A infelicidade tomou conta do Brasil, segundo o ranking do Instituto Gallup em parceria com a ONU e fundações internacionais (era o 15º país mais feliz em 2015; passou para a 32ª posição agora – ver Cida de Oliveira, 22/3/19). Crises econômica, política, moral, ética, tudo explica a queda. Mais: desemprego, trabalho precarizado (sem garantias), fome, miséria, perda de status social, insegurança jurídica, corrupção, revolução tecnológica que privilegia a concentração da riqueza, uso vulgar da internet, ódio, violência e por aí vai.
Em termos globais (no Ocidente) vivemos o fim de uma era (a era da modernidade). Em termos locais, o fim de um modelo de civilização (Civilização Atlântica), que está na UTI.
O predomínio é dos discursos, não das ações, não da vida (é pura sustentação da dominação). O valor da vida (humana, da natureza, dos animais) se evaporou. A ilusão tomou o lugar da verdade. Nenhuma civilização se sustenta o tempo todo sobre ilusões e falsidades.
Como já disse Nietzsche, a razão, “um sonho antropocêntrico de controlar a vida”, está desabando (dia após dia). As instituições não se entendem. As desavenças recrudescem. Os ataques se intensificam.
O Ocidente, nos últimos 300 anos, teve progressos em relação às liberdades. Mas não cuidou do capital mais importante que sustenta toda civilização: o capital humano, a ética e a moral entendida como solidariedade. Tudo está virando ruínas. E estão tirando dos povos até mesmo a ilusão de viver preponderantemente de acordo com a modernidade. Aí vem o discurso que diz que temos que viver de acordo (totalmente) com a Idade Média.
Isso gera descompasso civilizacional. A ilusão de progresso da modernidade (a ciência vai resolver todos os problemas humanos) está sendo desmoronada. Ocorre que a humanidade se tornou dependente dela, como se ela fosse capaz que nos proporcionar um sopro de vida ou, ao menos, de esperança. O retorno pleno ao modo de vida da Idade Média tira a perspectiva de futuro. Daí nasce a infelicidade em todos os cantos do mundo ocidental.
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