Terminada a Copa do Mundo na África do Sul, começa, afinal, para valer o nosso campeonato eleitoral nestas terras tupiniquins. Valendo-se da comparação com o Mundial de Futebol, podemos dizer que a pré-campanha equivaleu à fase classificatória da Copa. Os candidatos se estudavam, somavam pontos, jogavam de olho na tabela. Na semana passada, iniciada a campanha propriamente dita, é como se eleição tivesse entrado na fase do mata-mata. A partir de agora, qualquer erro pode ser fatal. O jogo é para valer. Quando se iniciar a campanha em rádio e TV, estaremos nas semifinais. No páreo, realmente aqueles que tiverem firmado a sua candidatura.
O que torna especialmente interessante o campeonato político é que tudo nele depende da percepção subjetiva do eleitorado. Se o lance foi gol ou bola fora, o eleitor é que dirá a cada momento. E nós – e os políticos e seus marqueteiros – iremos monitorando isso à divulgação de cada pesquisa eleitoral.
Um dado que mostra o quanto pode ser surpreendente essa percepção do eleitorado é o panorama relatado pelas pesquisas no início dessa fase de mata-mata. Tudo fazia crer que iniciaríamos este período com uma vantagem clara da candidata do PT, Dilma Rousseff, sobre José Serra, do PSDB. Dilma vinha numa escalada ascendente, fulminando muito rapidamente a vantagem de Serra. Completava o quadro a reação de Serra e seus aliados, que pareciam ter sentido o golpe. Enquanto Dilma e os petistas pareciam eufóricos, Serra parecia perdido, melancólico, reativo.
O auge do bate-cabeça foi a história da escolha do vice. Pressionados pelo mau momento nas pesquisas, precipitaram a opção por Alvaro Dias sem consultar o principal parceiro, o DEM. Quase provocaram o rompimento da aliança. Aos 45 minutos do segundo tempo, no meio da convenção do DEM, no último dia do prazo previsto na legislação eleitoral, sacaram um desconhecido da grande maioria do eleitorado, o deputado Índio da Costa, forçando uma identificação com o projeto ficha limpa maior do que o recomendável.
Antes disso tudo, Dilma aparecia nas pesquisas na frente de Serra. Chegou a abrir cinco pontos de vantagem. Era de se acreditar que essa trapalhada toda pelo lado de Serra aumentasse essa diferença em favor de Dilma. Mas o que se verificou foi Serra reaproximar-se. Hoje, há uma situação de empate mesmo entre os dois. E a conversa é entre eles, porque Marina Silva permanece estagnada abaixo.
No domingo (11), a cúpula da campanha de Serra reuniu-se em São Paulo para avaliar o momento da campanha. A principal constatação saída da reunião é de que o momento anterior, da evolução de Dilma, marcou a etapa em que a candidata do PT passou de fato a ser conhecida do eleitorado, e reconhecida como a candidata da situação. Se isso fez crescer a sua intenção de voto, por outro lado começou a fazer cair sobre ela a reação do eleitor que sempre se opõe a Lula e ao PT. O recrudescimento dessa reação, identificando-se que o alvo dela era Dilma, deu gás a Serra quando tal gás não era tão esperado.
Esta semana, a turma de Serra busca calibrar essa situação, tentando ampliar as intenções de voto no tucano, a partir de sua agenda de viagens. Serra explorará o Nordeste, onde é maior a vantagem de Dilma sobre ele. A agenda está sendo montada de modo a conciliar as demandas políticas com as necessidades apontadas pela equipe de marketing da campanha.
A chave dessa agenda é evitar saias-justas que aconteceram com Geraldo Alckmin em 2006. Na ocasião, Alckmin viu-se na situação de não ter em vários estados candidatos diretamente vinculados à sua chapa em que ele pudesse colar de forma natural sua candidatura. A ideia é que os candidatos a governador nos estados sejam os cicerones das visitas de Serra, tornando, aos olhos do eleitor, a visita uma extensão natural da briga eleitoral naquele estado. Serra viajará para onde houver um candidato do PSDB, do DEM, do PPS ou do PTB que, de fato, esteja vinculado à sua candidatura. Que não tenha que dividir palanques com Dilma ou Marina por conta das conveniências regionais.
Em eleições passadas, a verticalização imposta pela Justiça Eleitoral tornava essa tarefa mais fácil. As coligações estaduais tinham de, obrigatoriamente, seguir as coligações nacionais. Agora, vale tudo, o que torna a montagem de tais agendas algo bem mais complicado. Tome-se por exemplo o que acontecerá em Roraima. O líder do governo no Senado, Romero Jucá, estará no palanque do PSDB e do DEM. Se Serra for ao comício do governador Anchieta Júnior, candidato à reeleição, onde estará Jucá, o candidato a senador na chapa?