Clique abaixo para ouvir o comentário de Beth Veloso veiculado originalmente no programa “Com a palavra”, apresentado por Elisabel Ferriche e Lincoln Macário na Rádio Câmara:
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O post de hoje não será para dizer qual é o melhor aplicativo para você estudar para concurso ou para surfar na rede, controlar sua agenda ou ganhar muito dinheiro na net. Também não vou, aqui, promover sites de comparação de preços na internet ou ranquear as redes sociais, nem te alertar da – suposta – violação do conteúdo que você posta na sua página social por robôs que compartilham suas informações com fins comerciais, só para começar. Nosso objetivo, aqui, não é dizer que o futuro já chegou e qual série americana está mais antenada com ele. O que me impressionou nos últimos dias é um livro que diz que, num futuro muito próximo, você será escaneado como nunca foi; e tudo que pensa, sente ou deseja estará no mapa de você mesmo, que será usado para fins ainda desconhecidos.
Essas teorias conspiratórias voltam com força total pelas palavras de um israelense que preconiza o fim do livre arbítrio, uma vez que nossas escolhas serão moldadas e feitas com a ajuda de algoritmos que vão ler seu DNA, sua pressão arterial, sua função cerebral e te conhecer de um jeito que nem você mesmo conhece. Yuval Noah Harari, no livro Homo Deus – uma breve história do amanhã, diz que a Amazon vai te conhecer melhor do que você.
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Não parece assustador que essas teorias levem em conta não o poder vigilante de uma câmera externa como o espião da nova era, mas de sensores biométricos colocados em seu corpo e softwares que fazem reconhecimento facial capazes de ler suas emoções para indicar novas leituras no seu livro eletrônico? Nessa perspectiva evolucionista, ainda mais determinista que as demais, o homem não será capaz apenas de manipular a vida para criar espécies mais fortes e longevas, mas ele próprio tornar-se-á imortal. Por trás disso, a inteligência artificial e a bioengenharia, subprodutos das novas tecnologias que já revolucionaram a vida no planeta, ao banir os maiores receios da humanidade: a fome, as pragas e a guerra.
Morrem mais pessoas por conta da obesidade, diz o historiador, do que em guerras. E o grande inimigo não é o fundamentalismo no Oriente Médio, ou a superbactéria, ou miséria no Congo, mas a luta contra a morte. Segundo o autor, em 2014, 2,1 bilhões de pessoas estavam acima do peso, enquanto 850 milhões sofriam de mal nutrição.
É, sim, a bactéria criada em laboratório que irá nos matar, mas a mesma ciência que a criou poderá tornar-nos, aos poucos, abonados e seletos grupos, seres supra-humanos, praticamente imortais, através dos avanços da ciência genética, que será capaz de detectar doenças que sequer existiram. Se o caso da atriz Angelina Jolie que retirou as mamas para se proteger do legado genético de câncer de mama na família, a nossa capacidade de brincar de Deus será muito melhor explorada.
O autor sentencia: a era em que a humanidade se sentiu desprotegida diante de desastres naturais, como a Peste Negra e Peste Espanhola, acabou, e vamos encarar agora as chamadas bombas lógicas, ou seja, softwares maliciosos que plantam vírus capazes de disparas bombas do outro lado do mundo, operados à distância, implacáveis com a pseudo paz das democracias do ocidente, visando principalmente infraestruturas básicas, como os sistemas de transportes, trens e abastecimento das cidades.
Parecem derrotadas as teorias de que o mundo, em 2016, seria violento, faminto e doente. Hoje, o homem luta não contra um semelhante, mas contra a morte, este sim o grande inimigo combatido por todos, políticos, professores, advogados, atores. Todos querem descobrir a fórmula da imortalidade, colocando em xeque toda uma estrutura de valores tão abstratos quanto coletivos sobre direitos humanos, direito à vida e busca da felicidade.
No meio dessa revolução silenciosa nos laboratórios de biologia, longe dos nossos olhares leigos e assustados, tudo será colocado em xeque nesta nova ordem em que, talvez, algum dia, nem cristianismo, nem capitalismo ou democracia farão sentido num mundo de ex-humanos, e futuros ciborgues imortais, produtos do grande laboratório que é o amanhã.
Uma tia espírita e bastante espiritualizada me sentenciou no almoço de família: isso não é real, como você pode defender isso no rádio? Onde fica Deus nesta história? Defesa por defesa, cada um que viva pelas suas próprias teses, construa suas próprias crenças e lute pela própria vida. Harari fez isso com elegância, ciência e história. Mas antes de concordar ou discordar, é preciso conhecer! Para só então crer. Ou não.
Se você quiser comentar, escreva para nós: papodefuturo@camara.leg.br.
Coluna produzida originalmente para o programa Papo de Futuro, da Rádio Câmara. Pode haver diferença entre o áudio e o texto.
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