Sylvio Costa
1968, mostrou o jornalista Zuenir Ventura no livro famoso, é um ano que até hoje insiste – ou, até pouco tempo atrás, insistia – em não terminar. O dia de hoje também promete repercutir durante muito tempo. Não apenas pela posse dos novos congressistas, marcando o início de mais uma legislatura. Mas, sobretudo, por causa da definição das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado e dos possíveis efeitos que ela pode ter.
Confirmada a eleição dos parlamentares apontados como favoritos para presidir as duas casas legislativas – o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) –, o presidente Lula iniciará seu segundo mandato num cenário relativamente confortável.
Terá, no entanto, algumas feridas para sarar, especialmente no que diz respeito ao relacionamento entre o PT e dois partidos da base governista, o PSB e o PC do B, velhos aliados dos petistas e principais patrocinadores da candidatura de Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Por trás da divisão, o jogo sucessório de 2010. O PSB, empenhado em embalar seu pré-candidato, o ex-ministro Ciro Gomes (CE), que hoje será empossado deputado federal. O PT, tentando afirmar sua força partidária e ser capaz de ter voz ativa no segundo governo Lula e na construção de um candidato presidencial do partido.
A eventual vitória de Aldo, do mesmo modo, dificilmente seria absorvida com rapidez pelo PT, dificultando assim a composição do segundo governo Lula. Que, não esqueçamos, aguarda a definição das Mesas para anunciar o ministério.
O desfecho da disputa no Senado e na Câmara também lançará luz sobre o futuro das relações entre o PSDB e o PFL, que não andam boas. Alegando que já haviam assumido antes compromisso com Aldo, os pefelistas negam apoio ao candidato tucano na Câmara, o deputado Gustavo Fruet (PR), que busca o voto de governistas apresentando-se como o nome mais adequado para recuperar a credibilidade da instituição.
No Senado, em contrapartida, caciques do PSDB até o último momento tentaram convencer o líder do PFL, José Agripino (RN), a desistir de ser candidato, apoiando Renan. Fracassaram, até porque Agripino está convencido de que vários dos seus interlocutores subestimam o vigor de sua candidatura.
Seja nas hostes da oposição ou do governo, dá-se como improvável a vitória de Agripino ou, mais ainda, de Fruet. Mas os votos deste pode determinar a realização ou não do segundo turno na Câmara (com o qual Aldo conta para derrotar Chinaglia, que luta para ganhar no primeiro turno). E uma vitória apertada de Renan seria um mau sinal para ele e o governo. De uma coisa ambos já sabem: diferentemente da Câmara, onde a base governista tem em tese maioria folgada, oposição e governo possuem bancadas quase do mesmo tamanho no Senado.
Enfim, sobram razões para você ficar ligadíssimo no que se passará hoje no Congresso Nacional. Para facilitar sua vida, acompanharemos cada lance para contar, em tempo real, a história deste dia que terá grande impacto no futuro do segundo governo Lula, dos principais partidos políticos e, naturalmente, do Parlamento brasileiro.