma dessas formas, é claro, é a plebiscito ou referendo popular. Atingir esse grau de cidadania não é uma questão de engenharia ou desenvolvimento de projetos de software com interfaces amigáveis, mas sim, uma decisão politica que compete aos governantes no sentido de delegar, efetivamente, o poder que detém na condução dos rumos do País.
Num país em que o orçamento participativo é visto como política partidária; os comitês de consumidores são formados por pelegos e os conselhos de fiscalização vez por outro são pegos com a boca na botija, a internet que queremos está longe daquela que temos hoje, em que o governo divulga suas políticas com botões de “gostei” ou “não gostei” e os anjos dizem amém. Apesar da aparente revolução que promoveu no acesso à informação, quando se fala em democracia direta, a internet ainda é um bebê.
Mande suas dúvidas e sugestões para papodefuturo@camara.leg.br
Texto produzido originalmente para o programa Papo de Futuro, da Rádio Câmara.
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