Cláudio Versiani, de Nova York*
A expressão lame duck significa, entre outras coisas, uma pessoa ineficiente. No jargão da política norte-americana também quer dizer alguém que não conseguiu se reeleger e ainda continua no cargo. Pode ser um deputado, um senador, um governador ou o presidente. Desde George Washington, o primeiro presidente, que só é permitido ao chefe da nação dois mandatos de quatro anos cada. A exceção foi Franklin D. Roosevelt, que conseguiu quatro mandatos seguidos (1933-1945), mas que morreu no começo do quarto, em 1945.
Normalmente, o segundo mandato de um presidente é pior que o primeiro. Reeleger-se já é uma tarefa dura. Nixon foi obrigado a renunciar ao segundo período. Reagan, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato 69 dias depois de empossado, teve de enfrentar o escândalo conhecido como Irã-contra no segundo mandato. Sobreviveu também. Clinton fez um bom segundo governo, entretanto, correu o risco do impeachment por conta do caso com a estagiária Monica Lewinsky.
É no último ano, quando o presidente já se prepara para sair de cena, que ele começa a ser chamado de lame duck. Pois bem, a expressão está de volta na boca dos americanos. O presidente George Walker Bush, que imaginou ter um grande capital político nas mãos, enganou-se e enganou os outros. Era tudo blefe, Bush está na bancarrota política, suas fichas sumiram. Mas os seus adversários não podem comemorar. Ele ainda tem alguns ases escondidos na manga. Quando a coisa aperta dentro de casa, a solução aparece na política externa.
O alvo pode ser a Coréia do Norte ou o Irã, que, juntamente com o Iraque, formam o “eixo do mal”. Ou pode ser a Síria, que saiu do Líbano, mas ainda está lá. Os americanos também acusam o governo de Damasco de não controlar a fronteira com o Iraque e deixar um corredor aberto para os insurgentes. George Bush avisou: o governo sírio não pode mais desestabilizar o Líbano. A ordem é parar de exportar violência e começar a importar democracia.
Guerra não é nenhuma novidade para os EUA. Afinal, este país passou por uma guerra civil que durou quatro longos anos, de 1861 a 1865, e que produziu 560 mil mortes entre os militares e quase um milhão de mortos na população civil. Depois da primeira e da segunda guerras mundiais, o país ainda se meteu em conflito na Coréia, no Vietnã, no Afeganistão e, por duas vezes, no Iraque. Do Afeganistão e do Iraque os americanos ainda não conseguiram sair.
Discursando para viúvas de soldados no dia 25 de outubro, Bush disse que cada morte é dolorosa, mas que a melhor maneira de honrar os mortos é cumprir a missão no Iraque, estabelecer a paz e espalhar a liberdade. E disse mais: que essa guerra vai requerer mais sacrifício, mais tempo e mais determinação. Para bom entendedor, bastou. Aliás, o Pentágono aumentou “temporariamente” o contingente americano no Iraque de 138 mil para 160 mil. Vêm mais mortos por aí. Desde a última vez que Bush falou em missão cumprida, em maio de 2003, mais de 1.800 soldados americanos morreram. Quantos iraquianos mortos? Ninguém sabe. As autoridades americanas não gostam de contar os mortos do outro lado.
Portanto, não dá para imaginar que Bush esteja politicamente morto. Agora, que o homem está cada dia mais isolado é uma constatação óbvia. Para 57% dos americanos, o presidente não é honesto, de acordo com a pesquisa realizada para a agência AP na semana do dia 9 de novembro. Uma outra pesquisa mais recente, publicada pela revista Newsweek, trouxe números ainda piores: 68% dos americanos estão descontentes com o rumo do país. Questionados sobre a lisura da dupla presidencial, 42% dos entrevistados responderam que consideram Bush honesto e ético. Em relação a Dick Cheney, a resposta foi vergonhosa: só 29% crêem na honestidade do vice-presidente.
A piada do momento é a seguinte: como você sabe que George Bush está mentindo? É simples, é só ver se os seus lábios estão mexendo. A anedota é boba, mas revela o pensamento de mais da metade do povo norte-americano.
O presidente George Walker Bush está sentado numa cadeira ou assento quente. Juntando-se as expressões, dá para perceber que Bush é um pato manco sentado numa cadeira quente, como disse Robert, meu amigo novaiorquino. Se Robert fosse brasileiro, diria simplesmente que a batata de Bush está assando. O segundo mandato de Bush, o filho, está terminando três anos antes do prazo, a não ser que apareça mais uma guerrinha por aí.
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