Para o analista político norte-americano Mark Weisbrot, do Centro para Investigação Econômica e Política, a nova composição demográfica dos Estados Unidos foi fator importante na vitória do atual presidente, mas não o fator decisivo: “Obama ganhou porque fez um apelo econômico popular para os eleitores da classe trabalhadora de todos os grupos raciais e étnicos, algo sem precedentes em mais de 50 anos de eleições presidenciais estadunidenses”, declarou, em entrevista dada à Carta Maior desta semana.
O presidente reeleito Barack Obama venceu estrondosamente o republicano Mitt Romney se considerarmos apenas o voto “étnico”. Entre os latinos obteve mais de dois terços de apoio; entre os afro-americanos, recebeu a adesão de nove em cada dez eleitores. Tais dados demonstram que a “América tradicional”, a preferida dos Wasp (Brancos, Anglo-Saxões e Protestantes) está desaparecendo. Contudo, a campanha democrata à presidência foi definitivamente vitoriosa porque conseguiu convencer a maioria dos eleitores norte-americanos de que para Romney e os republicanos só importam os ricos.
Segundo Weisbrot, esse resultado estava previsto pelas pesquisas eleitorais do Princeton Electin Consortium e do Fivethirtyeight.com, logo não foi uma surpresa, a não ser para a maioria dos meios de comunicação e especialistas que fingiam haver uma disputa acirrada. Eu mesma, dois dias antes das eleições, quando ouvi pelo rádio que o New York Times iria apoiar Obama, percebi que a coisa era uma espécie de fato consumado.
Mas afinal, por que Obama venceu, apesar de todos os pesares? O fato é que a demografia dos Estados Unidos mudou e Romney perdeu feio entre os latinos – 75% votaram em Obama – e afroestadunidenses, que deram 93% dos votos ao presidente. Romney teve grande maioria entre os eleitores brancos, mas não o suficiente para ganhar, especialmente nos estados em disputa. Ainda conforme nosso analista, a campanha de Obama teve tanta publicidade quanto a dos republicanos, mas Obama e os democratas se saíram melhor na campanha das ruas, portanto o grande capital de direita não foi decisivo nestas eleições.
Mas em termos de política interna, dado o impasse no Congresso, com uma maioria republicana na Câmara dos Representantes e a falta de liderança de Obama, as diferenças não serão significativas. Existirão melhores chances de haver uma reforma na lei dos imigrantes e a concretização do plano de seguro-saúde de Obama, algo que irá beneficiar cerca de 30 milhões de americanos e custos mais baixos para outros milhões. E haverá mais regulação financeira.
Dado o quadro político geral, na pior das hipóteses, é possível que Obama faça cortes na Seguridade Social, no Medicare e outros gastos sociais para barganhar com os republicanos a aprovação do orçamento e, nesse caso, será preciso uma grande pressão popular para impedir que Obama aceite tais mudanças.
As más notícias ficam mesmo por conta da política externa, a respeito da qual não se deve alimentar esperanças: desde o começo, Obama optou por se concentrar na política interna e não arriscar capital político na externa. Isso significa uma continuidade da geopolítica da era Bush. Infelizmente, uma guerra contra o Irã permanece no horizonte em razão das hostilidades e aumento de tensões no Oriente Médio. Quanto à America Latina, a política atual também prossegue sob o comando do Departamento de Estado, influenciado pelos direitistas no Congresso. Portanto, novamente a mesma política de Bush para os próximos quatro anos.
Claro que, a longo prazo, o dinheiro ainda corrompe os políticos ianques – “O povo votou em Obama pela mudança, mas não ganhou muito em troca. Nesse sentido, nossos políticos são mais corruptos que os de muitos países da América do Sul, onde – apesar de formas de corrupção piores que aqui – a população tem conseguido votar por mudanças progressistas nos últimos anos e recebê-las”. (grifos meus)
E Weisbrot conclui: “Portanto, mais importante que uma reforma no sistema de financiamento de campanhas nos Estados Unidos, seja uma reforma no sistema de votação. Mais de 40% dos estadunidenses não votaram nestas eleições, e os republicanos, tal como são atualmente, mal existiriam como um partido se tivéssemos leis e procedimentos de votação menos restritivos.”
Ou seja, no plano interno, a Direita Pitbull e o Tea-Party governam de costas e sempre contra os interesses da população dos EUA e esta sabe disso. A prova é o resultado das urnas.
Quanto à política externa, está muito além do poder de Obama desfazer contratos com a Halliburton, a Lockheed ou a Carlyle e Gilead, isto é, as mega-corporações que constituem a máquina suicida dum capitalismo de desastre que movimenta geopoliticamente, dentro e fora dos EUA, um governo corporatista oco, sem quadros, movido à Ideologia Neo-Conservadora do Dinheiro.
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