Veja tudo, sinta um pouco, faça alguma coisa, frase atribuída ao Papa João XXIII, colhida em um número da revista Realidade do final dos anos 1960
Inauguro minha participação neste valioso espaço do Congresso em Foco. Estar presente na internet e nas redes sociais é a oportunidade de exercitar uma prática democrática e de ser cidadão ativo em um processo de reflexão coletiva que pode valorizar o ser humano em si mesmo e no ambiente em que vive.
Nunca me esqueço de uma frase ouvida de uma freira e professora de um curso superior de Ciências que eu insistia em frequentar em Muriaé (MG), em um tempo que já vai longe, 1974. Dizia ela no decorrer de uma aula de Sociologia que “o maior pecado era a omissão”; aquilo me calou fundo e nunca mais esqueci. Na minha interpretação, o conceito de pecado não era importante, mas sim o de que a omissão era um comportamento indevido. Tenho comigo que a boa conduta tem que se estribar sempre na explicitação de posições com franqueza. Mas não só isso; ir além, não apenas opinando, mas tomando atitudes e providências perante os desafios que se apresentam em nossa história de vida.
Toda a minha formação educacional, desde o primário no Grupo Escolar Antonio Wellerson e o secundário no Colégio Tiradentes (na querida Manhuaçu) até as especializações, foram feitas gratuitamente em escolas públicas. Sou formado em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Fiz mestrado na Universidade de São Paulo (USP) e doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor universitário (apesar de estar inativo há algum tempo). Recebi muito do meu país, das administrações públicas e de muitos abnegados funcionários e professores. Nesta condição, sinto-me no dever de retribuir para a sociedade um pouco do que recebi. Não se trata, de maneira alguma, de pedantismo e sim de querer ser um cidadão partícipe do mundo.
A frase de João XXIII, transcrita na introdução deste primeiro artigo, é a referência-chave que guia minha prática cotidiana. Recordo-me bem de ter lido essa máxima naquela marcante revista Realidade, editada em uma época difícil, no auge do regime militar.
Portanto, vamos ver e escutar o que está ao nosso redor e mesmo o que está mais além e, a partir dessas sensações, vamos pensar e escrever para explicitar valores, conceitos, críticas e propostas. Como sabiamente registrou certa vez Guimarães Rosa, o animal satisfeito dorme; o motor de nossa não omissão é a indignação, a inquietude pessoal que nos leva a sempre olhar e questionar e não ter medo de remar contra a corrente. Enfrentar o status quo e oferecer alternativas de visão. Talvez, com essa disposição, possamos contribuir na formulação de idéias, iniciativas e ações que, de uma forma ou de outra, estimulem o debate, levem a novas argumentações e, ao final, quem sabe, auxiliem o bem estar coletivo e individual.
Escreverei de tempos em tempos sobre os temas para os quais mais me volto, a partir de meu convívio profissional, atuação política e formação técnica, mas também, e sobretudo, sobre o mais que nos toca e nos sensibiliza.
O Brasil vive um momento muito especial onde se conjugam a consolidação de nosso regime democrático com uma gestão governamental exitosa, que quebrou paradigmas vetustos de um padrão de crescimento perverso e introduziu alternativas que têm permitido uma forte modificação na distribuição de renda e de riqueza.
Entretanto, nem tudo são flores. Viver é gostoso e perigoso, como também chamou-nos a atenção o insuperável Guimarães Rosa. Há grandes desafios a serem enfrentados em nosso país e há cotidianamente uma realidade nacional e mundial plena de acontecimentos e transformações que ora nos choca e entristece, ora nos emociona e alegra. É neste mundo que estamos e é nele que precisamos arregaçar as mangas e dar a nossa modesta contribuição. Portanto, vamos juntos escrever, propor, argumentar e sonhar!